terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Ganso não é tudo isso.

É oficial: O Santos abriu mão da compra dos 10% dos direitos econômicos do meia Paulo Henrique Ganso que pertenciam ao atleta e permanece detentor de apenas 45% do total. Agora, a empresa DIS se tornou parte majoritária (55%) numa futura negociação do jogador do Santos, embora isso não signifique que uma possível transação acontecerá em breve, uma vez que os direitos federativos ainda são do campeão sul-americano.
De fato, não é surpresa a falta de interesse do clube da Baixada em adquirir um percentual maior de Ganso. Além de problemático, o jogador não tem propostas reais da Europa e passou boa parte dos últimos 18 meses no departamento médico. Mesmo assim, o presidente Luis Alvaro Ribeiro segue afirmando que não pretende negociá-lo e conta com seu futebol até fevereiro de 2015, mês que marca o término de seu contrato.
Tratado como “ave rara” no Brasil, Ganso é um dos últimos representantes dos quase extintos meias clássicos, tipo de jogador que ainda faz os olhos brilharem por aqui. O porte esguio, o passe refinado e a visão de jogo remetem aos antigos armadores que eram marca registrada das equipes do passado. Em forma, o camisa 10 seria o maestro da Seleção Brasileira na Copa de 2014. Para os saudosistas, não existe coisa melhor.
Particularmente, não o vejo assim. Até me surpreendo quando ouço alguém dizendo que ele é melhor do que Neymar. Lógico que Ganso é um bom jogador, extremamente técnico e inteligente com a bola nos pés, mas não é muito mais do que isso. Falta-lhe intensidade sem a bola e profundidade para chegar ao ataque com mais contundência. Atento a isso, o técnico Muricy Ramalho disse que vem orientando o meia a se aproximar mais da área, bater mais a gol, porém, ainda falta muito para que ele se torne o que muitos imaginam que ele já é.
Mal comparando, Ganso me lembra o argentino Riquelme que fracassou no Barcelona por necessitar de um esquema tático que lhe desse toda a liberdade para criar sem precisar marcar. Um tipo de luxo que nenhum grande clube pretende oferecer. Não por acaso, enquanto Real Madrid e Barcelona oferecem mundos e fundos ao habilidoso e goleador Neymar, as propostas de Milan, Inter e PSG por Ganso nunca se concretizaram.
O pouco interesse do mercado internacional se deve, sobretudo, a seu estilo anacrônico. Enquanto meias como Xavi e Iniesta são extremamente dinâmicos, o paraense é daqueles que acredita que um craque não precisa correr atrás de ninguém. Com essa convicção, não passou de um espectador na final do Mundial de Clubes contra o Barça. Ali, deve ter visto como os meio-campistas modernos devem atuar. Humilde, Neymar disse que aprendeu suas lições. Será que Ganso fez o mesmo?
Foto: Miguel Schincariol/Lancenet

9 comentários:

Riccardo Joss disse...

Perfeito. Agora uma teoria de um amigo sobre o futebol do Ganso ter características similares a algumas do saudoso Sócrates? O Magrão seria um jogador de destaque no futebol do século XXI? Feliz Ano-Novo a todos.

Rodrigo Alves disse...

Mto bom! Concordo com toda a linha de raciocinio, menos com o ponto final: pra mim é crack sim, com mto mais potencial q o Riquelme por ex., e acho q o futebol ainda abriga cracks pouco intensos na partida como bem definiu..a coisa é meio ciclica...os centro-avantes mais pesadoes vao e vem tb. Poderia ousar em dizer q no Real Madrid é só vestir a camisa e ser bem sucedido, sacrificando um pouquinho o Di Maria. No Chelsea nem se fale, mudaria por completo as pretensoes do time. A Italia seria o destino mais facil d se adaptar na minha opiniao! Me irrita tb as limitacoes fisicas q ele mostra em campo..mas eu acredito d+...Abc!

MArcus Buiatti disse...

Posso discordar em parte?


Concordo com o amigo que Ganso precisa aprender a exercer outras funções em campo, sem a bola. Mas acho ele diferenciado, craque (ou projeto de craque, como bem definiu Vickery, hoje, no Redação). O que falta a ele é maturidade, tempo e continuidade após as contusões, e melhorar sem a bola (este defeito que não é dele apenas, mas de 99% dos jogadores ofensivos brasileiros).

Por isso discordo em parte (ou concordo parcialmente). Porque acho sim Ganso diferenciado e com grande potencial - AINDA. MAs acho também, como você, que ele precisa modernizar seu jogo, sacrificar mais sem a bola.

Um adendo: revi Santos x Barcelona 3 vezes. Ganso jogou melhor que Neymar, a meu ver. E recebeu todas as criticas...Neymar não (até porque se comportou muito bem nas declarações pós jogo). Ganso vem gerenciando mal a carreira e isso conta na imagem pública dele, TAMBÉM.


Abs!

p.s.:
Revi dias desses Boca x REal, final da Toyota de 2000. Inacreditável imaginar que Riquelme não tenha chegado mais alto. ele foi o MVP da partida, jogo em que Roberto Carlos, Figo, quase todo mundo jogou muito (e o REal tinha um grande time, e o Boca um ótimo time). MAS Riquelme foi o melhor, de longe. Acho que a ele faltou cair no lugar certo, na hora certa (Van gaal e o Barcelona não era esse lugar). E também mais maturidade, dizem que ele é complicado, sente falta da Argentina, quer ser "mimado", etc.

