domingo, 15 de janeiro de 2012

Nem tudo é Barcelona.

Como era de se imaginar, o que mais chamou a atenção no programa “Arena Sportv” da última sexta-feira foi a crítica do comentarista Müller à transferência de Rivaldo para o Kabuscorp de Angola. Chamado de “praticamente ex-jogador”, o meia-atacante não deixou barato e, via Twitter, classificou o ex-companheiro de Palmeiras como “fracassado”.
Sinceramente, essa polêmica pouco me importa. Cada atleta sabe o momento de parar e se o pentacampeão se sente à vontade para atuar no país africano, essa é uma decisão que só cabe a ele. Na verdade, o que mais me fez refletir foram as declarações de Frank de Boer, técnico da Ajax e adversário do Palmeiras em amistoso disputado no sábado. Frank, ex-jogador do time de Amsterdã e da seleção holandesa, observou alguns aspectos do futebol brasileiro que merecem destaque.
Nesta semana, já havia citado a atuação do alviverde em partida do Brasileirão 2011, onde, segundo ele, os comandados de Felipão atuaram num anacrônico 4-2-2-2, sistema fartamente utilizado nos anos 1990, mas atualmente em desuso. Mais preocupante foi o comentário durante o programa, onde enfatizou que os times brasileiros abusam dos chutões e que dependem muito da habilidade dos atacantes. Ainda segundo o holandês, as jogadas do Ajax nascem da defesa, passam pelo meio-campo e o gol não é marcado necessariamente pelos homens de frente. Assim como Guardiola havia feito na entrevista coletiva pós-Mundial, essa foi mais uma cutucada em nosso estilo de jogo vigente. Mais um comentário a ser somado ao urgente debate sobre o futebol que praticamos em contraponto ao futebol que queremos e/ou deveríamos praticar.
Por outro lado, é bom deixar claro: Uma coisa é a revisão mais do que necessária dos rumos de nosso futebol; outra, bem diferente, é achar que a distância futebolística entre Brasil e Europa é a mesma evidenciada pela partida entre Santos e Barcelona. Após o massacre de Yokohama, muitos se apressaram em dizer que o futebol europeu era infinitamente melhor do que o nosso e que a aula aplicada pelo Barça era a prova definitiva disso. Não é bem assim. A goleada evidenciou apenas que o time catalão é muito superior à equipe de Muricy, algo que todos sabíamos ou, pelo menos, deveríamos saber. No entanto, se existe um time que não serve como parâmetro justamente por ser completamente fora da curva este é o Barcelona. Não por acaso, é tão especial.
Palmeiras 1x0 Ajax, um amistoso bem disputado, mostrou outra realidade. Excetuando a elite do Velho Continente – composta por no máximo uma dúzia de times – o restante se assemelha e muito ao que vemos em nossos gramados. Via de regra, o futebol contemporâneo é definido, em primeira instancia, pelo montante investido. Neste aspecto, os Godenzonen estão muito mais próximos dos brasileiros do que de seu “herdeiro” Barcelona. Mesmo que sua filosofia seja elogiável e até invejável, pois remete a uma prática que acreditamos ser a ideal, sem o poderio financeiro dos gigantes europeus não é possível manter os craques que fazem a diferença. Embora seja importante dizer que essa constatação não signifique afirmar que não há o que melhorar em nossa prática atual, pois, sem dúvida, há muito coisa a ser feita.
Imagem: ESPN

4 comentários:

marcus Buiatti disse...

Olá Michel!

Vejo de forma um pouco diferente, embora a conclusão a que chego nesta comparação futebol europeu ATUAL x futebol brasileiro ATUAL (clubes, claro) é bem parecida à sua.


As ressalvas que faço são:

1. Ajax é terceiro escalão da Europa, HOJE. A meu ver o primeiro é composto por Barça, Real, Manchester´s, Bayern, Milan. o segundo por Inter (embora tenha elenco pra ser do primeiro), Liverpool, Porto, Tottenham, Arsenal, Juventus...O terceiro, onde se situa o Ajax (e sem estar na proa) composto pelos Valências, Ajax, Lyon, Lille, etc.

Pra mim, os melhores times, ou melhor, elencos, do futebol brasileiro (Santos, Fluminense) estão ao nível do segundo escalão, embora abaixo de boa parte dos times ali (principalmente em termos de jogo coletivo). Os outros grandes brasileiros (inclusive o Corinthians) estão mais ou menos ao nível do terceiro escalão europeu.

2. Já conversamos sobre isso antes no twitter: acho um único jogo, e pior ainda, amistoso, um parametro que SERVE para análise, mas com ENORMES ressalvas. Veja que nesta mesma semana, apenas pra ficar em um exemplo,o Corinthians perdeu da Portuguesa em jogo equilibrado (e são times de padrão diferente). Aliás, o proprio Palmeiras no brasileirão do ano passsado ganhou um jogo e empatou outro (jogando melhor) contra o campeão brasileiro, Corinthians. O Ajax já perdeu de 6 x 0 da Juventus no Teresa Herrera de 95 ou 96.

