Há alguns dias o site da BBC publicou
um artigo de Bill Wilson no qual
tentava explicar as razões para a estagnação do futebol italiano no cenário
mundial. Entre todos os fatores, a diferença de arrecadação em relação aos
grandes rivais europeus é o que mais se sobressai. Não é segredo para ninguém
que não se faz futebol de alto nível sem grandes investimentos, exceções
honrosas ao Borussia Dortmund da temporada passada e ao atual momento do
Atlético de Madrid. Os resultados das equipes italianas na Europa despencaram na
proporção em que cessaram os altos investimentos de seus mandatários. E, como
essas agremiações nunca foram ensinadas a caminhar com as próprias pernas, o resultado
disso tudo é mesmo desolador.
Contudo, a matéria da BBC não
mencionou algo que não pode ser desprezado. A intensidade de jogo dos times
italianos também caiu. Nem mesmo os sistemas defensivos funcionam com a
mecânica de antes. O jogo está mais lento. No aspecto físico, a discrepância
também é perceptível. Cesare Prandelli, técnico da Itália, classificou como
“quase constrangedor” o desnível atlético de seus jogadores em relação aos
espanhóis, adversários no último amistoso da Azzurra. Sem dúvida, uma
observação impensável há alguns anos.
Curiosamente, uma partida citada no
artigo de Wilson costuma ser exemplo frequentemente tomado por este blogueiro
quando o assunto é a queda do futebol italiano. A final da UEFA Champions League 1993/94 entre o Milan de Fabio
Capello e o Barcelona de Johan Cruyff é até hoje um símbolo da eficácia italiana
na distante década de 1990. Antes de a bola rolar, muitos pensavam que o time
de Romário e Stoichkov era favorito naquela decisão. No entanto, com muita aplicação
e uma estratégia impecável, os rossoneri massacraram o time catalão por
inapeláveis 4 a 0. Futura estrela da Copa dos Estados Unidos, Romário mal foi
notado em campo. Se havia equilíbrio em termos de talento, certamente não havia
em termos táticos.
A lógica nos diz que é mais fácil
colocar em prática qualquer estratégia de jogo quando se tem grandes jogadores.
Porém, marcação forte e organização defensiva eficiente dependem bem menos de
investimentos pesados do que montar um ataque com Ibrahimovic, Cavani e
Lavezzi. E até isso vem se tornando artigo raro na Velha Bota. Esqueça a velha
máxima de que as defesas italianas são as mais robustas do mundo. Nem mesmo a
virtual campeã Juventus consegue imprimir o ritmo necessário para sobreviver em
uma Champions League. Talento não é a única coisa que falta. A preparação
física se mostra deficitária, os grandes treinadores militam noutras praças e a
última “inovação” tática foi a ressurreição do obsoleto 3-5-2. Infelizmente, a
escalada do Calcio de volta ao topo não vai depender apenas de empresários
dispostos a gastar os tubos no Belpaese.
Foto:
The Guardian
4 comentários:
Acho que a combinação de grandes investimentos com trabalhos mais sólidos taticamente podem fazer com que a Itália volte a disputar seriamente as competições internacionais. O problema é que a crise econômica debilitou demais os times da bota, o abismo para os maiores do continente aumentou consideravelmente. Mas sem dúvida deve haver uma reinvenção dentro de campo também.
Exatamente, Alexandre. Investimento é fundamental, mas, da maneira como os times italianos vêm jogando, dinheiro por si só não vai bastar.
E pensar que há alguns anos a Itália era o berço da tática...
A Itália vai terá que repensar o futebol como um todo, assim como os alemães fizéram. Torço muito por isso. É angústiante ver o Calcio como está, sendo motivo de chacóta de jornalistas babácas que eu nem vou citar nome. E ver o meu Milan sendo motivo de piada, um gigante desse porte. Ai ai... Vou parar por aqui, se nao vou ocupar o blog inteiro com o que eu penso. Abraço meu amigo!
Pelo visto, a ameaça de perder mais uma posição no ranking da UEFA já está fazendo com que os dirigentes italianos comecem a se mexer, Hellerson: http://trivela.uol.com.br/o-fracasso-europeu-dos-clubes-italianos-instiga-serie-passar-por-mudancas/
Só não concordo com a tese de que o problema é apenas financeiro. Fosse assim, Portugal não estaria ameaçando, pois os lusitanos ainda estão abaixo em termos de faturamento.
Abraço, meu camarada!
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