sábado, 8 de setembro de 2012

Três em um

Após o apito final do argentino Nestor Pitana, havia muito que dizer sobre a magra vitória da Seleção Brasileira sobre a África do Sul. A primeira, e mais importante, diz respeito ao futebol pobre que a equipe de Mano Menezes apresentou. Após a boa vitória sobre a Suécia em Estocolmo, o técnico parecia ter encontrado um rumo. Escalou o time num 4-4-2 em linha com dois volantes (Rômulo e Paulinho) que sabem jogar, com Ramires aberto na direita como em seus melhores dias no Chelsea, Oscar derivando da esquerda para o meio e Neymar com liberdade para se movimentar e se aproximar de Leandro Damião.
Dentro da lógica, o amistoso seguinte pedia a manutenção da equipe, até pela urgente necessidade de entrosamento. Eis que Mano resolve mudar. Escalou Lucas aberto pela direita – muito provavelmente porque a partida era no Morumbi – e Ramires em lugar indefinido. Sim, indefinido, pois na primeira metade do primeiro tempo o jogador pôde ser visto na esquerda, na direita e também no meio. Às vezes, à frente de Oscar, que foi visto como volante ao lado de Rômulo. Na prática, um time difícil de se entender tanto fora quanto dentro de campo.  
Outra questão que chamou a atenção foi o comportamento da torcida. Não é bairrismo dizer que a torcida paulista é, em média, mais exigente do que as de outros estados e mais propensa à vaia. A Seleção já foi vaiada noutros estados, mas em São Paulo parece ser algo atávico. Tanto é assim, que já se falava dos apupos muito antes de a bola rolar. Durante o jogo, a Seleção parecia enfrentar dois adversários, um no campo e outro nas arquibancadas. Os xingamentos ao final do amistoso foram plenamente justificados, uma vez que o Brasil atuou muito mal. Mas nada explica a vaia com dois minutos. Se for assim, é melhor ficar em casa e economizar um bom dinheiro.
Ainda houve tempo para a última polêmica do dia. Durante a coletiva, acuado por perguntas bastante espinhosas, Mano Menezes chegou a dizer que a imprensa brasileira deveria criar um ambiente positivo para a Seleção, pois é isso o que se vê noutros países. Nessa resposta o treinador errou três vezes. Primeiro, ao dar a entender que a mídia estrangeira trabalha a favor dos selecionados, o que não é verdade. Segundo, por se esquecer que já existe uma generosa parcela da imprensa brasileira que já faz esse trabalho. E, terceiro, por considerar a imprensa como uma entidade única. É preciso deixar claro que o papel da imprensa não é torcer. Nem a favor e nem contra. Assim como existe o chapabranquismo, também é perceptível a existência de uma ala que trabalha contra. No entanto, suas atitudes são mais veladas, mais nas entrelinhas. No fim, não passam de dois dispensáveis extremos.
Imagens: Reuters, Tom Dib/Lance

9 comentários:

Douglas Muniz disse...

E ai Michel, Beleza?! E então, eu assisti o jogo ontem em casa, e de certa forma, me passou uma certa irritação pelo comportamento da torcida. Sou de São Paulo, acho rídiculo o chapa gastar 80 mangos num feriado para vaiar o selecionado em apenas 2 minutos de jogo, isso é o ápice da chatice. Mas também mostra um pouco o perfil de torcedor que esta mudando... Ao menos na região sudoeste, pois no Norte, Nordeste e Centro Oeste, a torcida recebe muito bem os jogadores, jogam junto mesmo quando a coisa vai mal. No meu blog eu escrevi sobre o assunto, onde o foco é a torcida e como ela reproduz esse comportamento: http://lacopasemira.blogspot.com.br/2012/09/infeliz-mudanca-de-perfil.html

Quanto ao comportamento do Mano, talvez ele espere uma benevolência maior das Organizações Globo e que isso se reproduzisse nos outros orgãos de comunicação, mas pra isso ele tenta tirar o foco do que está errado, mas fica patético quando atribui uma falta de "carinho e apoio" da mídia em geral com o selecionado.

Em campo, muitos equívocos táticos, e algo que merece atenção: Marcelo. Ele deveria ter sido expulso ontem, imagine esse sujeito ter um momento de apagão e deixar a seleção na mão... Assim lembraremos de Felipe Melo com mais constância, Mano precisa pensar muito bem se conta com ele para a lateral esquerda...

De uma olhada se possível
E um abraço!!!

Danilo disse...

