segunda-feira, 21 de março de 2011

Do passado para o futuro.

Rubens Minelli era um visionário. Na década de 1970, logo após o Brasil se tornar tricampeão mundial com um time baseado na técnica e na organização tática dos talentos, percebeu que o próximo passo evolutivo do futebol estava na marcação e na forte preparação física. Além disso, entre jogadores de nível técnico similar, costumava escolher o de maior estatura. O resultado dessa filosofia foi a conquista dos títulos brasileiros de 1975 e 1976 pelo Internacional, e do nacional de 1977 pelo São Paulo.
O tempo passou e hoje não são poucos os treinadores que se espelham em Minelli. Fã declarado, Muricy Ramalho frequentemente se refere ao treinador paulistano como o modelo que segue. Prático e trabalhador, Muricy sabe que para se dar bem no Brasil é preciso vencer sempre. Pouco importa a maneira, pois não há tempo para implantar qualquer filosofia que demande tempo. Mal comparando, é um Capello brasileiro. Ou seja, jogar bem é algo secundário.
Não por acaso, o agora ex-técnico do Fluminense disputou os últimos seis títulos nacionais, conquistando quatro deles. Por outro lado, o desempenho de seus times na Libertadores da América nunca é o mesmo, o que costumeiramente é interpretado como sendo resultado da dificuldade de Muricy em fazer seus comandados praticarem o desejado futebol organizado e de pegada no início de cada temporada. É só no decorrer do ano, com mais tempo para trabalhar, que seus times começam a engrenar.   
É exatamente pelos motivos acima citados que eu temia por sua ida à Seleção Brasileira. Se a maior parte das críticas a Dunga recaia sobre a maneira como o tetracampeão armava sua equipe e a outra parte sobre seu estilo rude, então havia pouco o que justificasse os pedidos por Muricy. Diferente dos clubes, é quase uma obrigação que o Brasil não só vença como jogue bem. Nesse aspecto, Mano Menezes era mesmo o nome mais indicado.
Curiosamente, essa circunstância é revivida agora no Santos. Em busca do futebol que encantou o País no primeiro semestre de 2010, a diretoria santista pensa em Muricy como o nome capaz de resgatar aquele jogo alegre e ofensivo. Ledo engano. Se a ideia fosse consertar a defesa instável do alvinegro, faria mais sentido. Muricy não se importaria em alterar o sistema tático para o anacrônico 3-5-2 se achasse que isso resolveria o problema da defesa. Mesmo que isso signifique sacrificar o criativo meio-campo do time. Agora, se o pensamento é resgatar o “DNA ofensivo” do Santos, trazer Muricy é perda de tempo. Não trará ofensividade, nem tentará favorecer o futebol espetáculo.
Mesmo sendo um vencedor como Rubens Minelli, Muricy não é um visionário como o seu mentor. Se o futebol da década de 1970 carecia de marcação e preparação física, o de hoje precisa de mais técnica, uma vez que em termos de preparação tudo se nivelou. A seleção da Espanha e o Barcelona mostram que é perfeitamente possível aliar marcação forte com técnica, posse de bola e fantasia. Itens desprezados por muitos treinadores brasileiros da atualidade, mas que pode muito bem ser a chave para o futuro do esporte.
Crédito da Imagem: Gazeta do Norte

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