domingo, 15 de setembro de 2013

Pontos e Vírgulas.

Coluna destinada a comentar as opiniões emitidas pelo órgão responsável pela chegada de informações ao público aficionado por futebol: a imprensa esportiva. Afinal, bem ou mal, é através dela que tomamos conhecimento de (quase) tudo o que cerca o mundo da bola.

A coisa mais importante dentre as menos importantes


O assunto da semana na imprensa esportiva brasileira não nasceu dentro de campo. A demissão do jornalista Flávio Gomes doscanais ESPN após ofensas – em tom de brincadeira – ao Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e à sua torcida dominou os debates nas redes sociais durante os últimos dias e reabriu a discussão sobre jornalistas que declaram sua paixão por um time. No caso de Flávio, a Portuguesa, que teria sido prejudicada por erros de arbitragem na partida em que foi derrotada pelo tricolor gaúcho pelo placar de 3 a 2 no último dia 7.

Como já colocado neste blog há algum tempo, jornalista esportivo não é “filho de chocadeira”. Todos têm seu clube de coração e conviver com isso dentro da profissão que abraçaram é algo mais do que comum no meio. O problema está no modo como externam esse sentimento. No mundo ideal, que talvez nem exista, um jornalista consegue separar seu lado torcedor do seu lado profissional na medida certa. Não protege seu time quando precisa criticá-lo e nem pesa demais a mão só para mostrar isenção. Na prática, é a velha busca pelo equilíbrio que os técnicos tanto gostam de arvorar.

Dizer que a opção pela demissão segue a tendência do politicamente correto que domina o mundo não é exagero. Contudo, respeitando o direito de Flávio Gomes de pensar diferente, existem limites. Em seus tweets, o jornalista atacou a história do Grêmio, sua torcida e até mesmo o povo gaúcho fazendo uso indireto de um preconceito que não pode ser tolerado quando parte de um profissional cujas palavras têm grande alcance. A decisão da direção da ESPN pela demissão foi dura, mas não foi absurda. É comum o discurso da imprensa esportiva cobrando seriedade e profissionalismo de quem trabalha com o futebol. O amadorismo da cartolagem, um dia considerado um ato de devoção por uma agremiação, hoje é visto com explicável desconfiança. Seguindo a mesma lógica, faz todo sentido cobrar a mesma postura da mídia. Mesmo que nem todos entendam dessa maneira.

Crédito da Imagem: ESPN

14 comentários:

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Se você me permite divulgar, fiz um texto a respeito desse assunto do Flavio Gomes: http://bolaparada.altervista.org/2013/09/erros-de-todos-os-lados/

Resumindo minha opinião: Era bem claro que o FG falava de futebol na ESPN de forma passional e que um erro foi terem tirado o espaço dele de automobilismo na emissora. Por melhor jornalista que seja (e ele tem sua qualidade) ele é melhor falando de carros do que de bola. Não foi a primeira vez que falou bobagem no twitter e merecia uma punição. A dúvida é saber se a ESPN só agiu devido à pressão do pessoal do Grêmio. Se foi isso, abre-se um precedente perigoso para futuras pressões. Que o tirassem do Bate-Bola, o suspendesse por um tempo, mas demitir apenas por pressão externa é complicado. Resumindo, todos erraram, mas acho bom você fazer esse texto mais crítico, pois para muitos jornalistas amigos, o FG é uma "vítima", o que certamente não é o caso.

Gustavo Carratte disse...

Também não vejo a demissão do Flavio Gomes como absurda, por mais que claramente ela tenha existido como uma atitude simbólica, como se a ESPN devesse satisfações à torcida do Grêmio por uma atitude isolada de um de seus profissionais. Mas eu não teria o demitido.

E, mais do que isso, penso que há um debate anterior a este de "seriedade" no jornalismo esportivo, que, sem dúvidas, precisa existir: o debate sobre a utilização das redes sociais.

Eu sou favorável à postura profissional não só nas redes sociais, mas também em qualquer situação. Mesmo quando vou ao estádio para assistir a um jogo do meu time, me esforço para vibrar menos do que o meu lado torcedor pede que eu vibre. Também porque hoje eu sou completamente apaixonado por futebol, não apenas pelo time que torço, mas principalmente porque tenho um compromisso de buscar ao máximo o equilíbrio nas minhas opiniões.

Acontece que nem todos os jornalistas, quando não estão trabalhando, sentem a necessidade de fazer o mesmo. E isso é absolutamente legítimo.

Flavio Gomes é um jornalista de muito bom nível. Na TV, no rádio ou em artigos, sempre é respeitoso - contundente, irônico, mas respeitoso. Digamos que com uma agressividade na medida certa, pois dificilmente erra a mão.

