domingo, 16 de março de 2014

A queda

Há alguns dias o site da BBC publicou um artigo de Bill Wilson no qual tentava explicar as razões para a estagnação do futebol italiano no cenário mundial. Entre todos os fatores, a diferença de arrecadação em relação aos grandes rivais europeus é o que mais se sobressai. Não é segredo para ninguém que não se faz futebol de alto nível sem grandes investimentos, exceções honrosas ao Borussia Dortmund da temporada passada e ao atual momento do Atlético de Madrid. Os resultados das equipes italianas na Europa despencaram na proporção em que cessaram os altos investimentos de seus mandatários. E, como essas agremiações nunca foram ensinadas a caminhar com as próprias pernas, o resultado disso tudo é mesmo desolador.
Contudo, a matéria da BBC não mencionou algo que não pode ser desprezado. A intensidade de jogo dos times italianos também caiu. Nem mesmo os sistemas defensivos funcionam com a mecânica de antes. O jogo está mais lento. No aspecto físico, a discrepância também é perceptível. Cesare Prandelli, técnico da Itália, classificou como “quase constrangedor” o desnível atlético de seus jogadores em relação aos espanhóis, adversários no último amistoso da Azzurra. Sem dúvida, uma observação impensável há alguns anos.
Curiosamente, uma partida citada no artigo de Wilson costuma ser exemplo frequentemente tomado por este blogueiro quando o assunto é a queda do futebol italiano. A final da UEFA Champions League 1993/94 entre o Milan de Fabio Capello e o Barcelona de Johan Cruyff é até hoje um símbolo da eficácia italiana na distante década de 1990. Antes de a bola rolar, muitos pensavam que o time de Romário e Stoichkov era favorito naquela decisão. No entanto, com muita aplicação e uma estratégia impecável, os rossoneri massacraram o time catalão por inapeláveis 4 a 0. Futura estrela da Copa dos Estados Unidos, Romário mal foi notado em campo. Se havia equilíbrio em termos de talento, certamente não havia em termos táticos.
A lógica nos diz que é mais fácil colocar em prática qualquer estratégia de jogo quando se tem grandes jogadores. Porém, marcação forte e organização defensiva eficiente dependem bem menos de investimentos pesados do que montar um ataque com Ibrahimovic, Cavani e Lavezzi. E até isso vem se tornando artigo raro na Velha Bota. Esqueça a velha máxima de que as defesas italianas são as mais robustas do mundo. Nem mesmo a virtual campeã Juventus consegue imprimir o ritmo necessário para sobreviver em uma Champions League. Talento não é a única coisa que falta. A preparação física se mostra deficitária, os grandes treinadores militam noutras praças e a última “inovação” tática foi a ressurreição do obsoleto 3-5-2. Infelizmente, a escalada do Calcio de volta ao topo não vai depender apenas de empresários dispostos a gastar os tubos no Belpaese.    
Foto: The Guardian

4 comentários:

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Acho que a combinação de grandes investimentos com trabalhos mais sólidos taticamente podem fazer com que a Itália volte a disputar seriamente as competições internacionais. O problema é que a crise econômica debilitou demais os times da bota, o abismo para os maiores do continente aumentou consideravelmente. Mas sem dúvida deve haver uma reinvenção dentro de campo também.

Michel Costa disse...

Exatamente, Alexandre. Investimento é fundamental, mas, da maneira como os times italianos vêm jogando, dinheiro por si só não vai bastar.
E pensar que há alguns anos a Itália era o berço da tática...

Hellerson Felipe disse...

A Itália vai terá que repensar o futebol como um todo, assim como os alemães fizéram. Torço muito por isso. É angústiante ver o Calcio como está, sendo motivo de chacóta de jornalistas babácas que eu nem vou citar nome. E ver o meu Milan sendo motivo de piada, um gigante desse porte. Ai ai... Vou parar por aqui, se nao vou ocupar o blog inteiro com o que eu penso. Abraço meu amigo!

Michel Costa disse...

Pelo visto, a ameaça de perder mais uma posição no ranking da UEFA já está fazendo com que os dirigentes italianos comecem a se mexer, Hellerson: http://trivela.uol.com.br/o-fracasso-europeu-dos-clubes-italianos-instiga-serie-passar-por-mudancas/
Só não concordo com a tese de que o problema é apenas financeiro. Fosse assim, Portugal não estaria ameaçando, pois os lusitanos ainda estão abaixo em termos de faturamento.

Abraço, meu camarada!