sábado, 5 de maio de 2012

Dois monstros e um campeonato desnivelado.

Lionel Messi provavelmente é o melhor jogador que vi atuar. O “provavelmente” significa que eu não me decidi ainda. Em clubes, certamente é. Porém, falta atuar melhor pela Argentina. Nem digo conquistar títulos, pois isso depende também do restante do time, mas atuar em alto nível numa competição importante. Assim, como o camisa 10 do Barcelona tem apenas 24 anos, prefiro esperar antes de bater o martelo.
Bem próximo a Messi está Cristiano Ronaldo. Mesmo sem ser tão genial, o atacante do Real Madrid consegue acompanhar os absurdos números do rival fazendo uso da combinação talento, força física e empenho. Deste modo, consegue se manter próximo ao melhor do mundo e bem distante dos “meros mortais”.
Reafirmar a qualidade de Messi e Cristiano Ronaldo pode parecer redundante, mas é necessário. É importante ressaltar a qualidade de ambos para em seguida constatar o óbvio: Nem mesmo craques desse quilate conseguiriam marcar tantos gols numa liga realmente competitiva. Hoje, La Liga abriga os dois melhores times do mundo, algumas boas equipes como Valencia, Atlético de Madrid e Athletic Bilbao e outras que diante dos dois gigantes não passam de sparrings prontos para serem triturados. É nesse contexto que Messi chegou a 50 gols. Um feito histórico, sem dúvida, mas que se não for contextualizado tornará qualquer análise rasa, apenas loas para um gênio da bola.
Até o início dos anos 2000, o campeonato espanhol ainda resguardava sua competitividade. Logicamente, Real Madrid e Barcelona sempre foram mais fortes que a concorrência e invariavelmente largavam como favoritos ao título. Todavia, outros times conseguiam vislumbrar o posto mais alto da tabela sem que isso soasse puro devaneio. Para se ter uma ideia, a famosa temporada 1993/94 decidida na última rodada com Barcelona e Deportivo La Coruña na disputa, viu os catalães vencerem 25 vezes e empatar em seis ocasiões. Naquela época, vitórias ainda valiam dois pontos, então os 56 pontos ao final de 38 rodadas valeriam 81 agora. Enquanto isso, o mesmo Barcelona somou em seu último tricampeonato (2008 a 2011) 87, 99 e 96 pontos em cada certame. Do mesmo modo, a estratosférica campanha do Real Madrid de Fabio Capello na temporada 1996/97 quando somou 91 pontos parece pouco empolgante quando comparada aos 97 que os Merengues obtiveram até a 37ª rodada deste campeonato.
Neste momento, o abismo financeiro que separa Barcelona e Real Madrid dos demais concorrentes não torna apenas a competição desequilibrada, mas também a briga pela artilharia. Com tanta disparidade de forças, Messi e Cristiano Ronaldo, além de serem melhores, ainda têm a vantagem de ter muito mais oportunidades para concluir em gol e, consequentemente, balançar as redes mais vezes. Logicamente, isso não é uma crítica aos vencedores das últimas quatro Bolas de Ouro, apenas uma constatação de que a vida já foi mais difícil para os gigantes espanhóis.

12 comentários:

João Caniço disse...

Análise correctíssima, Michel. Estou de pleno acordo. A distância financeira entre os dois gigantes espanhóis e os restantes é abissal. O Valência foi bi-campeão não há muitos anos. O Deportivo e o Atlético Madrid também ganharam um campeonato cada e até a Real Sociedad lutou até à última jornada por um título. Portanto, se é óbvio que Messi e Ronaldo estão num patamar muito superior relativamente a todos os outros, também não é menos verdade que é significativo ter uma excelente equipa por trás. Muito por esta diferença de classe existente actualmente no campeonato espanhol tenho seguido cada vez menos a competição em detrimento da 'Premiership' e, naturalmente, do 'Calcio'. E por falar no 'Calcio' espero amanhã festejar já o 'scudetto' contando com uma ajudinha do Inter :)
Abraço.

Fabiano Dias disse...

Vejo a La Liga dividida literalmente em 3 campeonatos internos hoje: 1 - título: Barça e Real; 2 - bloco intermediário: times como Valência, Atlético Madrid, Athletic Bilbao e mais alguns; - rebaixamento: Zaragoza, Villareal e outros. Tudo isso devido ao absurdo abismo financeiro que há entre os dois ditos grandes e o restante. Mas não é um campeonato fraco, visto que seus representantes ocuparam 5 das 8 vagas nas semifinais dos torneios europeus.