Seria um erro, por exemplo, caso o Santos empatasse ou perdesse de pouco contra o Barça, julgar a distância dos times baseado apenas neste parametro.

Eu acompanho bem o Ajax e vi mais de 5 jogos deles no segundo semestre do ano passado. o Ajax começou muito bem com De Boer mas foi caindo, caindo desde o fim do segundo semestre, tanto assim que está em quarto no mediocre campeonato holandes (que mesmo assim eu adoro...hehehe). Aliás, ontem foi desclassificado, EM CASA, contra o AZ pela copa da Holanda. Os dois melhores jogadores do Ajax, motores do jogo ofensivo do time, Eriksen (que eu acho superestimado, mas é um bom jogador e seguido por grandes clubes europeus) e Janssen jogaram muito abaixo do que sabem contra o Palmeiras, por exemplo. Foram os piores em campo, o que indica que o time holandes jogou abaixo do que pode.E jogou bem abaixo do que poderia, pra quem acompanha o Ajax.

Eu diria, conhecendo o Ajax e o Palmeiras, e não julgando apenas pelo amistoso, que o Ajax é melhor que o Palmeiras que iniciou o jogo, uns dois degraus apenas. Pra mim o Ajax ficaria entre os 8 do brasileirão, abaixo dos primeiros, mas com chance de Libertadores.

Enfim, em resumo, acho que o nível dos melhores clubes brasileiros está abaixo do primeiro escalão (bem abaixo...) e pouco abaixo do segundo escalão, salvo alguns times com elencos muito fortes como o Flu e o Santos (embora coletivamente deixem a desejar por vezes).


Gde abraço, amigo, e desculpa novamente a prolixidade!

Michel Costa disse...

Salve, Marcus!

Creio que concordamos no centro da questão. Não quis dizer que o Ajax é um time de segundo escalão da Europa, pois, se formos dividir em camadas, o time comandado por Frank de Boer pode ser de 4ª ou 5ª linha. Assim como o Palmeiras atual não é um time do nosso primeiro escalão. Também não me amparo no resultado do amistoso, mas na maneira como ele foi disputado. Havia um jogo ali. Assim como houve jogo em quase todos os confrontos recentes.
No entanto, na final entre Santos e Barcelona, praticamente não houve
e a pseudagem tratou de afirmar que aquela era a realidade Brasil/Europa hoje. Não é bem assim. O Massacre de Yokohama mostrou para o mundo o quanto o Barça é absurdamente melhor que todos. Até porque, na Europa, o time catalão costuma atropelar adversários com facilidade semelhante.
Sei que é difícil termos uma medida exata da distância entre os times brasileiros e os melhores do Velho Continente, mas usar o Barça como parâmetro me pareceu intelectualmente desonesto da parte de alguns.

Um abraço, meu camarada.

marcus Buiatti disse...

Grande Michel,

Antes que nada, peço desculpas. Depois que postei, e fui reler, fiquei com vergonha - própria - pois vi que escrevi um "blog" dentro do seu blog. enquanto eu não aprender a ser mais conciso, não vou mais escrever aqui...:P

Falta de respeito com vc e os leitores do blog. Desculpa.

Sobre o tema, pensamos de forma similar, eu apenas fiz a ressalva pela parte do texto que dizia "meia dúzia de times europeus". Quis fazer um contraponto, pois acho que na média os grandes clubes brasileiros estão abaixo de mais de meia dúzia. Mas vc tem razão, times como o Santos, por exemplo, só perdem em força - ao menos pensamos assim eu e vc - para os top europeus.


Sobre o Barcelona e o uso que se fez da partida de Yokohama, estamos 100% de acorrdo.


De qualquer forma, como já te disse uma vez, sobre este tema - futebol europeu x brasileiro ATUAL - eu mudo de opinião quase toda semana...hehehe...já escrevi aqui que considerava o brasileirão o 2º melhor campeonato do mundo.

um gde abraço e é sempre bom "conversar" com vc!

Michel Costa disse...

Marcus,

Não cheguei a nomeá-los, mas escrevi "uma dúzia de times" e não "meia dúzia". E, na minha opinião, são eles: Barça, Madrid, Milan, Inter, Juve, United, City, Chelsea, Liverpool e Bayern. Arsenal e Dortmund completariam os doze times, mas tenho minhas dúvidas se são tão mais fortes assim. Valencia, Tottenham, Napoli, Roma, Porto, Benfica e alguns outros completariam uma elite europeia que realmente não é numerosa.

Um abraço, meu amigo, e não se preocupe com o tamanho dos comentários, pois, além de engrandecer o debate, ainda é uma mostra da estima que você tem por este espaço.

Valeu!