sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Corinthians, o time mais brasileiro

Como era imaginado, Corinthians e Chelsea farão a final da Copa do Mundo de Clubes da FIFA no próximo domingo. Embora o time londrino seja ligeiramente favorito no confronto, o Timão entrará no gramado do Estádio Internacional de Yokohama trazendo um elemento que poderá ser a chave do confronto: Sua coesão tática. Ao contrário de um passado em que os times brasileiros tinham como marca registrada a técnica e a habilidade, o Corinthians se destaca pela maneira como consegue adiantar sua marcação, diminuir os espaços e jogar no erro do adversário. Com a bola, a equipe comandada pelo técnico Tite encontra-se mais ou menos na média dos principais times do País.
Gustavo Grabia, jornalista argentino e autor de “La Doce”, livro que conta a violenta história dessa organizada do Boca Juniors, dias depois da vitória do Corinthians sobre os Xeneizes foi sincero ao dizer que o Corinthians não era um grande time, mas um bom time. Uma equipe capaz de executar a risca todas as ações determinadas por seu treinador, mas sem tanto brilho individual. Ou como definiu o técnico do Santos, Muricy Ramalho, o Corinthians não é espetacular, embora tenha um “objetivo forte”. Em outras palavras, o Corinthians é competitivo, mesmo sem ser brilhante.
O mais curioso é que ver sua equipe atuando como o campeão sul-americano é o sonho de nove entre dez treinadores brasileiros. Basta ouvir as coletivas e a toda filosofia corintiana estará lá: intensidade, marcação, diminuição de espaços, erro do adversário, tudo como manda a cartilha dos nossos professores. O grande mérito está em saber executar essas diretrizes como faz o Corinthians. Não são muitos os que conseguem. O maior pecado é a pouca preocupação com o futebol bem jogado, com a bola trabalhada e com a colocação da técnica em primeiro plano, outra marca registrada, mas de um futebol brasileiro pouco avistado em nossos campos.
Não por acaso, a imprensa internacional, sobretudo a britânica, não se impressionou com a “novidade” chamada Corinthians. Para eles, ver equipes cumpridoras é algo corriqueiro na Europa. Basicamente, assim vivem os médios e pequenos times do Velho Continente. Muita aplicação e transpiração, pouca inspiração. Inspiração que um dia sobrou por nossas bandas, mas que, erroneamente, foi trocada e não somada às exigências táticas e físicas do futebol moderno. Enquanto essa reinterpretação histórica não ocorre, o Corinthians seguirá como espelho para as equipes nacionais. Um reflexo de algo bem feito, mas que não espelha o que gostaríamos de ser.
Imagem: AFP

4 comentários:

Marcus buiatti disse...

irretocável o texto.

Também acho um time sem encanto com a bola, embora contra o Al Ahly jogou muito muito abaixo do que sabe jogar (não é tão opaco quanto pareceu.

Agora é torcer pra surgir um time brasileiro que una esta capacidade tática do Corinthians com o brilho e encanto natural do futebol brasileiro, com a bola. Tem faltado leitura de jogo aos nosso atletaas, mesmo os mais habilidosos e tecnicos.

Quem sabe o Fluminense? é um time que poderia unir as duas coisas, mas com Abel fica aquém do seu potencial.



Lui disse...

Não é de hoje que o futebol brasileiro é assim. SPFC e Inter venceram nesses méritos que você falou, porém sem jogar nada e usando esse artifício somente nas suas finais. Corinthians faz isso melhor que eles e em todo jogo. Mas acho o que o time joga um bom futebol quando tem a bola, e não apenas regular como o resto do país.

Michel Costa disse...

É exatamente o que eu penso, Marcus. O problema é que em vez de ensinarem os craques a marcar, os técnicos brasileiros foram pelo caminho menos trabalhoso que foi o de substituí-los por quem marca. Até a provável saída de Douglas do time do Corinthians para a final de amanhã está mais ligada a sua pouca capacidade de marcação do que a uma intenção de melhora do jogo coletivo do Corinthians. Como escrevi no Twitter, este Corinthians parece inspirado na Juventus de Capello, enquanto as referências atuais apontam para Barcelona, Dortmund e outros.

Michel Costa disse...

Sinceramente não consigo ver um grande futebol nos pés corintianos, Lui. Sempre achei um time normal com posse de bola abaixo de times medíocres como o Flamengo de 2012. Pra mim, o último time brasileiro a jogar um futebol capaz de encantar e vencer foi o Santos de 2010. Aquele time precisava ajustar melhor sua marcação, mas a ideia de jogo era maravilhosa. Quando Muricy chegou à Vila, tudo isso mudou. A marcação melhorou em parte, porém, o time se tornou um Neymar FC. Sem o atacante, o Santos se torna abaixo de comum.