domingo, 22 de setembro de 2013

Planejamento?

Nesta semana, o pedido de demissão de Mano Menezes do Flamengo pegou a todos de surpresa. Adepto de trabalhos longos, o técnico gaúcho sempre primou por cumprir seus contratos e por acreditar que um bom planejamento é o melhor caminho para o sucesso. Até que, após a derrota do rubro-negro carioca por 4 a 2 para o Atlético Paranaense, declarou que o elenco não estava assimilando o que era pedido e abandonou o clube. Por enquanto, qualquer afirmação sobre outros motivos para a sua intempestiva saída não passam de especulação, algo que não será abordado aqui. Mais importante do que descobrir as razões de Mano é entender por que não existe nenhum tipo de respeito pelos trabalhos dos técnicos no Brasil. E isso por parte dos clubes, dos técnicos e também por grande parte da imprensa esportiva. Existe uma cultura enraizada em nosso futebol que faz parecer normal um treinador trabalhar por alguns meses num clube e sair caso os resultados não surjam em pouco tempo.
Um dos casos mais emblemáticos dos últimos tempos ocorreu com Paulo Autuori. Com apenas três meses no Vasco da Gama, alegou o não cumprimento de acordos pré-estabelecidos com a diretoria e pediu o boné. Dois dias depois, assinava com o São Paulo, clube pelo qual foi campeão mundial em 2005. De forma quase surreal, sem ter tido quase nenhum tempo para treinar seus atletas graças a um calendário sufocante, Autuori foi desligado do tricolor paulista com oito semanas no Morumbi. Em questão de horas, Muricy Ramalho foi confirmado como seu sucessor.
O que mais chama a atenção é a maneira como situações absurdas como essas são tratadas com naturalidade por aqui. É certo que as chegadas e partidas desses profissionais rendem manchetes e cliques, mas a complacência em relação a essas notícias remete à aceitação de que tais condutas são normais quando, na verdade, não deveriam ser. Paulo Vinícius Coelho, jornalista da ESPN, defende a adoção de uma regra que não permita que um técnico assuma outra equipe de uma mesma liga com a temporada em andamento. É possível que tal medida seja capaz de amenizar a rotatividade, porém, nada vai mudar se nossa mentalidade continuar a mesma. Com o atual entendimento, ao final do campeonato, é capaz de termos metade dos times comandados por interinos em vez de uma liga que valorize seus treinadores. Antes de mudar as regras, é preciso a compreensão de que trabalhos duradouros e organizados são melhores do que experimentos passageiros. Difícil é enxergarem algo tão óbvio.
Imagem: Wagner Meier - Estadão

4 comentários:

Alexandre Rodrigues Alves disse...

A troca de técnico no Brasil atende muito ao desejo dos dirigentes de "lavar as mãos" frente aos insucessos do clube que dirigem. É muito mais fácil trocar o treinador, jogar para a torcida que, "daqui pra frente, tudo vai ser diferente" e com isso, conseguem acalmar a maioria dos torcedores por algum tempo. Concordo plenamente quando você cita a imprensa como sendo uma das causadoras desse clima de constante ebulição que vemos nos clubes; se um time grande passa 3 jogos sem vencer a pressão também já vem das páginas dos jornais, rádio, TV.

Concordo com a ideia do PVC para haver ao menos uma limitação nessas trocas de treinador, mas como você disse, não adiantaria nada se a cultura das trocas não mudar.

Michel Costa disse...

Essa ideia de ter jogadores como bodes expiatórios realmente está entranhada em nosso cultura futebolística, Alexandre. São raros os clubes como o Corinthians que não entram nessa onda. Não por acaso, o time paulista é o maior vencedor dos últimos anos.
Na imprensa, cito o Paulo Calçade como um real defensor da continuidade dos trabalhos. Talvez por ser o jornalista que mais conhece sobre o que acontece dentro de campo.

Abraço e desculpe a demora no retorno. Fiquei sem internet em casa por alguns dias.

Unknown disse...

Na Italia existe essa norma. Um treinador nao pode treinar dois clubes na mesma temporada. Se nao me engano. Um abraço amigo!

Michel Costa disse...

Existe sim, Hellerson. E nem isso impede que o maluco do Zamparini troque seus técnicos como quem muda de roupa. Acho que se não houvesse essa regra as trocas aconteceriam bem mais no Calcio.

Abraço.