domingo, 9 de novembro de 2014

Neymar e a legião estrangeira

Único brasileiro indicado à Bola de Ouro FIFA 2014, artilheiro do Barcelona na temporada, quinto maior goleador da Seleção Brasileira com 40 gols, capa de grandes publicações, Neymar mostra que está alcançando a maturidade com apenas 22 anos. Até mesmo o “file de borboleta” que sempre o caracterizou ficou para trás. Com 4,5 kg a mais, o brasileiro adquiriu a musculatura necessária para o jogo mais físico que encontrou na Europa. “Ele está ganhando massa, ganhando força e, consequentemente, mais potência”, explica o preparador físico da Seleção, Fabio Mahserehdjian.
Que Neymar se tornou o jogador mais importante da Seleção não é nenhuma novidade. Assim como sua quarta aparição como um dos postulantes à premiação máxima da FIFA também não surpreende ninguém. O que vem chamando a atenção é sua estabilização como um dos grandes nomes do futebol mundial. Antes coadjuvante de Lionel Messi, Neymar começa a dividir o protagonismo no Barcelona com o gênio argentino. Logicamente, a maior liberdade recebida do técnico Luis Enrique e o deslocamento de Messi para uma posição onde se tornou mais “arco” do que “flecha” contribuíram para essa notável evolução, mas nada disso faria diferença se Neymar não fosse o craque que muitos duvidavam ser.
Neste momento, as comparações com Robinho ficaram para trás. Além da origem santista e do gosto pelo drible, pouca coisa os une. Negociado ao Real Madrid em 2005 como novo Ronaldinho Gaúcho, Robinho nunca se afirmou no Velho Continente. E, mesmo na Seleção, sempre pairou alguma desconfiança pelos incontáveis gols perdidos. Por sua vez, Neymar tem se notabilizado não só pelo faro de artilheiro, como pela maestria nas cobranças de falta. A faixa de capitão que agora enverga é apenas mais uma prova de que a pressão de ser a referência não incomoda o atacante. Está cada vez mais claro que o seu patamar é entre feras do calibre de Romário, Ronaldo e Rivaldo.
No entanto, cabe a Dunga estruturar uma equipe que dê suporte ao seu melhor jogador. Um time que funcione bem mesmo num dia ruim do camisa 10 ou em sua ausência. Graças ao nosso inchado calendário que não se interrompe em datas FIFA, a lista de convocados para os amistosos diante de Turquia (12 de Novembro em Istambul) e Áustria (18 de Novembro em Viena) não conta com atletas que militam no Brasil. Portanto, esta será a chance para o técnico observar nomes que ainda não tinham recebido oportunidade neste novo ciclo.
Entre os chamados, destacam-se os retornos do zagueiro Thiago Silva, do goleiro Diego Alves e do meia Lucas Moura. Atravessando boa fase no Porto, Casemiro é mais um indício de que Dunga está à procura de volantes que saibam construir o jogo. Também estreante, Roberto Firmino finalmente terá a chance de comprovar na Seleção tudo o que os mais atentos perceberam no Hoffenheim. Artilheiro da atual edição da UEFA Champions League, Luiz Adriano é o primeiro centroavante convocado após as péssimas apresentações de Fred e Jô no Mundial. Mesmo que a intenção inicial seja a manutenção de uma equipe sem a presença de um nove clássico, não deixa de ser válida a opção de um jogador de área no banco de reservas.
Curiosamente, a nova sensação tupiniquim em gramados europeus ficou de fora da lista. Destaque máximo do Benfica nesta temporada, o meia Anderson Talisca vem chamando a atenção pelos gols e arrancadas fulminantes e já despertou o interesse de gigantes como Chelsea e Manchester United. Convocado por Alexandre Gallo para a Seleção Brasileira sub-21, Talisca está no radar de Dunga e possivelmente figurará em futuras convocações do time principal. Mesmo com todos os seus problemas, o futebol brasileiro tem a capacidade de se renovar como nenhum outro. Resta saber se a nova comissão técnica conseguirá conduzir esse processo de forma satisfatória.

Atualização (10/11): Confirmando sua excelente fase, Talisca foi convocado hoje para substituir o lesionado Lucas Moura nos amistosos diante de Turquia e Áustria. Nada mais justo. 
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagens: Reprodução The Times e AFP

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