domingo, 7 de outubro de 2012

Imagine a festa

Você certamente já assistiu ao comercial acima. O vídeo publicitário da cervejaria Brahma manda um recado para quem está pessimista com a Copa do Mundo no Brasil, mas consegue apenas soar ridículo. Salvo os exageros de sempre, as preocupações com o Mundial de 2014 são absolutamente pertinentes. Quem acompanha os noticiários ligados ao evento já se deparou com todo o tipo de escândalo, desde o não cumprimento de prazos até obras ou serviços superfaturados.
Contudo, existe uma corrente que considera a simples existência de problemas no País como impedimento à realização de qualquer tipo de evento enquanto essas questões não forem totalmente sanadas. Trata-se da mesma teoria que diz que o homem não deveria ir à Lua porque existe fome no mundo. São as mesmas pessoas que defendem que até o carnaval – festa mais do que enraizada em nossa cultura – não é legítimo porque surgiu na Europa ou por também possuir espaços elitizados. São os mesmos que colocam todas as nossas mazelas num mesmo saco para dizerem que nossos problemas não dão direito a nenhum tipo de diversão que envolva gastos públicos.
Bem, não é assim que eu vejo. A grande questão nunca foi a realização da Copa do Mundo em si, mas a maneira como ela será realizada. Um país dono de uma economia tão emergente quanto o Brasil tem condições de sediar esse evento. Setores como o de transportes e hotelaria já se movimentam para atender à demanda e o que muitos projetam como tragédia organizacional não deve acontecer na prática. Deste modo, cabe às autoridades responsáveis e aos próprios cidadãos cobrarem lisura, economicidade, fiscalização e tudo o que for necessário para que o Mundial transcorra da forma mais limpa possível. Caso isso aconteça, aí sim teremos uma festa.

5 comentários:

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Se fosse para escolher, hoje, não gostaria de que a Copa fosse no Brasil, pois ela não será usada para deixar um legado positivo em preservação das construções das arenas e principalmente em relação à infra estrutura das cidades, que continua horrível na grande maioria delas. Mas entendo seu ponto de vista de que, ficar só reclamando e por causa disso evitar de fazer as coisas não vai adiantar de nada.

Sobre o comercial é típico de um país que qualquer crítica causa alergia aos donos do poder e a censura existe hoje ainda que de forma velada; quem não participa da "panela" e quer fazer alguma observação mais crítica, é ridicularizado. E o oba-oba acéfalo domina inclusive boa parte do jornalismo esportivo.

Michel Costa disse...

É isso o que eu penso, Alexandre. Existem razões para todas as preocupações, mas também existe uma síndrome de vira-latas instalada que se mostra presente com muita frequência.
Particularmente, acho que o Brasil pode sediar uma Copa. Todavia, o exagero no número de sedes (alguns estádios certamente se tornarão elefantes brancos) e o preço das obras fazem pensar se realmente vale a pena.

Gustavo Carratte disse...

Enquanto fica apenas na publicidade, está ótimo. Não fico tão incomodado com anúncios publicitários ufanistas, já que, embora fosse bom ter um pouco mais de verdade ali, eles precisam vender o produto que têm. O problema é quando isso parte para o jornalismo, e infelizmente não é difícil disso acontecer.

Sobre as reclamações por conta da Copa do Mundo, com pessoas realmente achando que nada pode ser feito aqui até que tenhamos um Brasil próximo da perfeição, não poderia estar mais de acordo com você.

Deveríamos cobrar melhorias no trabalho de preparação dela, não repudiar a Copa em si. Até porque a gente sabe: caso os jovens jogadores de Mano Menezes explodam até 2014 e façam um grande Mundial, 90% dos "conscientes" de hoje, que gritam sem saber o porquê, irão apenas comemorar.

Michel Costa disse...

O maior problema desse comercial é que ele vende um pensamento também, Gustavo. No vídeo, dão um recado para os "pessimistas" e isso, na mente das menos esclarecidos, pode fazer com que todos os críticos sejam colocados no mesmo saco. E isso é muito perigoso já que até a Copa - e também depois dela - não devem faltar denúncias envolvendo os gastos com o evento. Espero que essa propaganda não sirva como ferramenta de alienação.

Abraço.

Gustavo Carratte disse...

Isso sem dúvidas, Michel. São publicitários, mas são também cidadãos dotados de consciência. Que deveriam explorar o que há de bom em seus produtos, até poderiam chegar ao ponto de esconder os defeitos, mas não deveriam ter o direito de vender como benéfico e motivo de orgulho algo nocivo. Estou de pleno acordo.

Abração.