Neste fim de semana, a bola voltou a
rolar em partidas oficiais nos gramados brasileiros. É o retorno dos campeonatos
estaduais, competições que ocupam um terço da temporada e que, ano após ano,
perdem mais um pouco do prestígio que ainda resta. E, ao contrário do que
recomendaria a lógica, seus dirigentes não se mostram interessados e
transformá-los em algo muito diferente de um estorvo num calendário que precisa
ser revisto com urgência.
O argumento da tradição dos Estaduais
não se sustenta na prática. Com folhas de pagamento milionárias, os clubes
precisam buscar receitas maiores a cada dia e enfrentar adversários fracos em
estádios vazios tornou-se algo absurdamente contraproducente. Neste momento,
apenas a cota de TV justifica em parte a existência desses torneios. No
entanto, as televisões pagam para transmitir partidas das agremiações mais
conhecidas. São as exibições de times como Corinthians, Flamengo, Cruzeiro,
Internacional e demais grandes que movem o interesse do público. Por
consequência, é óbvio supor que esse pagamento seria potencialmente maior num cenário
onde o Brasileirão começasse em fevereiro ou março.
Paralelamente,
muitos temem que o fim dos Estaduais representaria também o fim dos pequenos
clubes que tanto contribuem para a grandeza do futebol brasileiro. Entretanto,
é justamente o contrário. Grande parte dos times menores não tem atividades
após o encerramento de suas etapas regionais. Para muitos atletas, quase todos
mal remunerados, o ano termina antes de sua metade. Não há nem ao menos a
chance de atuar durante toda a temporada regular. Uma triste realidade que CBF
e federações ignoram quando elaboram o calendário.
Bem
mais significativo do que a proposta redução de datas dos Estaduais seria a saída
dos grandes clubes e a transformação em campeonatos regionais extensos que preencham
todo o calendário dos times de menor investimento. Uma iniciativa que iria ao
encontro das reivindicações do movimento Bom Senso FC, como uma proposta de um
futebol melhor para todos. Ou, pelo menos, melhor para quem realmente se
preocupa com ele, algo que, em princípio, não parece ser o caso dos dirigentes
da Federação do Rio de Janeiro e de Eurico Miranda, novo/velho presidente do
Vasco da Gama.
Numa
decisão claramente arbitrária, a Ferj estipulou entre R$ 5 e R$ 50 os preços
dos ingressos para o Campeonato Carioca em 2015. Se a intenção fosse apenas
defender os interesses do torcedor seria perfeito, mas há indícios de que não
se trata disso. A começar pela falta de diálogo com seus filiados, aqueles que
são a razão da existência de qualquer federação. Com a decisão unilateral,
Flamengo e Fluminense terão prejuízo em jogos no Maracanã, estádio cujo custo
médio de cada torcedor atinge R$ 12. Com as famigeradas meias-entradas, uma máfia
em nosso país, grande parte da torcida adentra o estádio pagando metade do
ingresso. Ou seja, na prática, é como se a Ferj estivesse estipulando parte da
carga de ingressos em R$ 2,50 a R$ 25, ignorando os reflexos dessa decisão nas
finanças dos clubes.
Outro
indício é a influencia de Eurico Miranda junto à presidência da Ferj. Quem
acredita que o cartola não tem calculado na ponta do lápis os danos provocados aos
rivais pela precificação, sinceramente, acredita em tudo. Quando Eurico foi
reeleito, estava claro que a situação do futebol carioca e brasileiro pioraria
de forma significativa. Ao contrário de Roberto Dinamite, seu antecessor,
Eurico não é danoso apenas ao Vasco. Sua influência se estende a outros
dirigentes, federações e até a CBF. A volta do ex-deputado representa retrocesso
num futebol que deveria olhar para frente, ainda mais após sediar uma Copa do
Mundo e ver tantas arenas construídas e reformadas. Por essas e outras, não há
razão para otimismo com o futebol brasileiro. Pelo menos, não neste momento.
Texto
escrito originalmente para o site Barroso em Dia
Imagem: CNN
4 comentários:
Não sei se os regionais seriam solução para a falta de público em muitos jogos (vi alguns da Copa do Nordeste e vi os estádios vazios do mesmo jeito...). Acho que os estaduais podem ser estendidos com os times menores jogando o ano todo e os grandes entrando em fases decisivas, podendo ser mata-mata ou não, no estilo, por exemplo, das Copas de Liga da Inglaterra, França...
(Fora do tópico):
1-Você ainda acredita no Ranocchia? Eu, como você talvez se lembre, nunca acreditei,rs...
2-Acho que muitos elogiam o Esporte Interativo sem conhecer o canal. As transmissões da Copa do Nordeste são tenebrosas e ainda colocaram uma musiquinha ainda maior do que a FOX na hora dos gols...Tenho muito receio do que está por vir na UCL. A meu ver eles têm de melhorar muito...
Basicamente, Alexandre, defendo uma regionalização das divisões menores para diminuir custos para os pequenos clubes. Mais ou menos como ocorre na Alemanha. O que não dá mais é termos um campeonato deficitário ocupando um terço da temporada.
1- Ranocchia é um zagueiro mediano. Um sistema organizado pode funcionar bem. Pena que não seja esse o caso da Inter... Hehe.
2- Também tenho um pé atrás com o EI. O melhor lugar para a UCL continua sendo a ESPN.
Abraço!
O problema é, como poderia acontecer essa regionalização, com o poder dos presidentes de federações sendo quase que ditatorial. Em alguns estados, principalmente no Norte e no Nordeste, alguns clubes ainda fazem do seus estaduais o torneio mais forte do ano. Tem de ser uma coisa que contemple todos. Até defendo a duração maior dos campeonatos com os grandes entrando no final da competição.
Acho o Ranocchia menos do que mediano, ele é juvenil demais, comete erros que não vejo nem no Sub-20. Mas como diz o PVC, time bom pode consagrar zagueiro ruim. E o time da Inter está longe de estar montado hoje...
Para mim a ESPN hoje está numa vala comum, pelo menos em termos de programação, no tom das análises, muito semelhante em alguns momentos ao que vemos na TV aberta. Existem alguns bons e que entendem mais de futebol internacional. O problema realmente é que a concorrência é fraca. O Sportv, em termos de abrangência, é um canal melhor hoje em dia, mas alguns lá realmente não entendem bulhufas de futebol internacional...
UM ABRAÇO!
Também não acredito que as federações estaduais possam ser simplesmente tiradas da jogada. Essas entidades continuariam presentes, provavelmente, recebendo suas cotas nas partidas de seus filiados. Mas os Estaduais não deveriam estar no calendário dos grandes clubes, não cabem mais.
Essa frase do PVC resume bem. O Cris no Lyon talvez tenha sido o melhor exemplo dela. Vi Ranocchia jogando de perto em Volta Redonda e não o avaliei como ruim, achei apenas comum. Um cara que surpreendeu a todos que estavam comigo foi o Thiago Motta. Joga muito. Não olha pra bola quase nunca e trabalha em espaços mínimos. Não me espanta ser titular do PSG até hoje.
Quanto à ESPN, te dou total razão. Eles deveriam aproveitar mais os grandes nomes como Mauro Cezar e Calçade, este absurdamente subutilizado. Rafael Oliveira é outro que poderiam dar mais espaço. Mario Marra também é bom, mas é difícil recuperar a saída de PVC e a perda dos direitos da UCL. Difícil pra não dizer impossível.
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