quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Apenas diferentes

A festa da torcida do Corinthians no embarque da delegação para a disputa do Mundial de Clubes da FIFA e a presença de 20 mil torcedores do clube no Japão mostra o quão importante é esse torneio para um time brasileiro. Por aqui, seguimos a lógica de que a competição é o ápice para uma agremiação, uma Copa do Mundo dos clubes, mesmo quando ainda não possuía a chancela oficial e reunia apenas os campeões de América do Sul e Europa.
Seguindo essa lógica, os maiores clubes brasileiros projetam vencer ou ficar bem classificados no Brasileiro, ou levantar a Copa do Brasil, para então conquistar a Copa Libertadores e alcançar a tão sonhada vaga no Mundial. Um raciocínio bastante lógico, mas que não é acompanhado pelos times europeus, em especial os ingleses, que não encaram o Mundial como o mesmo interesse. Ressalta-se a peculiaridade dos ingleses, uma vez que não são todos os países do Velho Continente a encarar o Mundial de Clubes com desdém. Para ficar em dois exemplos, o Milan desfilou em carro aberto após o título de 2007, enquanto Guardiola chorou copiosamente quando foi campeão em 2009 com o Barcelona. Italianos e espanhóis sempre deram relativa importância.
No entanto, como mostram as notícias que vêm de Londres, o interesse da imprensa britânica, dos torcedores do Chelsea e até da comissão técnica dos Blues é bem pequeno. Poucas referências nos jornais, pouca informação entre a torcida e para o novo técnico Rafael Benítez o foco está no apagar do “incêndio” provocado pela saída de Roberto Di Matteo e sua própria contratação. Até o embarque para o Oriente, todas as atenções estarão voltadas para temas mais urgentes. A maneira como o Chelsea se comportará na competição ainda é uma incógnita. Afinal, pode acreditar que um título faria bem aos ânimos e se entregar em campo. Por outro lado, pode confirmar o desinteresse e atuar de maneira apenas protocolar.
Sem dúvida, Corinthians e Chelsea vão encarar o Mundial de maneira diferente. Cada um dentro de sua própria realidade e vivendo as particularidades de seus atuais momentos. Não há maneira certa ou errada. Há apenas a constatação de visões diferentes sobre o mesmo torneio. Enfatizar a todo o momento o desinteresse dos ingleses como uma forma de desmerecer um eventual título corintiano é apenas uma forma intelectualmente desonesta de desvalorizar a conquista alheia. Bem mais nobre seria contextualizar a maneira como as principais ligas lidam com a disputa do torneio. Mas isso deve dar trabalho.           
Imagem: talkSPORT

12 comentários:

Arthur Barcelos disse...

Vale ressaltar que o mês de dezembro é o período mais "puxado" do calendário para os clubes ingleses. Chegam a jogar 4 ou 5 vezes num curto período. E pelo Mundial ser disputado justamente nesse período, imagino [não sei como os clubes pensam] que o enfrentem mais como um "empecilho".

Michel Costa disse...

Também passa por aí, Arthur. Inclusive, o Rafael Oliveira tratou do tema em seu blog e lembrou como o mês de dezembro é complicado para os clubes ingleses. Aqui: http://tinyurl.com/cgrx3nc

Arthur Barcelos disse...

Ótimo texto.

Fabiano Dias disse...

Dois pontos a serem analisados: premiação e calendário, é isso mesmo, calendário europeu apertado nessa época de ano.

Só vai mudar/aumentar o interesse dos clubes europeus pelo Mundial de Clubes quando esse torneio render mais dindin para os seus participantes e consequentemente, muito dindin para o ganhador. Se a FIFA aumentar as cotas/premiações para os clubes, com certeza, os clubes europeus vão querer até mais vagas para disputar o Mundial.

E sobre o calendário, a dona FIFA poderia estudar uma outra data ou até mesmo continuar sendo em dezembro, mas fazer com os campeonatos dos clubes participantes parassem também, assim como é para ser na Data-FIFA. É claro que a UEFA iria chiar muito.

Michel Costa disse...

