quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Estátua viva

Por aqui, convencionou-se dizer que as desculpas dos jogadores brasileiros quando estes não se adaptam ou deixam o futebol europeu são esfarrapadas. A velha história de que “o técnico não gosta de brasileiros” tornou-se piada instantânea sem a preocupação de avaliar com exatidão o que realmente se passou entre atleta, treinador e clube. Logicamente, também existe quem compra qualquer invenção e assume postura pachecóide para defender os brazucas.
Contudo, a saída do meia-atacante Alex do Fenerbahçe tornou-se um estranho caso de unanimidade. Praticamente toda a imprensa esportiva criticou o técnico e a cúpula do clube nesse confuso caso. A versão de que o treinador Aykut Kocaman teria inveja de suas marcas e que por isso o afastou do time foi aceita sem maiores questionamentos. Imagino que tal ausência de contraponto acontece porque Alex sempre mostrou ser um sujeito tranquilo e profissional, porém, existem indícios de que a história pode ter outros elementos.
Em sua página oficial, Alex publicou uma nota de esclarecimento em que procura descrever seus últimos dias como capitão do Fener. Em dado momento, quando explica sua última reunião com Kocaman, escreve: Eu sou o treinador e a liderança do time, mas você é muito grande e forte. Não posso ter você contra minhas ideias dentro do vestiário. Por isso tomei essa decisão".  Ou seja, ao que tudo indica, a versão do treinador é a de que Alex trabalhava contra suas ideias dentro do grupo e por isso tomou a decisão de afastá-lo, medida logo referendada pelo presidente Aziz Yildirim que abriu as portas para sua saída.
No fim, como é comum nos imbróglios, ficaram as palavras de um contra o outro. O que me causou espécie foi o abraço coletivo à versão do jogador, sem nenhuma contestação do que de fato estava ocorrendo nos vestiários do time aurinegro. O que mostra que a credibilidade de um personagem pode muitas vezes se sobrepor ao espírito investigativo de nosso jornalismo esportivo.   
Imagem: Uol     

6 comentários:

Yuri disse...

Desta vez eu acredito que o brasileiro, no caso o Alex, tenha menos culpa que o treinador. Principalmente por um fato que me deixou estarrecido.

Todos sabemos que as torcidas turcas são doentes de fanáticas... mas em frente à casa do Alex, ficaram milhares de torcedores do Fener fazendo vigília porém era possível ver camisas do GALATASARAY E DO BESIKTAS!!! Eu não sei por que, mas que isso significa algo anormal, isso é.

Foi ventilado que o terinador tem bons contatos dentro do clube, mas Alex mencionou algo surpreendente: a conversa com o presidente deu-se em TRÊS MINUTOS! Foi bem sumário o negócio. Talvez nunca saberemos, mas fica a certeza de que ele era um Deus pros torcedores.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Pensei a mesma coisa Michel; compraram a versão do Alex de forma automática; não que ela não possa ser verdadeira, mas poderiam realmente fuçar mais. Fica claro que, por ele se expressar bem e ser um cara com um futebol meio que "idealizado" por aqui (o cara que joga muito e não foi para uma Copa), a mídia deu total apoio para ele. Não que ele não jogue, mas isso pesou no julgamento do caso.

Se o que ele disse foi verdade, penso que o clube desvalorizou muito o profissional, já que tinham uma relação boa com ele, até o episódio. Tudo bem querer bancar o que o técnico propôs, mas não precisavam descartar o jogador assim, poderiam tentar controlar o caso. Sobre a idolatria ao jogador, concordo com o que o Yuri relatou.

Danilo disse...

Michel, pode colocar outro tipo de jornalista: "O jornalista amigo". Não que todos que defendam a versão do Alex (apesar de ter dito nada contra o técnico)sejam amigo dele. Mas parte é. Bastou juntar o fato de o técnico ser o maior artilheiro do Fenerbahçe + Alex chegar perto da marca + a demissão do seu companheiro = um julgamento de inveja sem provas para defender o "camarada". Outro exemplo é o Kaká. Isso não é jornalismo. Não basta informar, tem que apurar, checar a veracidade. E o mais grave é misturar a parte profissional com a vida particular. Usando um veículo de muita importância para sociedade. Assim, ajudando a prevalecer a endemia do pachequismo.

Michel Costa disse...

Acho que os torcedores rivais estavam felizes pela saída do seu carrasco, Yuri... hehe.

Quanto a conversa com o presidente, ao que tudo indica, a decisão já havia sido tomada. Difícil acreditar que um dirigente afastaria seu maior ídolo baseando-se exclusivamente na suposta inveja do técnico. Não digo que essa versão é mentirosa, mas é bem estranha.

Michel Costa disse...

Isso realmente me incomodou, Alexandre. Não houve busca por mais informações. Nem mesmo vi versões sobre o que os jornalistas turcos pensavam sobre o caso. Todos compraram a versão da inveja e ficou por isso mesmo.

Michel Costa disse...

Essa é uma ótima definição, Danilo. "Jornalista amigo" é aquele que sobrepõe a impressão pessoal de algum personagem do esporte acima dos fatos. Algo semelhante ocorre com Kaká, mas, do caso do jogador do Real Madrid, o protecionismo parece relativamente menor.