Foram
apenas três amistosos, algumas horas de treino e períodos de convivência. Contudo,
os primeiros jogos da Seleção Brasileira sob as ordens de Dunga deram mostras
de que seu estilo de comandar não mudou. Vimos uma equipe aguerrida, buscando
fechar os espaços, renunciando à posse de bola em diversos momentos e vencendo
com alguma dose de sofrimento. Fora de campo, um técnico vibrante e irritadiço
como sempre. De certo modo, é como se os quatro anos que se passaram desde a
eliminação para a Holanda em 2010 não tivessem existido. Mas existiram.
Sendo
pragmático, é elogiável ver o treinador de um selecionado conseguindo impor suas
ideias em tão pouco tempo. A título de comparação, Mano Menezes só conseguiu
esboçar algo parecido quando chegou a dois anos no cargo. No entanto, há uma
diferença crucial: Enquanto Mano almejava alterar o perfil da Seleção, tentando
reimplantar o protagonismo perdido, Dunga optou pelo mais simples, buscando
jogar no erro do adversário, algo que corresponde ao tipo de jogador que o
Brasil produziu nos últimos anos.
Embora
seja difícil saber se Dunga realmente enxerga todo o cenário do futebol
brasileiro e mundial ou se apenas implanta sua visão desse esporte, a verdade é
que ele conseguiu atingir seu objetivo inicial, ou seja, venceu seus primeiros
duelos e viu sua equipe atuar de modo semelhante ao que fazia quando de sua
passagem anterior. Dentro desse cenário, melhor impossível. Porém, dentro dos
anseios do público, a distância para o modelo tido como ideal é grande.
A começar
por sua relação com a imprensa. Pelo menos desde 1990, Dunga vive às turras com
os jornalistas esportivos. Nunca digeriu ter visto seu nome batizando o
fracasso da Seleção no Mundial da Itália. Tanto que fez questão de “dedicar” o
tetracampeonato conquistado nos EUA a esse segmento. E a recíproca é verdadeira.
Na última sexta-feira, no programa “Linha de Passe”, o comentarista José
Trajano fez questão de lembrar que não gosta do técnico. Pouco depois da
vitória por 2 x 0 sobre a Argentina, Mauro Cezar Pereira criticou Dunga pelo entrevero com a comissão técnica rival mesmo
sem saber direito o que tinha acontecido.
Todavia,
mais importante do que vencer a desconfiança da imprensa é o resgate da
competitividade da Seleção. Dunga conseguiu isso em sua primeira passagem, mas
sua equipe tinha como ponto fraco a incapacidade de romper defesas mais
fechadas, preferindo o contragolpe. O problema é que este provavelmente será o
comportamento de 90% dos adversários daqui por diante. Para o Brasil, propor o
jogo é também uma obrigação histórica que um peso de cinco estrelas impõe. Sem dúvida
trata-se do maior desafio deste ciclo.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: Fred Dufour/AFP
2 comentários:
"a verdade é que ele conseguiu atingir seu objetivo inicial, ou seja, venceu seus primeiros duelos e viu sua equipe atuar de modo semelhante ao que fazia quando de sua passagem anterior" - A questao é: Isso(a semelhanca com a passagem anterior) é bom?
Depende, Daniel. Se a ideia for montar uma equipe competitiva, é bom. Mas se pensarmos numa ideia de proposição de jogo como muitos sonham, então a notícia é ruim.
Abraço!
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