sábado, 1 de setembro de 2012

A4L recomenda: Sarriá 82 – O que faltou ao Futebol-Arte?

Para quem gosta de futebol, falar da Seleção Brasileira de 1982 é iniciar um debate. Nenhuma outra versão do escrete canarinho é capaz de levantar tanta polêmica quanto a que Telê Santana comandou em terras espanholas. Não faltam teses para explicar a derrota para a Itália e, muito menos, para os rumos que o futebol brasileiro tomou a partir dali. Para muitos, aprendemos equivocadamente as lições recebidas no Estádio Sarriá. A pergunta final da maioria das conversas quase sempre é: Jogar bonito é sinal de fragilidade defensiva? Obviamente, não. Acontece que aquele Brasil dava sinais de que havia algo errado com seu sistema de marcação muito antes de Paolo Rossi mandá-lo de volta para casa.      
Deixando totalmente o achismo de lado, Gustavo Roman e Renato Zanata Arnos mergulharam nos VTs dos jogos da Seleção desde Cláudio Coutinho, antecessor de Telê, e trouxeram à tona toda a história daquele time que encantou o mundo, mas deixou um gosto amargo no fim. Uma equipe que se construiu aos poucos e que carregou suas soluções e seus problemas para o Mundial. Soluções que passavam pelo futebol fantástico de Falcão, Sócrates e Zico, mas que esbarravam na falta de cobertura pelo lado direito da defesa e pelo apoio desmedido do lateral Júnior e do zagueiro Luisinho.
No fim, os autores sugerem como seria o Brasil de Telê caso o técnico tivesse reconhecido os problemas defensivos da Seleção. Embora tenha concordado plenamente com os jornalistas, reservo a ótima hipótese para quem tiver a oportunidade de ler essa obra fundamental de nossa biblioteca futebolística. Uma formação que tornaria o time mais próximo da realidade do que do sonho, mas que poderia tornar o desfecho daquela partida com menos cara de pesadelo.

11 comentários:

Douglas Muniz disse...

E ai Michel, beleza?! Eu li esse livro, achei interessantíssimo fazer esse debate que a obra proporciona. Penso que uma boa poderia ter sido o Telê convocar o Andrade no lugar do Renato, aproveitado o mesmo como cabeça de área, pensando nele já habituado a jogar naquele setor no Flamengo tendo que cobrir e/ou auxiliar Leandro e Junior...

O que te parece?

Abraços!!!

Michel Costa disse...

Tudo beleza, Douglas.

Andrade tinha futebol para participar daquele grupo, mas, como praticamente não foi utilizado por Telê durante a preparação, duvido muito de sua ida à Espanha. Batista, ao contrário, poderia ter contribuído muito, principalmente na cobertura dos laterais. No entanto, o Velho Mestre não contou com sua presença nem no banco de reservas do fatídico jogo.

Abraço.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Concordo que, pelo estilo de jogo muito ofensivo daquele time, uma alternativa de esquema que privilegiasse a proteção à defesa seria interessante; basta ver que, no SP vitorioso do Telê 9,10 anos depois, ele sempre armou o time com 2 protetores de zaga; tentou colocar o Cerezo como segundo volante quando este chegou da Sampdória, mas as muitas contusões do veterano fizeram ele voltar a um esquema mais rígido por ali; pelo que li a respeito da Seleção/82 a principal alternativa ao time clássico era o Paulo Isidoro, que tinha sido titular na maioria da preparação; também acho que ele poderia ter testado o Andrade e talvez outro zagueiro na vaga do Luizinho.

Michel Costa disse...

Não resta dúvida de que aquela derrota fez com que Telê mudasse alguns de seus conceitos. Na Copa seguinte, o Brasil já contou com dois volantes marcadores à frente da zaga e o mesmo foi visto no São Paulo. Creio que ele nunca aderiu ao "pega-pega", mas, como sempre costumo brincar, quem escala Dinho e Goiano não precisa mandar bater. A natureza segue seu curso naturalmente.
Quanto a Seleção de 82, Luiz Mendes dizia que a quarta zaga deveria ser de Edinho. A julgar pelas descidas desnecessárias de Luisinho, creio que o saudoso jornalista deveria estar certo.

Douglas Muniz disse...

André, uma das coisas que me fez gostar de futebol, apesar de não ser são-paulino era ver aquele time. Lógico, não tinha conhecimento tático e técnico do jogo que eu tenho hoje, era muito criança para imaginar isso. Mas atualmente assisto jogos daquele time, sejam jogos decisivos ou não e posso dizer a você que o Dinho e o Goiano não eram apenas volantões naquele São Paulo do Telê, eram jogadores que cobriam e saiam de maneira coordenada para o jogo ofensivo. O Dinho foi um dos melhores lançadores que eu vi (JURO!!!), no São Paulo e no Grêmio as jogadas começavam com ele, o Goiano era mais cumpridor de funções defensivas quando chegou do Novorizontino para o São Paulo, lá ele melhorou tecnicamente, aprimorou o passe curto e aprendeu a cobrar faltas...

Abraços!!!

Michel Costa disse...

Douglas, eu não disse que Dinho e Goiano eram ruins tecnicamente. Disse que eram carniceiros... Hehe. Uma coisa não exclui a outra. Acontece que Telê mudou a maneira como enxergava futebol após a derrota no Sarriá.

Abraços.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

O Luis Carlos Goiano jogou muito pouco no SP, (acho que não chega a 20 jogos) e sempre foi reserva. Ele batia bem faltas e não era tão violento. O Dinho sim era um jogador mais viril, mas ganhou essa fama de carniceiro mais no Grêmio do que no SP; de todo modo o Telê, mesmo o colocando de titular durante o ano de 1993 todo, o trocou com o Santos em 1994 pelo Axel (que se machucou demais no SP e nunca justificou o investimento). Talvez a troca tivesse a ver com isso.

Fiz essas ressalvas, mas no ponto central da questão de fato o Telê começou a jogar de forma mais protegida no pós-82, mas sempre pensando em valorizar o apoio de algum de seus laterais; em 91 colocou o Ronaldão de volante para o Leonardo (que na época era lateral esquerdo) jogasse quase que como um meia e em 92 o Adilson jogou de volante para liberar mais o Cafu.

Douglas Muniz disse...

Sim, tranquilo, sei que não disse que eles eram carniceiros, o adendo que o Alexandre fez em relação ao Ronaldão e o que você lembrou em relação aos volantes, serve como evidência clara de que ele mudou depois da derrota de 1982 e mesmo jogando com dois volantes, montou um São Paulo que era ofensivo.

Abraços!!!

Michel Costa disse...

Alexandre e Douglas,

O curioso nessa história é que já ouvi torcedores do São Paulo falando que o "batedor" da dupla era Goiano, mas que Dinho ficou com a fama. De qualquer modo, a ideia era enfatizar a mudança de concepção de futebol que a derrota no Sarriá possivelmente provocou em Telê Santana e como o Velho Mestre, a meu ver, assimilou a coisa de modo equivocado.

Abraços.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Acho que o Goiano não era tão espalhafatoso para cometer faltas como o Dinho, que era mais "kamikase" nas divididas; além disso o Goiano, com a bola, era mais clássico e o Dinho ficou marcado também por aquela briga contra o Palmeiras em 1995. O Goiano era aquele que parava a jogada e o Dinho o que "matava".

Michel Costa disse...

Uma recordação nada agradável que tenho do Dinho foi a entrada criminosa que ele deu no flamenguista Sávio quando atuava pelo Grêmio. Ai não teve nada a ver com virilidade. Foi só maldade mesmo.