domingo, 21 de outubro de 2012

Espanha não é modelo para o Brasil

Como é normal em todo o mundo, equipes que conquistam muito se tornam referência em seu meio. Por vezes, esse domínio é tão amplo que as pessoas passam a acreditar que a maneira como esse time atua é a mais correta e que aqueles que não estão vencendo com a mesma constância estão automaticamente errados. A hegemonia espanhola no futebol talvez seja o exemplo mais claro disso. Hoje, para muitos, qualquer seleção que almeja chegar ao topo precisa repetir a filosofia da Roja. E, logicamente, aplicam essa tese à Seleção Brasileira que disputará a próxima Copa do Mundo em seu território.
Discordo dessa visão. Como disse Mano Menezes em sua entrevista ao diário Marca, não se pode acordar um dia e decidir jogar como a Espanha. Seria necessário implantar sua filosofia desde a base e, só assim, colher os frutos tempos depois. Durante anos, formamos jogadores de força e/ou velocidade e mudar isso de uma hora para outra é impossível. Além disso, não parece inteligente tolher características positivas do nosso futebol como o drible e o bom aproveitamento no jogo aéreo em nome de um toque de bola que, por vezes, é quase redundante. Ter a bola é importante, óbvio, mas propor o jogo é muito mais ter a iniciativa e criar oportunidades do que conservar a bola.
O que o futebol brasileiro precisa é rever os próprios erros e reencontrar seu melhor caminho. Precisa voltar a produzir volantes e meias capazes de marcar e armar o jogo e ensinar aos laterais que sua primeira função é defender. Precisa que nossos jogadores de frente aceitem que eles devem participar do jogo quando não tiverem a bola. Precisa que nossos treinadores entendam que jogar no erro do adversário é uma circunstância dentro de determinada jogada e não uma opção para uma partida inteira. Precisa aprender com o que o resto do mundo está fazendo, mesmo que muitos achem que um país é pentacampeão não carece de mais nada.
Imagem: AFP

4 comentários:

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Penso que principal não é transplantar um estilo e sim pegar o que cada influência tem de melhor e você criar algo de bom, sem perder, no caso brasileiro, a essência de bom futebol e toque de bola ofensivo. Acho que todos os fatores básicos que você lembra que o Brasil deve retomar são importantes, formação de jogadores, estilo, etc. mas me parece que é algo meio complicado de vermos por aqui antes da Copa, onde viveremos um clima de vencer ou vencer a qualquer custo. Como disse o Tostão na última coluna, o futebol brasileiro não deve ser o mesmo depois de 2014, para o bem ou para o mal (esperemos que para o bem).

Michel Costa disse...

Acho de mais nada precisamos repensar a maneira como nossos técnicos estão enxergando o futebol, Alexandre. Sábado, durante a transmissão de Lazio x Milan na Fox, Mário Sérgio disse algo que simboliza bem como pensa a maioria dos técnicos brasileiros nos dias de hoje: "Posse de bola é ilusório. O ideal é armar seu time defensivamente e jogar no erro do adversário". E é exatamente assim que nossos treinadores têm pensado nos últimos anos com Muricy e Celso Roth como os maiores exemplos dessa "nova escola brasileira". Embora eu esteja certo de que essa mentalidade está na contramão do que o futebol vem mostrando, também acredito que os técnicos locais pensam assim porque julgam que essa é a melhor forma para se chegar à vitória. Assim, para que essa visão tacanha seja quebrada, é preciso haver derrotas pesadas (como a do Santos para o Barcelona) e/ou vitórias em sequência do estilo que podemos chamar de moderno.
Para mim, esse é o princípio de tudo.

Abraço.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Concordo plenamente sobre o estilo de contra-ataque e bola aérea que domina hoje em dia o futebol brasileiro; até admito que ele possa ter pensado em dizer que a posse de bola, não for produtiva, não vale nada, mas também acho (e ele já mostrou isso como técnico, nos fiascos que ele proporcionou) que é adepto do jogo mais feio que estamos vendo por aí. Mario Sergio, é bom lembrar, é aquele que colocou o Rivaldo de VOLANTE (!!!) para marcar o Casagrande em um Corinthians x Flamengo em 1993.

Michel Costa disse...

Mário Sérgio foi (ou é, sei lá) um dos técnicos mais retranqueiros que eu já vi no futebol brasileiro. Esse episódio com o Rivaldo é emblemático. Os técnicos brasileiros precisam urgentemente de uma renovação voltada para trazer o futebol nacional para o que o mundo tem de mais moderno. Esse é um tema que gostaria de tratar mais vezes aqui.