Marcus Buiatti disse...

Michel, desculpe alongar - sou prolixo..

Sempre tive na minha cabeça uma idéia clara: o cara que dá assitência é mais relevante que o definidor. Há inúmeros exemplos de atletas limitados que foram artilheiros, históricos até: Dadá maravilha, Inzaghi, Gilardino, Vieri, etc. Mas não se achará atletas limitados que foram grandes meias, criadores de espaço, do passe final.

Esta função criativa exige muito mais - tecnicamente e mentalmente - que a definição, por incrível que pareça à maioria, que venera o artilheiro mais que o meia, quase sempre.

Por isso acho Ganso e sua maturidade e desenvolvimento profissional (tecnico e tatico) essencial pro Brasil. Há poucos "Gansos" no mundo, inclusive.

Eu achava Ganso melhor que Neymar, no inicio, por causa das razões acima. Mas quando Ganso saiu do time, percebi que Neymar era além de um grande definidor, habilidoso e tal, um grande criador. Neymar, em resumo, sabe fazer tudo que se exige ofensivamente de um atleta: criar espaço, dar o passe final, definir.

Abs e desculpe a prolixidade...

Michel Costa disse...

Tem alguma coisa a ver sim, Riccardo. Porém, Sócrates chegava mais ao ataque, gostava de marcar gols (embora não comemorasse com muito entusiasmo...hehe) e chegou a jogar no ataque. Ganso atua mais recuado, me lembra mais o Rui Costa e talvez o estilo do português seja o ideal para o santista. Ou seja, se tornar um meia cerebral, mas com muita participação no jogo. O jogador, o Santos e a Seleção ganhariam muito com isso.

Abraço.

Michel Costa disse...

Sinceramente, não vejo esse potencial todo no Ganso, Rodrigo. Gostaria que você estivesse certo, mas, neste momento, imagino o Ganso com um papel na Europa semelhante ao de outro 10 santista: Diego. Ou seja, um bom jogador, mas que nunca chegou ao topo.
Como torcedor da Seleção, espero estar enganado.

Abraço.

Michel Costa disse...

Sua visão sobre a participação de Ganso é semelhante a do Pedro Venâncio, Marcus. Ele também acha que o meia jogou bem.
Eu, que só vi a final uma vez, tenho uma opinião parecida com a do Bertozzi: Ganso foi um espectador dentro de campo na maior parte do jogo. E quando penso em como o Santos precisou de mais participação no meio, mais eu acho que Ganso se omitiu. De qualquer forma, tenho a partida gravada no HD da Sky e, como estou em férias, vou tentar arrumar um tempo para revê-la. Pode ser que eu mude de ideia... hehe.

Abraço e sinta-se à vontade para escrever o quanto quiser. Sua participação é sempre bem-vinda :-)

Thiago Ribeiro disse...

bem, cada vez mais eu deixo de ver Ganso como um 10.
Sobretudo um 10 clássico. Quem me disser o que ele tem a ver com Pelé, zico, Maradona e Zidane me avisa.

Pra mim ele está mais para 8. Deveria fazer o mesmo movimento que aconteceu no futebol há 10 anos atrás, qdo trequartistas foram recuados em direção aos volantes, virando Registas. Foi o que aconteceu com Pirlo, por exemplo.

OU com Renato, hoje 8 no Botafogo, foi box-to-box no Sevilha e 2º volante no Santos, mas iniciou a carreira como 10.

ainda hoje tipos como Pirlo e Renato desfilam qualidades tanto na manutenção da posse de bola, passes curtos e longos, bolas paradas e assistências. ESSA É A FUNÇÃO DE GANSO. Só que ganhar TODA A LIBERDADE do mundo da única posição livre do campo de futebol hoje (junto com 1 dos zagueiros) implica em marcar. Pirlo e Renato tiveram que aprender a fazer isso (e salvo engano, zico no fim da carreira no Flamengo).

Adendo: Zidane nos últimos anos no Real já não era o homem logo atrás do atacante, e sim jogava atrás deste trequartista, como hoje joga, no Milan, Seedorf.

Outros jogadores fizeram o movimento contrário, justamente por sua explosão em pouco espaço, e capacidade de explosão. Gerrard era 8 no Liverpool e hoje (embora ostente o mesmo número) joga de 10.

Xavi é outro exemplo. Como 6 (primeiro volante) foi reserva a vida toda, quando começou a avançar hoje só está abaixo de Messi.

Abraçõs.

Michel Costa disse...

Salve, Thiago!

Considero Ganso um tipo diferente de jogador em relação aos que você citou. Para mim, o santista é um meia puro, tipo Rui Costa e Zidane. Maradona, Zico e Pelé são os chamados meias-atacantes com função de chegar mais à frente. Há algum tempo, em entrevista, Muricy disse que gostaria de ver Ganso se aproximando mais da área, tomando gosto pelo gol. Sei não, por ele não ter muita velocidade e dinâmica ofensiva, acredito que a melhor posição para o camisa 10 é mesmo na armação, jogando por trás dos atacantes. De qualquer modo, creio que Ganso precisa se tornar mais efetivo em campo caso realmente deseja se tornar um dos grandes.

Abraços.