Nesta semana, o pedido de demissão de
Mano Menezes do Flamengo pegou a todos de surpresa. Adepto de trabalhos longos,
o técnico gaúcho sempre primou por cumprir seus contratos e por acreditar que
um bom planejamento é o melhor caminho para o sucesso. Até que, após a derrota
do rubro-negro carioca por 4 a 2 para o Atlético Paranaense, declarou que o
elenco não estava assimilando o que era pedido e abandonou o clube. Por
enquanto, qualquer afirmação sobre outros motivos para a sua intempestiva saída
não passam de especulação, algo que não será abordado aqui. Mais importante do
que descobrir as razões de Mano é entender por que não existe nenhum tipo de
respeito pelos trabalhos dos técnicos no Brasil. E isso por parte dos clubes,
dos técnicos e também por grande parte da imprensa esportiva. Existe uma
cultura enraizada em nosso futebol que faz parecer normal um treinador trabalhar
por alguns meses num clube e sair caso os resultados não surjam em pouco tempo.
Um dos casos mais emblemáticos dos
últimos tempos ocorreu com Paulo Autuori. Com apenas três meses no Vasco da
Gama, alegou o não cumprimento de acordos pré-estabelecidos com a diretoria e
pediu o boné. Dois dias depois, assinava com o São Paulo, clube pelo qual foi
campeão mundial em 2005. De forma quase surreal, sem ter tido quase nenhum
tempo para treinar seus atletas graças a um calendário sufocante, Autuori foi
desligado do tricolor paulista com oito semanas no Morumbi. Em questão de horas, Muricy Ramalho foi confirmado como seu sucessor.
O que mais chama a atenção é a maneira
como situações absurdas como essas são tratadas com naturalidade por aqui. É
certo que as chegadas e partidas desses profissionais rendem manchetes e
cliques, mas a complacência em relação a essas notícias remete à aceitação de
que tais condutas são normais quando, na verdade, não deveriam ser. Paulo
Vinícius Coelho, jornalista da ESPN, defende a adoção de uma regra que não
permita que um técnico assuma outra equipe de uma mesma liga com a temporada em
andamento. É possível que tal medida seja capaz de amenizar a rotatividade, porém,
nada vai mudar se nossa mentalidade continuar a mesma. Com o atual
entendimento, ao final do campeonato, é capaz de termos metade dos times
comandados por interinos em vez de uma liga que valorize seus treinadores.
Antes de mudar as regras, é preciso a compreensão de que trabalhos duradouros e
organizados são melhores do que experimentos passageiros. Difícil é enxergarem
algo tão óbvio.
Imagem:
Wagner Meier - Estadão
4 comentários:
A troca de técnico no Brasil atende muito ao desejo dos dirigentes de "lavar as mãos" frente aos insucessos do clube que dirigem. É muito mais fácil trocar o treinador, jogar para a torcida que, "daqui pra frente, tudo vai ser diferente" e com isso, conseguem acalmar a maioria dos torcedores por algum tempo. Concordo plenamente quando você cita a imprensa como sendo uma das causadoras desse clima de constante ebulição que vemos nos clubes; se um time grande passa 3 jogos sem vencer a pressão também já vem das páginas dos jornais, rádio, TV.
Concordo com a ideia do PVC para haver ao menos uma limitação nessas trocas de treinador, mas como você disse, não adiantaria nada se a cultura das trocas não mudar.
Essa ideia de ter jogadores como bodes expiatórios realmente está entranhada em nosso cultura futebolística, Alexandre. São raros os clubes como o Corinthians que não entram nessa onda. Não por acaso, o time paulista é o maior vencedor dos últimos anos.
Na imprensa, cito o Paulo Calçade como um real defensor da continuidade dos trabalhos. Talvez por ser o jornalista que mais conhece sobre o que acontece dentro de campo.
Abraço e desculpe a demora no retorno. Fiquei sem internet em casa por alguns dias.
Na Italia existe essa norma. Um treinador nao pode treinar dois clubes na mesma temporada. Se nao me engano. Um abraço amigo!
Existe sim, Hellerson. E nem isso impede que o maluco do Zamparini troque seus técnicos como quem muda de roupa. Acho que se não houvesse essa regra as trocas aconteceriam bem mais no Calcio.
Abraço.
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