quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Pep, o que faremos?

Tito Vilanova ainda convalescia da retirada de um tumor da glândula parótida enquanto assistia o seu Barcelona enfrentando o Villarreal pela Copa do Rei. De repente, toca o telefone e ele ouve uma voz familiar do outro lado da linha: “Tito, o que faremos?” Era Pep Guardiola. O então técnico blaugrana estava preocupado com o andamento da partida e queria a opinião de seu auxiliar e amigo para encontrar uma solução que veio após o diálogo.
Durante a Era Guardiola, a pergunta mais formulada girava em torno de sua competência como técnico. Pep era mesmo um treinador revolucionário ou o mérito residia na qualidade do grupo composto por jogadores do calibre de Messi, Xavi e Iniesta? A resposta mais sensata provavelmente estava em reconhecer a importância das duas coisas. Conforme a história de sua empreitada era contada, algumas pistas apontavam que o mundo estava diante de um personagem incomum. Antes de assumir o Barça, Guardiola viajou à América do Sul para se encontrar com Marcelo Bielsa e debater futebol com o argentino. Dali, e de suas próprias convicções, nasceu um dos maiores times da história, uma equipe capaz de encantar o mundo com um toque de bola sensacional aliado a um sentido de marcação quase militar.
Mas outros pontos foram notados durante o percurso. O lateral Daniel Alves não soou exagerado quando definiu o ex-comandante como gênio. Por sua vez, o goleiro Víctor Valdés surpreendeu este blogueiro ao dizer que a maior qualidade do ex-volante era encontrar soluções para combater os pontos fortes de seus adversários. Obviamente, tratava-se de um elogio, porém, não deixa de ser curioso notar que o treinador admirado por fazer sua equipe atuar de maneira tão envolvente tivesse como ponto forte saber neutralizar seus rivais.
É bem provável que a atual fase irregular do Barcelona tenha na ausência de Guardiola sua principal causa. Assim como o antigo chefe, Tito Vilanova conhece cada canto do clube e era a escolha mais lógica para uma diretoria que planejava a continuidade do trabalho. Contudo, é quase impossível esperar que outro profissional não tomasse nenhuma decisão pessoal. Aos poucos, o Barcelona vem revelando um novo repertório que inclui maior verticalização das jogadas, tiros de meta “rifados”, diminuição de escanteios curtos, menos variações táticas e, sobretudo, menor movimentação ofensiva. Não por acaso, o rendimento técnico caiu. Se isso será definitivo não se sabe, mas talvez uma ligação para um velho amigo ajude a recolocar as coisas em seu devido lugar.
Foto: AP

10 comentários:

Douglas Muniz disse...

E ai Michel, tudo bem?! Me parece que o Tito vem tentando mudar um pouquinho a concepção de jogo, mas nessa tentativa de mudança, vem esbarrando um pouco nesses aspectos que decaíram o rendimento do Barça. Talvez seja implementar uma idéia de jogo um pouco mais "comum" nesse estilo. Um dia li numa coluna da Folha de São Paulo que falava dessa visita de Guardiola á casa de Bielsa, uma das equipes que Pep gostava bastante era o México, quando comandado pelo Ricardo Lavolpe, que no ideal dele era um time que visava ser agressivo sem perder o nível e a competitividade, tanto que perdeu para a Argentina somente na prorrogação do Mundial 2006...


Abraço!!

Michel Costa disse...

Bem lembrado, Douglas. Lavolpe também está entre as influências de Guardiola. O toque de bola sempre foi uma característica do clube catalão, mas a intensidade do jogo atual foi implantada por Pep. O time de Rijkaard não pressionava tanto. Com Guardiola, a posse de bola barcelonista se tornou insuperável por duas razões: A capacidade técnica do time para manter a posse e o poder de marcação para recuperá-la rapidamente quando o time a perdia.

Abraço.

Douglas Muniz disse...

Sem dúvida, outra influência de Pep era Angel Cappa, técnico argentino. Ele trabalhou com Menotti no Barcelona (que tinha Maradona e Schuster), Boca Juniors e Peñarol e com Valdano no início da década de 90 no Tenerife (que tinha Redondo e Pizzi) e no Real Madrid como assitente técnico. Ele também tinha a concepção de jogo baseada na posse de bola. No Huracán de 2009, time que foi vice-campeão do Clausura, era baseado no toque de bola, até hoje esse time é lembrado por isso, era o chamado "Tiki-Tiki de Los Angeles de Cappa". No meu blog eu escrevi sobre esse time: http://lacopasemira.blogspot.com.br/2012/02/grandes-times-da-historia-huracan-2009.html .

Abraço!!!

Danilo disse...

Os problemas maiores desse Barça recente é a zaga e os pontas, nem vou citar o goleiro (Aliás problemas nem tão recentes). Zagueiros, de preferência, de origem (Chega de Mascherano!). Os pontas Alex Sánchez e Pedro Rodriguez não fazem uma jogada individual e dão poucas opções de passe para Xavi, Iniesta e Messi (Por isso do "toquinho", ao meu ver, pouco vertical). O Barcelona neste momento precisa provar ter a melhor categoria de base do mundo (Se é que tem...). E não fazer pensar que aquela geração histórica era uma exceção...

Michel Costa disse...

Ótimo post, Douglas. Não conhecia tão a fundo essa versão do Huracán. Belo trabalho.

Abraço.

Michel Costa disse...

Realmente, Danilo. O Barcelona montou grandes times ao longo de sua história, mas este é o primeiro onde a força está quase toda nos canteranos - conto Messi aqui, claro. E, sinceramente, desconfio que, nesse nível, deve ser o último. O maluco do Andrés Sanches tentou dizer isso, porém, foi massacrado por nossa imprensa sem que a opinião fosse sequer ponderada.

Abraço.

Danilo disse...

Acho que você fez um texto sobre esse assunto. Está super-atual.

Michel Costa disse...

Escrevi sim, Danilo. É este aqui: http://alem4linhas.blogspot.com.br/2012/04/e-se-andres-estiver-certo.html

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Concordo com o Danilo na questão dos problemas atuais do time: O ataque sem o Villa, primeiro com a contusão e agora sem estar na melhor fase sofre um pouco; o A.Sanchez é mais um solista, um cara para contra-ataque do que um um parceiro técnico para o Messi; a zaga, sem a força e o entrosamento de dois anos atrás deixa o time tendo de correr atrás do placar muitas vezes o que desgasta mais os meias e o Xavi não é mais um garoto. O Tito precisa encontrar o equilibrio aí, além de realmente ver se a base catalã pode ajudar em alguma coisa.

Michel Costa disse...

Verdade, os desfalques também pesam. Mas Tito fez algumas mudanças que, de certa maneira, independem dos nomes que estão em campo. Exatamente por isso, não cravei que o Barça está em queda livre e sim que precisa rever alguns pontos.