Aumentar a premiação certamente seria um bom incentivo, Fabiano. Sobre a mudança das datas, cheguei a comentar certa vez que o Mundial poderia ser mais aceito se ocorresse durante a pré-temporada europeia. Assim, os clubes brasileiros que participassem não precisariam abandonar o Brasileiro como fazem atualmente, pois disputariam a competição da FIFA logo após o fim da Libertadores.
O que acha?

Fabiano Dias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fabiano Dias disse...

Acho interessante, porém, tem anos, principalmente de Copa do Mundo, que a Libertadores tem as suas finais disputada após a Copa, isso traria alguma dificuldade para a Conmebol, justamente por não termos um calendário adequado ao europeu. A Libertadores teria que acabar no máximo em maio todos os anos. E todos os campeonatos na América do Sul teriam que deixar algumas datas vagas após o Mundial de Clubes para repor já que nossos campeonatos estariam rolando ou iniciando em alguns países daqui que já adotam o calendário europeu.

Michel Costa disse...

Certamente a Libertadores teria de adequar suas datas. E isso também vale para o campeão africano e para a indicação do representante japonês. No caso da América do Sul não seria tão complicado, afinal a Libertadores não tem um calendário como a da UCL, pois não concentra cada rodada numa só semana. Para quem gosta de assistir a muitos jogos é ótimo, mas se a ideia é estruturar a competição, então passa a ser um problema.

Fabiano Dias disse...

Em relação aos outros continentes: CONCACAF e Oceania já adotam o calendário europeu; na África não adota, mas não teria muito problema, pode ser o campeão do ano anterior, já suas finais ocorre em novembro; o maior problema seria a Ásia mesmo, pois tem um tal de Ramadã nos países com predominância mulçumana que ocorre justamente entre os meses julho/agosto, será que eles aceitariam jogar nesse período? A Liga dos Campeões da Ásia já é adaptada para não ter jogos nesse período.

Michel Costa disse...

O problema com o Ramadã é só mais dos que essa mudança poderia trazer, Fabiano. Mas vejo que a questão central deveria ser retirar o Mundial de um período tão complicado para os clubes. Outra coisa que nunca gostei é esse formato utilizado pela FIFA. Não acho legal o privilégio dado à América do Sul e Europa. Seria interessante ver oito times (haveria o último campeão, talvez) divididos em dois grupos de quatro com os dois melhores se classificando. Mas, pelo visto, isso é só devaneio... hehe

Fabiano Dias disse...

Devaneio? Eu já faria com 9 clubes mesmo e a distribuição de vagas seria a seguinte: 2 vagas para a Europa, 2 para a América do Sul, 1 para a Concacaf, 1 para a África, 1 para a Ásia, 1 para a Oceania e a última sempre para o país-sede. A partida de abertura seria sempre com o campeão do país-sede contra o campeão da Oceania decidindo a última vaga para a fase de grupos, onde ficariam 2 grupos de 4, e o campeão de cada grupo faria a final, igual a primeira edição.

Em relação ao calendário atual, esse período é só complicado para os clubes ingleses e franceses mesmo, pois eles disputam 3 competições domésticas (Liga, Copa da Liga e Copa da Ingleterra/França) por temporada, sendo que o restante disputam apenas 2 competições, portanto ainda tem datas para repor ao longo da temporada. E outra questão é o número de clubes em cada liga. O Platini já propõs para que todas as Ligas europeias tenham no máximo 18 clubes para diminuir datas. Isso ajudaria também para continuar a ter o Mundial em dezembro.

E outra questão que poderia ajudar nisso é o rodizio de sedes. Em cada ano seria em um continente.

Michel Costa disse...

O planejamento inicial era que o Mundial de clubes fosse itinerante, mas, pelo visto, o Japão fez valer sua tradição e interesse pela competição. Mas agora que o Brasil está prestes a inaugurar vários estádios, não seria nada mal trazer a competição pra cá. Sobretudo para as arenas que têm tudo para se tornar elefantes brancos após a Copa. Melhor do que transferir jogos avulsos do Brasileirão para elas.