É muito importante discutir o trabalho dos jornalistas, pois eles são os formadores de opinião da torcida. Temos excelentes jornalistas, mas algumas exceções:

O CONSPIRATÓRIO - Afirma, sem provas, que Mano convoca jogadores por interesses pessoais (As vezes eu acredito, mas não a ponto de confirmar).

O GENERALIZADOR - Torcedores do Morumbi foram muito exigentes. Mas isto basta para dizer que todos os torcedores brasileiros na Copa 2014 serão assim.

O MEMÓRIA CURTA - Quando a seleção vai bem, fica calado. Mas quando atua mal, pede a volta do Dunga. Um teve a coragem de dizer que a seleção não encontrou volante melhor que o Felipe Melo.

O CONFUSO - Vou citar o Mauro Cezar Pereira. ANTES vivia dizendo que essa seleção é da Cbf e não do Brasil. Chama de pacheco quem torce fervorosamente para seleção comandada por um corrupto. Hipócrita para quem canta "eu sou brasileiro com muito orgulho e com muito amor". Mas AGORA é contra quem vaiou a seleção.

O ARGENTINO - A rivalidade é enorme. Aproveita a chance para detonar quando o Brasil vai mal. Faz comparações com a albiceleste como se existisse apenas o Brasil no planeta. Cita mais como Neymar é cai-cai do que as brilhantes atuações de Messi. Ou seja fala mais do seu grande rival (Brasil) do que seu amor (Argentina). É tipo pastor que fala mais do Diabo do que de Deus. É por aí...

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Infelizmente se cria um clima de que a seleção brasileira é ainda a melhor de todas disparado, que temos talentos aos montes; essa idéia difundida por parte da midia se transforma em frustração durante os jogos quando as coisas não vão bem; o futebol de todo mundo evoluiu e o nosso não é mais tão superior; a torcida que vai aos jogos do Brasil não é necessariamente aquela que acompanha futebol diariamente, portanto exige show toda hora e isso não vai acontecer sempre. Sobre o time, concordo que existem peças para se montar um time competitivo e o Mano se perdeu no meio do trabalho e ainda não retomou o rumo; tentou renovar, voltou com alguns veteranos sem muito critério e agora tenta resolver só com os jovens novamente; concordo que alguns mais experientes podem ser chamados, mas para acrescentar ao grupo e não apenas por nome.

Michel Costa disse...

Li seu texto e concordo, Douglas. Acredito que, ao contrário dos times, a Seleção precisa conquistar a torcida, precisa fazer por onde. Em São Paulo, além do histórico de vaias, ainda havia o componente do trabalho ruim de Mano e da predileção por alguns jogadores em detrimento de outros.

Quanto ao Marcelo, também me preocupo. Ele não chega nem perto da média de cartões vermelhos de Felipe Melo, mas mesmo assim assusta.

Abraço.

Michel Costa disse...

Hehe... temos todos esses tipos mesmo, Danilo. Aliás, não faltaram sugestões para minha coluna "Tipos de jornalista esportivo" em seu comentário.

Abraço.

Michel Costa disse...

Acho que todo o processo está sendo conduzido de forma errada, Alexandre. Sempre cito o que Parreira fez a partir de 2002 como a maneira que uma transição bem feita deve ser realizada. Claro, houve problemas na Copa da Alemanha, mas a maioria não estava a alcance do técnico.
Por sua vez, Mano simplesmente ignorou a base de Dunga e quis começar um time do zero com jovens de 20 anos. Obviamente, haveria riscos numa mudança radical como essa. Pode procurar no histórico de outras seleções. Nenhum técnico é maluco o suficiente para começar um time do zero. Só que Mano foi e agora paga por isso.

Abraço.

Douglas Muniz disse...

Correto Michel, mas entendo que a torcida precisa entender o que acontece, logicamente a mentalidade de torcedor do clube para com a seleção é diferente, suas ações perante a um momento ruim sobretudo. Mas quanto ao Marcelo há um agravante: Não temos jogadores de nível técnico bom o bastante para jogar no selecionado, diferentemente do caso do Felipe Melo: Lucas, Hernanes, Anderson...

Abraço!!

Michel Costa disse...

Olha, Douglas, se tem uma coisa que eu não espero mais é que torcida encare futebol de maneira racional. Pra mim, torcida é paixão pura. Quando aqueles torcedores foram ao Morumbi, já levaram consigo o descontentamento com o trabalho de Mano Menezes. Assim, bastou aquele início confuso para que as vaias começassem a surgir. Se o técnico brasileiro quer mesmo trazer a torcida para o seu lado, é bom que a Seleção comece a vencer e, de preferência, jogando bem.

Abraço.

Douglas Muniz disse...

Bom, pensando de maneira mais ampla sobre a torcida, estas certo mesmo...