Por essas e outras, acho que há uma discussão anterior. Só pelo fato de empresas julgarem ser necessário uma postura profissional nas redes sociais, todos precisam ser assim?

Eu concordo com essa "recomendação". Sou assim e valorizo quem age como eu. Mas Flavio Gomes pensa diferente, e tenho muitas dificuldades para encontrar problemas nisso.

Michel Costa disse...

Li todo o post, Alexandre, mas discordo do possível erro da ESPN. Imagino que exista um manual de conduta para os profissionais da casa e é bem provável que Flávio tenha ultrapassado esses limites. No entanto, sua demissão certamente representa um marco na emissora. Agora todos compreenderam que mesmo quando não possuem uma conta corporativa é preciso entender o papel que desempenham no jornalismo.

Na prática, isso deve significar a diminuição de alguns atritos entre jornalistas da casa e tuiteiros, algo tão comum em determinados perfis.

Abraço e parabéns pelo blog. Já adicionei aos meus favoritos.

Michel Costa disse...

Era justamente o que eu comentava com o Eduardo Júnior no Twitter, Gustavo. No vídeo que linkei, tanto Gomes quanto Ruiz agem que se o mundo estivesse "careta" e que eles estavam fora dessa.
Acontece que a discussão não é essa. A discussão é no âmbito profissional. Quando um jornalista age dessa forma, ele acaba, indiretamente, legitimando que um dirigente também aja de modo passional. E todos nós sabemos o que acontece nesses casos...

Abraço.

Riccardo Joss disse...

Foi preciso. Só faltou comentar a suspensão do Arnaldo Ribeiro.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Valeu pelo apoio ao blog e pelas palavras Michel!

Não duvido que exista um código de conduta na ESPN, só acho que, se só viram apenas agora o jeito que o FG usa o twitter (sendo que ele sempre falou bobagem por lá), e só por causa da repercussão da torcida e da diretoria do Grêmio, penso que foi algo feito na base da pressão e isso não é legal e pode acontecer casos semelhantes, de uma torcida se unir para pedir a cabeça de alguém na imprensa.

Entendo que é algo que pode fazer com que exista uma linha de ação por parte de quem usa o twitter na emissora, e repito que não defendo o FG, apenas fico preocupado com a maneira política com que a ESPN tratou o episódio.

Michel Costa disse...

Valeu, Riccardo. Acabei focando mais o caso do Flávio porque resultou em demissão. O Arnaldo, mesmo suspenso, continuou a tuitar sobre a programação dos canais ESPN. Não me pareceu uma suspensão de fato.

Michel Costa disse...

Ainda tenho dúvidas se a demissão aconteceu por causa da pressão. Pra mim, foi por causa da repercussão e da constatação de que Flávio pisou feio na bola.
Enfim, se aconteceram erros de ambas as partes, o maior deles sem dúvida foi do jornalista.

Unknown disse...

Um profissional que trabalha em um grande veiculo de comunicaçao como esse, nao pode dar uma bobeira dessas.

Michel Costa disse...

Não mesmo, Hellerson. E como se não bastasse as bobagens que falou do Grêmio, Flávio ainda escreveu que narrador e comentaristas do PFC eram dois viados desonestos. É bobagem demais para uma pessoa só.

Unknown disse...

E compliecado ne Michel. Tomara que ele reveja seus conceitos e arrume outro emprego ne cara. Mesmo nao gostando dele como comentarista de futebol e muito menos como crtico de mma, torço para que arrange um emprego logo!

Yuri disse...

Graças a Deus foi embora. Independentemente de tudo que já foi dito: um "jornalista" que xinga um time chamando-o pelo nome pejorativo, jamais deveria ter chance alguma.

Depois reclamam da Globo... é que lá ninguém diz Flamerda, Curintia, Bambis, gaúchos veados e tal... como fazem às vezes os jornalistas. Esse comportamento dele vem de muito tempo.

E ele como pessoa deveria entender que eles só toleraram-o lá porque era a PORTUGUESA, um time pequeno. Renato Maurício Prado, por muito menos "torcimento" passional, ficou queimado, pois mexe com um clube de impacto, no caso o Flamengo.

Michel Costa disse...

Ele provavelmente vai estar empregado logo, Hellerson. Conhece muito de F1, tem experiência em rádio. Só vai precisar se controlar um pouco.

Michel Costa disse...

O mais curioso, Yuri, é vermos jornalistas cobrando profissionalismo dos dirigentes. O que está certo. Mas deveriam aproveitar para cobrar profissionalismo da classe também.