Entrevistas coletivas com
treinadores não costumam ser fáceis de interpretar. Sempre existirá a intenção
do profissional de não trazer à tona todos os aspectos que cercam sua equipe e,
por parte da mídia, informações que se convertam em manchetes se tornaram mais
requisitadas do que as notícias sobre o esporte em si. Trata-se então de outro
jogo, este travado fora das quatro linhas, algo que no caso de Dunga se torna
mais ainda disputado devido ao histórico de rusgas do técnico com a imprensa esportiva
desde os tempos de jogador.
Portanto, entender todas
as decisões que culminaram na convocação dos 24 nomes para os amistosos da
Seleção Brasileira diante da Costa Rica (5 de Setembro em Boston) e Estados
Unidos (8 de setembro em Nova Jersey) não é uma tarefa simples, uma vez que
ficou evidente que, ao contrário do que disse Dunga, as decisões não seguiram
uma linha exclusivamente técnica. Para facilitar o trabalho, vamos dividir as
observações pelas posições da lista divulgada na última quinta-feira:
Goleiros: Alisson
(Internacional), Jefferson (Botafogo) e Marcelo Grohe (Grêmio);
Na meta, Jefferson e Marcelo Grohe mantêm
a confiança do treinador enquanto Diego Alves se recupera de séria lesão nos
ligamentos do joelho direito. Contudo, Dunga revelou a alguns jornalistas após
a coletiva que deve conceder a titularidade a Grohe visando testes para as
Eliminatórias. Falando no gremista, chamou a atenção o chamado dos goleiros da
dupla Gre-Nal, fato inédito em toda história da Seleção. Aos 22 anos e muito
seguro, Alisson possivelmente será uma das apostas do técnico para os Jogos
Olímpicos de 2016.
Zagueiros: David
Luiz (PSG), Gabriel Paulista (Arsenal), Marquinhos (PSG) e Miranda
(Internazionale de Milão);
Os zagueiros são um caso à parte. As
convocações anteriores mostraram que David Luiz, Marquinhos e Miranda estão
entre os preferidos do treinador, mas a ausência de Thiago Silva diz muito
sobre a nova lista. No entanto, ao contrário do que escreve o ex-jogador Juninho Pernambucano em seu perfil no Twitter, acredito que a exclusão está muito mais ligada ao conjunto da obra
do que ao pênalti cometido na eliminação para o Paraguai na Copa América. Defensor
experiente, Thiago vem demonstrando sistematicamente uma instabilidade
emocional, no mínimo, preocupante desde o Mundial. Por enquanto, ao contrário
de Maicon, não é possível afirmar que chegou o fim da linha para ele, porém,
ficou bastante claro que a confiança foi momentaneamente perdida.
Laterais: Daniel
Alves (Barcelona), Danilo (Real Madrid), Douglas Santos (Atlético) e Filipe
Luis (Atlético de Madrid);
Assim como ocorre com os centrais, as
laterais também abrem um bom espaço para debate. Mesmo com as críticas à
capacidade dos treinadores brasileiros, Daniel Alves permaneceu entre os
chamados, assim como Filipe Luis, consolidado como titular da lateral esquerda.
Recuperado da lesão que o tirou da Copa América, Danilo volta ao grupo. Destaque
no Atlético Mineiro e com idade olímpica, Douglas Santos completa o setor. O
que chama a atenção, entretanto, são as ausências. Uma eterna incógnita em
termos de Seleção, Marcelo, aparentemente, continua fora dos planos. É possível
que o estilo mais ousado seja um problema num time que tenta se estabelecer
defensivamente, mas a relação do vice-capitão do Real Madrid com os técnicos
recentes do Brasil nunca foi das melhores. Outra ausência notável é a de
Geferson do Internacional. Convocado para a Copa América, o lateral surpreendeu
a todos que esperavam nomes mais consolidados. Sem nenhuma aparição no torneio,
também não figura entre os alas chamados na última sexta-feira para a Seleção
Sub-23. Realmente, o caso mais estranho neste retorno de Dunga.
Volantes: Elias
(Corinthians), Fernandinho (Manchester City), Luiz Gustavo (Wolfsburg) e Ramires
(Chelsea);
Ao que tudo
indica, Dunga não viu na Copa América os mesmos problemas constatados por este
colunista. Afinal, embora a transição defensiva seja um processo coletivo, os
volantes escolhidos deixaram muito a desejar nessa tarefa. Esperava-se agora a
opção por centro-campistas capazes de distribuir o jogo com mais fluidez. Todavia,
as escolhas recaíram sobre Elias e Ramires que são muito mais condutores/infiltradores
do que passadores. Por outro lado, o retorno de Luiz Gustavo deve ser celebrado
por sua maior presença física em campo e bom passe. Pelo que depender de Dunga,
o volante do Wolfsburg será titular até o Mundial da Rússia.
Meias: Kaká
(Orlando City), Lucas Lima (Santos), Oscar (Chelsea) e Willian (Chelsea);
Dentre os diversos equívocos de Felipão
antes e durante a Copa do Mundo estava a ausência de alguém capaz de dividir a responsabilidade com Neymar. Desnecessário
explicar por que isso foi um complicador diante da Alemanha. No entanto, chamar
o meia do Orlando City, neste momento, é discutível. Está certo que os jovens
da Seleção precisam de uma referência, mas se isto estiver custando a vaga de
Philippe Coutinho – um dos poucos capazes de suprir Neymar em termos de talento
– alguma coisa está errada. Sem falar que a presença de Kaká em amistosos nos
EUA num momento em que se contesta a interferência de patrocinadores na Seleção
não pega nada bem. De positivo, o retorno de Oscar e o primeiro teste de Lucas
Lima, um dos melhores meias do futebol brasileiro na atualidade.
Atacantes: Douglas
Costa (Bayern de Munique), Hulk (Zenit), Lucas (PSG), Neymar (Barcelona) e Roberto
Firmino (Liverpool).
Não ocorreu desta vez a
volta de Alexandre Pato à Seleção. Mesmo com as exclusões de atletas que
militam na China e no Oriente Médio, Dunga preferiu incluir Hulk e Lucas Moura
e a manutenção de Roberto Firmino e Douglas Costa, este em ótima fase no Bayern
de Munique. Inclusive, assim como houve na Copa América, não há nenhum
centroavante típico entre os convocados. Recuperando-se de caxumba e suspenso
nas duas primeiras partidas das Eliminatórias, Neymar é o 24º jogador da lista
e, assim como Kaká, uma presença que levanta dúvidas sobre ingerências na convocação.
Não que este colunista duvide da honestidade de Dunga, mas técnico de Seleção é
como mulher de César: Não basta ser honesto é preciso parecer honesto.
Crédito da imagem: Getty
Um comentário:
Engraçado como Dunga até que convocava bem, mas na hora de treinar a equipe conseguia ser um cemitério de talentos. Já Tite até que é um bom treinador, mas convoca muito mal, sempre a mesma patota.
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