sábado, 18 de maio de 2013

As definições de modernidade foram atualizadas

Participando do programa Bate-Bola 2 há alguns dias, o folclórico Valdir Bigode foi mais um a comentar sobre a polêmica da desatualização dos técnicos brasileiros quando disparou: “Se ganha está atualizado, se perde está desatualizado.” Na declaração simplória estava a constatação de que o ex-atacante não concordava com a ideia de atraso dos profissionais locais, o que fez este blogueiro ter uma rápida conversa via Twitter com um jornalista que estava no programa. Logicamente, ambos discordando de Valdir.
O curioso dessa história é que muitas vezes é possível notar que nem todas as pessoas que comentam sobre esse atraso têm condições de avaliar esse problema mais a fundo, embarcando apenas na onda de críticas que varre a classe em questão. Talvez o maior exemplo disso sejam as observações sobre o bom trabalho do técnico Cuca à frente do Atlético Mineiro. É muito comum ouvirmos frases do tipo “o Corinthians e o Atlético são os times que praticam o futebol mais moderno do Brasil”. Sobretudo no caso do Galo, não poderia haver equívoco maior.
Como explica (no 4º frame) o analista de desempenho das categorias de base do Grêmio, Eduardo Cecconi, o Atlético faz uso de um tipo de marcação muito conhecido do público brasileiro, o velho “cada um pega o seu e um fica na sobra”. Algo que, pelo menos em tese, não deveria ser mais usado neste país desde que Carlos Alberto Torres aproveitou os defeitos desse tipo de encaixe para marcar o quarto gol do Brasil sobre a Itália na final do Mundial de 1970. Outra característica do time mineiro que nos remete ao futebol do passado é a iniciativa de Cuca de ter um esquema que busca dar a Ronaldinho Gaúcho toda a liberdade para jogar e só marcar quando quiser. E um dos escalados para essa missão é Pierre, esforçado volante unidimensional que foi afastado do Palmeiras pelo “anacrônico” Luiz Felipe Scolari. Evidentemente, isso não significa que o Atlético não possa ser eficaz atuando dessa maneira. Sua campanha na Copa Libertadores mostra que competitividade é o que não falta. Agora, para chamar de moderno vai uma longa distância.
O caso do Corinthians é um pouco diferente. Ao contrário de praticamente todas as equipes brasileiras, os comandados de Tite se alinham de forma adiantada e compactada marcando por zona e com pressão. Em termos de filosofia de jogo lembra bastante a Juventus de Fabio Capello que o treinador gaúcho foi conferir in loco quando viajou à Itália em meados dos anos 2000. Ou seja, há quase uma década. Na prática, aquela Juve também era extremamente forte na marcação, mas, como quase todos os times de Capello, carecia de criatividade. Coincidência ou não, um problema semelhante ao que o time de Parque São Jorge enfrenta por marcar poucos gols justamente por não funcionar tão bem quando tem a posse. Se considerarmos que o futebol praticado pelos principais times do mundo busca defender e atacar com a máxima intensidade, notaremos que a segunda parte não faz parte do repertório alvinegro. Então, quando alguém vier falar em modernidade no Brasil, desconfie. Pelo menos por enquanto.
Crédito da imagem: Terceiro Tempo

4 comentários:

P. L. F. V. disse...

Mais uma vez, excelente análise, Michel. Indo além do que a maioria nos traz e do que as coisas parecem. Ótima a reflexão, que passarei a fazer com mais frequência.
O que você pensa sobre a maneira de jogar do Botafogo atual?
Abraço.

Michel Costa disse...

Valeu, Vinícius.

Sobre o Botafogo, sempre gostei da maneira como Oswaldo de Oliveira arma suas equipes. Ele está entre os poucos treinadores brasileiros que está mais interessado em fazer seu time jogar em vez de trabalhar em função do adversário. Não por acaso, é dele o trabalho que levou o Corinthians aos títulos nacionais de 98 (arrumou a casa quando Luxa foi ver a Copa) e 99, além do Mundial de 2000. E sempre com um futebol vistoso.

Abraço.

Lui disse...

Meu amigo, mais uma vez brilhante seu texto e observações. A maior explicação pra o Corinthians fazer poucos gols. No entanto, eu vejo (posso até estar errado, mas você vai me dizer) um ponto meio diferente: o Corinthians não cria tão pouco assim. Podia golear vários times, mas não consegue concluir bem. Já o Atlético tem um ponto que também considero UM POUCO "moderno". A objetividade. É o contrário do Corinthians, é vertical. Joga pra fazer o máximo de gol possível e não brinca. NÃO QUERO DIZER QUE O CORINTHIANS BRINCA (desculpa a caixa-alta, hehe)!!! Mas o Corinthians não capricha, talvez seja mais displiscente, não sei... Só acho isso de diferente, apesar de concordar em praticamente tudo que seu texto diz. Abração!

Michel Costa disse...

Não sei dizer ao certo, Lui. Acho que o ataque no Galo é mais rápido e habilidoso do que o do Corinthians, mas o problema maior talvez esteja na pouca criatividade nas ações defensivas e na inoperância dos laterais no campo de ataque. A presença de Pato entre os titulares poderia ajudar, já que ele tem um aproveitamento bem superior ao de Emerson.

Abração!