domingo, 10 de fevereiro de 2013

Neymar, o rei da selva, mas apenas dela

Uma pena que o comentário do meia Joey Barton sobre Neymar tenha se tornado apenas mais uma polêmica vazia. Em parte porque o inglês foi agressivo e também pelo fato de se tratar de um aloprado costumaz. Assim, perdemos a oportunidade de debater mais sobre qual é o verdadeiro nível do atacante santista.
No Brasil, Neymar não tem rivais. Marca gols espetaculares, decide inúmeras partidas e, de quebra, conduz sua equipe a títulos. Todavia, quando o desafio aumenta, tanto pelo do Santos, quanto em jogos da Seleção Brasileira, a sensação que fica é que se trata de um bom jogador, perigoso e habilidoso, mas longe, por enquanto, de ser o craque que muitos afirmam que ele já é.
É verdade que contra o Barcelona é difícil medir a maioria dos jogadores. Na final do Mundial de Clubes de 2011 a bola quase sempre esteve nos pés dos Blaugranas e quando chegava a Neymar havia dois ou três jogadores em torno dele. Como o goleiro Victor Valdés disse certa vez, o técnico Pep Guardiola tinha como seu maior mérito saber anular os adversários. Não seria diferente contra um Santos que depositava todas as suas fichas na individualidade do seu camisa 11.   
Contudo, não deveria ser assim quando o assunto passa a ser a Seleção. Se a distância entre Santos e Barcelona é um oceano, a distância entre o Brasil que se remonta para os selecionados mais “pesados” não é tão grande assim. Apesar disso, Neymar não foi bem. Marcou contra a Alemanha, é verdade, mas, gripado, não fez muito mais. O mesmo pode ser dito dos compromissos contra a Argentina, Holanda e agora diante da Inglaterra. Ao que tudo indica, o atacante ainda não tem resposta para a marcação mais forte e os espaços reduzidos que encontra nesses momentos.
A primeira reação das pessoas é sugerir que Neymar deve se transferir logo para a Europa e se defrontar com desafios maiores com maior frequência. Alguns chegam a insinuar que o jogador não rumou até agora para o exterior por medo. Creio ser leviano afirmar isso. No Brasil, Neymar tem, além de todo o carinho da comunidade santista e admiração do país, um salário compatível com os maiores mercados. Estima-se que ele tenha faturado, apenas em 2012, a bagatela de R$ 60 milhões, contando os recursos de seus onze patrocinadores. Dinheiro suficiente para que, aos 21 anos, não sinta que a mudança de ares é urgente. Isso sem contar que sua presença no Brasileirão engrandece e muito a competição.
Nesse cenário, cabe ao técnico Luiz Felipe Scolari constatar que é improvável esperar que Neymar carregue a nova Seleção nas costas na Copa do Mundo de 2014. Sem dúvida ele será uma peça importante do time, mas apostar tudo nele parece ser um equívoco. Em nossa “selva”, como diria o maluco Barton, ele é rei. Fora dela, ainda há um longo caminho a ser percorrido.  
Imagem: Reuters

5 comentários:

Gustavo P. disse...

Nesse jogo do Brasil contra a Inglaterra eu me afeiçoei muito ao jeito do time inglês jogar e esbocei um Brasil num 4-1-3-2 similar à tática 4-1-4-1 inglesa para montar meu time: http://this11.com/boards/abEeNowac6.jpg
Para posicionar Neymar, adotei o raciocínio de Mano Menezes: Neymar não conseguiria partir em diagonal como faz contra as defesas dos times brasileiros.
Acha que esse estilo de jogo poderia vir a calhar na seleção?
Abraços!

Michel Costa disse...

Também gosto da ideia de ter Neymar mais próximo do gol, Gustavo. Mesmo que isso signifique abrir mão de um centroavante. Quanto a função de 1º volante, meus preferidos são Lucas Leiva e Luiz Gustavo que, na minha opinião, têm um passe melhor do que o de Ralf. No mais, gostei da formação.

Abraço.

Yuri disse...

Eu sempre tiro um sarro daqueles que, sobretudo em 2010 e principalmente no futebol-fantasma de 2011, diziam que entre Neymar e Ganso, "bom mesmo é o Ganso". Mantra que foi repetido por mais de 95% dos jornalistas após o Paulistão e Copa do Brasil de 2010.

O tempo mostrou a bobagem: Ganso dá a maior pinta de que jamais chegará ao nível de relevância de Neymar e isso já ficou óbvio. Porém, outra peça pode ser pregada. Entre Neymar e Lucas.

Hoje, parece surreal afirmar que entre eles, "bom mesmo é o Lucas". Até porque não é. Mas com a atuação de terça-feira, eu vi alguns europeus que torcem o nariz pro Neymar chamarem o Lucas de jogador TOP, excelente e etc.


Numa análise "bairrista", poderia-se dizer que para os europeus só importa quem joga lá e aqui nada importa. Porém, será que o futuro pode pregar mais uma peça na gente? Digo "na gente" solidariamente, pois devo dizer que NUNCA afirmei que Ganso seria o craque que pintavam e/ou seria melhor que Neymar. Até porque quem brilhou mesmo nos momentos decisivos no início de 2010 pelo Santos foi André, que hoje tem um valor de mercado mais baixo que os dois.


Seria curioso. Imagina daqui a alguns anos, a unanimidade que hoje é comparar Neymar a Lucas ir por água abaixo? Assim como o fenômeno "bom mesmo é o Ganso" desmoronou? Só sei que é engraçado demais lembrar disso, pelo menos eu não me canso. Se algum dia Lucas se tornar um jogador mais relevante, sempre lembrarei desse período atual.


Michel Costa disse...

Não é impossível, Yuri. Lucas está bem no PSG e tenho sérias dúvidas se Neymar cumprirá toda a expectativa que existe sobre ele. Mesmo assim, se tivesse que apostar, casaria minhas fichas no santista.
Mas esse tipo de erro de avaliação é bem comum no jornalismo esportivo brasileiro. Pra ficar em poucos exemplos, Giovanni e Robinho foram para a Espanha sob uma expectativa maior do que Kaká e Ronaldinho. Rivaldo é outro exemplo. Se alguém dissesse em 96 que o meia que flopou miseravelmente nos Jogos de Atlanta seria o melhor do mundo em 99, decerto ouviria uma risada de volta.
E, falando em Lucas, leia esse post que escrevi certa vez: http://alem4linhas.blogspot.com.br/2012/07/olhando-o-passado-para-enxergar-o.html Naquela época, já achava a cobrança em cima dele exagerada.

Yuri disse...

Michel, como curiosidade, o Zico falou ontem no SporTV que o Lucas pode fazer melhor que o Neymar numa Copa do Mundo.