Se não cuidarmos aqui, vejo também que num futuro próximo, vão tentar fazer a mesma coisa aqui com dois clubes, pelo no que tange a marketing, mídia etc. Pode até soar como teoria da conspiração, mas que a imprensa (Rede Bobo) estão "protegendo" eles, ah estão.

Vou mais além ainda. Uma certa afiliada da Bobo em SC, faz isso com os times da capital, em detrimento dos times do interior, que são fortes.

Michel Costa disse...

Salve, JP! Há quanto tempo, amigo.

Também acompanho menos La Liga em relação a Serie A e a PL justamente por esse desnível. A relação de forças deixa o campeonato dividido em blocos, como escreve o Fabiano abaixo.

Quanto a decisão do scudetto, se a Inter vencer o clássico amanhã, não terei problemas para ver o título sendo comemorado pela Juve :-)

Abraço.

Michel Costa disse...

A divisão do dinheiro da TV no Brasil é um assunto que sempre converso com alguns amigos, Fabiano.
No entanto, ao contrário do que ocorre na Espanha, a divisão por aqui não é tão desproporcional. Lá, Barcelona e Real Madrid levam juntos mais do que a soma dos outros dezoito clubes. Aqui, Flamengo e Corinthians não chegam à metade do dinheiro distribuído apenas para o eixo Rio-SP. De qualquer modo, concordo que a partilha já foi mais equilibrada por estes lados.

Abraço.

Fabiano Dias disse...

Sim, concordo, que aqui não é tão assim desproporcional para com os outros "10 grandes", mas em relação aos outros fora dessa lista já possui uma certa distância. Mas como mesmo disse, cuidemos, porque num futuro próximo pode acontecer a mesma coisa aqui. Espero que não.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Concordo que o desequilibrio da Liga faz com que Messi e C.Ronaldo tenham desempenhos ainda melhores do que se espera deles; acho também que os 2 times atuais de Barça e Real fazem essas perfomances serem ainda melhores; são times muito qualificados e que jogam para eles, fazendo os gols se multiplicarem; além disso o número de penais para os 2 gigantes é bem elevado, tanto qto o número de acertos dos craques. Sobre a distribuição do $ penso que o sistema inglês é mais perto do ideal, junto com a correção fiscal que existe na Alemanha.

Douglas Muniz da Silva disse...

A análise é muito bem feita, concordo, é importante saber também que as dívidas dos clubes espanhois cresceram assustadoramente, influência da crise que assola a Europa, sobretudo a Espanha, mas também que tem impacto nos valores pagos pela TV (considerando os dois gigantes). Talvez numa economia mais confiável, com regras mais firmes e seguras, como por exemplo o que acontece na Alemanha, poderia ser um passo para igualar as coisas. As cotas são muito desiguais, mas acredito que isso tenha influência econômica. Não te parece esse um fator que também ajuda a fazer essa disparidade?

Abraços!!!

Michel Costa disse...

Esse é um ponto que realmente deveria deixar todos os clubes atentos, Fabiano. Com o desmantelamento do Clube dos 13, aumenta ainda mais a chance de que isso ocorra, mas imagino que a força política dos outros grandes e a própria influência da CBF não deve deixar que isso aconteça.

Michel Costa disse...

Também considero o sistema inglês o mais equilibrado, Alexandre. Na Premier League, um time como o Manchester United não recebe nem o dobro da quantia reservada ao último colocado. Os Red Devils só abrem diferença no faturamento quando vemos o quanto arrecadam com o Old Trafford e com produtos licenciados. Mas isso é mérito da organização do clube.

Michel Costa disse...

A crise econômica vivida pela Espanha certamente é um fator, Douglas. Mesmo assim, gostaria de ver os outros clubes brigando por uma divisão mais justa. Afinal, Real Madrid e Barcelona não jogam sozinhos. Porém, sinceramente, acho que esse problema só seria resolvido através de uma greve. Só assim mesmo para serem atendidos.

Abraço.

Tiago disse...

Michel Costa você escreve muito bem. Por isso poderia me dar uma dicas para fazer uma boa redação ? vou fazer um vestibular daqui alguns meses.

Michel Costa disse...

Haha, não sei se eu sou a pessoa mais indicada, Tiago.

Bem, antes de tudo, é preciso pensar bem no que você vai escrever. Desenvolver mentalmente se a sua ideia tem princípio, meio e fim. Depois, recomendo que leia o que escreveu e tente imaginar como se outra pessoa estivesse interpretando seu texto. Procure não deixar lacunas.

Abraço.