segunda-feira, 3 de março de 2014

Pontos e Vírgulas

Coluna destinada a comentar as opiniões emitidas pelo órgão responsável pela chegada de informações ao público aficionado por futebol: a imprensa esportiva. Afinal, bem ou mal, é através dela que tomamos conhecimento de (quase) tudo o que cerca o mundo da bola.

Tudo por um furo

Até o momento em que assinou contrato com o Barcelona, o atacante Neymar deve ter sido negociado umas dez vezes. Além do clube catalão, o Real Madrid chegou a contratar o craque da Vila algumas vezes. Bayern e Manchester United também estiveram perto. Bem, pelo menos, foi o que as notas e manchetes estamparam nos últimos três anos. No fim, as denúncias de um torcedor do próprio Barça revelaram que Neymar Pai só abriu reais tratativas com o atual clube do brasileiro. O restante foi apenas especulação tratada como notícia.

Bem menos conhecido do que Neymar, Hernane, centroavante do Flamengo, esteve envolvido por duas vezes em situação semelhante apenas no ano de 2014. Primeiro foi a proposta do Al Gharafa. Segundo alguns veículos brasileiros, o Brocador estava certo como o novo reforço do clube catariano, onde, inclusive, receberia um bônus para cada gol que anotasse. No entanto, as negociações com o rubro-negro carioca não tiveram o desfecho desejado pela agremiação baseada em Doha.

Na última semana foi a vez do mercado chinês sondar Hernane. O Shanghai Shenhua, novo clube do zagueiro Paulo André, fez uma boa proposta e os dirigentes do Flamengo pediram garantias bancarias para fechar o negócio. As garantias não vieram e o artilheiro do Brasil em 2013 permaneceu na Gávea. A similaridade entre as duas propostas é que ambas não foram mais do que propostas. A negociação poderia ser concluída ou não. E no caso de Hernane não foram. Então por que motivo elas foram tratadas como se estivessem num estágio mais avançado do que realmente estavam?

A explicação é simples. Atualmente, dar a notícia antes dos concorrentes se tornou mais importante do que dar a notícia correta. Pelo visto, aguardar o desfecho das negociações é perder tempo e acessos preciosos que não podem ser desperdiçados. E se depois a negociação não se concretizar, é fácil: Basta lançar a informação definitiva que novos acessos serão mais do que bem-vindos. Afinal, ninguém vai se lembrar que aquela situação foi dada como certa há alguns dias. Pois este espaço se lembra. E lamenta profundamente que a credibilidade seja algo tão sem importância no jornalismo contemporâneo.

Imagens: Paramount, André Durão (GE)

4 comentários:

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Muitos colocam o jornalismo esportivo como algo menor um pouco por isso mesmo, essas especulações acabam com uma linha de credibilidade que deve sempre ser buscada por qualquer editoria de jornalismo. Muitos devem achar que a área esportiva deve ser mais fácil quando na verdade exige esforço e estudo como em todas as áreas.

Outra praga atual do jornalismo esportivo é o aspecto "engraçadinho" de vários programas que eram sérios e hoje são praticamente esquetes de humor; não que os programas devam ser quase como encontros acadêmicos, mas deve-se sempre priorizar a boa informação e não a palhaçada fácil.

Michel Costa disse...

Sempre me perguntei por que o jornalismo esportivo é considerado uma subclasse do jornalismo, Alexandre. Não sei se é assim em todo o mundo, mas no Brasil certamente é. Além da questão que você disse, no caso do Brasil, acho que tem a ver com a origem do jornalismo esportivo em nosso país. Essa visão rodrigueana que sobrevive até hoje em muitos veículos não ajuda em nada.
Quanto ao fenômeno que batizaram como leifertização, acho que foi uma tentativa de levantar a audiência. Dizem que não funcionou tão bem, mas o pior é o fato da qualidade ter despencado. Acho que um toque descontraído a um programa esportivo não é problema (O Bate-Bola faz isso é não deixa de ser ótimo). A questão maior é a falta de conteúdo. Algo que se aplica bem ao que temos visto na TV aberta.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Acho que o BB3 está se perdendo nisso, hoje é mais um programa de humor do que um programa de esporte, infelizmente. O Futebol no Mundo também está impossível de se assistir, ficam os apresentadores dando risadas de piadas internas, caiu muito a qualidade; sou do tempo em que o programa passava reportagens especiais e curiosas de times de fora; na época a ESPN talvez não tivesse tanto recurso de fazer reportagem própria, mas conseguia fazer um programa mais informativo e de mais qualidade.

Acho que o Leifert não é o criador desse estilo; desde a época em que o Datena era repórter esportivo isso já existia; ele foi mais visado por apresentar o programa em SP, mas não foi o criador do estilo em si. O duro é que isso está se espalhando até pela TV fechada, até o Marcelo Gomes, repórter do Histórias do Esporte da ESPN criticou isso no Facebook (o Papo de Bola divulgou).

Concordo que a visão mais romântica e até certo ponto cega de nosso jornalismo ajuda numa desvalorização, além do que acho que as próprias empresas não se esforçam em mudar esse quadro, basta ver o que é jogado no ar na TV aberta, salvo raríssimas exceções, como ALGUMAS reportagens do Esporte Espetacular.

Michel Costa disse...

Também não estou gostando o BB3. Está cheio de gracinha, todo o dia tem uma campanha engraçadinha diferente. Outro dia, meio que de brincadeira, o Márcio Guedes cornetou essa postura. O Rodrigo deu um sorriso amarelo, mas não defendeu o formato. Bate-Bola bom mesmo, só o vespertino, apesar do Lúcio de Castro meio fora do tom.