A torcida
turca sempre foi conhecida por seu fervor, indubitavelmente, um traço da
cultura e da alma do povo otomano. Quando as seleções de Turquia e Brasil deram
o pontapé inicial do amistoso disputado no Estádio Sukru Saracoglu, os
torcedores estavam apoiando seu selecionado como sempre fizeram. Contudo, além
da indefectível paixão pelo futebol, os turcos também são fãs do talento
brasileiro. Algo que Neymar & Cia estavam dispostos a oferecer em Istambul naquela
noite.
Não foram
apenas quatro gols e nenhum sofrido. A Seleção Brasileira de Dunga tem
realizado boas partidas dentro das possibilidades de um novo ciclo. A
intensidade cobrada nos treinamentos é vista em campo e o comportamento tático
tem sido o mesmo que marcou a primeira passagem do técnico. Obviamente, ainda
se espera um volume maior de jogo no meio-campo, mas a transição afoita que se
viu no Mundial deste ano está sendo solucionada com uma saída de bola mais
tranquila, de pé em pé, e com a presença dos dois volantes. Os lançamentos
longos para o centroavante escorar para quem vem de trás estão ficando cada vez
mais no passado.
Todavia,
o que realmente transformou o amistoso vencido pelo Brasil foram as atuações de
Neymar e Willian. O primeiro somando mais dois gols às suas invejáveis marcas,
além de uma série de jogadas que levaram seus marcadores à loucura. O segundo
mostrando por que deveria ter tido mais oportunidades com Scolari. Seu “elástico” sensacional sobre dois marcadores e seu dinamismo com e sem a bola serviram para assegurar espaço
entre os titulares nesse reinício. Atuações suficientes para trazer os adeptos
locais para o lado verde-amarelo da força.
Por
razões óbvias, não será tão simples para a Seleção Brasileira reconquistar sua própria
torcida. As feridas da Copa do Mundo ainda estão abertas e não serão cinco
vitórias em amistosos que transformarão toda a frustração em incentivo. Para essa
missão, as Eliminatórias serão muito mais determinantes. Somente diante da
torcida brasileira será possível dimensionar até que ponto o revés no Mundial
pode ser superado. Para o primeiro momento, o que vimos até agora pode ser
classificado como auspicioso.
Porém,
como nem tudo são flores, os bastidores da Seleção continuam mais quentes do
que o desejado. Após o corte do lateral
Maicon por ter se apresentado muitas horas depois do combinado, foi a vez
de Thiago Silva polemizar sobre a perda da tarja de capitão para Neymar. À
imprensa, o zagueiro disse que se sentia chateado pelo acontecido e que o jovem
atacante não o havia procurado para conversar sobre o assunto. Em seguida,
diante da enorme repercussão, Thiago recuou, apareceu numa descontraída – e oportuna
– foto com Neymar e culpou a imprensa pelo suposto superdimensionamento do
episódio. Por sua vez, Dunga procurou sepultar a questão de forma apaziguadora,
mas firme. Deixou claro que todos têm o direito de se manifestar, mas que a
Seleção possui uma hierarquia.
Se a
atitude do defensor terá mais desdobramentos, possivelmente só saberemos em
futuras convocações. Ex-atleta do Milan, clube conhecido pelo apreço por seus
líderes históricos, e atual dono da braçadeira no PSG, é compreensível que
Thiago Silva tenha se apegado à condição de capitão da Seleção Brasileira. No
entanto, a crise de choro nas oitavas de final perante o Chile, onde sua fraqueza
poderia ter desestabilizado o grupo por completo, foi determinante para que
todos percebessem que ele não tinha o perfil para a missão. Ainda entre os
melhores zagueiros do planeta, Thiago pode ser muito útil para o Brasil. Nesse
cenário, cabe ao próprio jogador entender que sua atual aflição pode ser, no
fundo, uma boa notícia. Afinal, ficou bastante evidente que a tarja de capitão
da Seleção se tornou um fardo pesado demais para ele.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: Mowa Press
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