segunda-feira, 2 de julho de 2012

Tipos de Jornalista Esportivo


Baseado na série de posts do blog de Maurício Stycer intitulada “Tipos de Leitor” – espaço onde o jornalista destrincha os habitantes da blogosfera – o “Além das Quatro Linhas” abordará os diferentes tipos de jornalistas das mais diversas mídias. Mas, como este blogueiro se limita ao assunto futebol, vamos manter o foco apenas nos jornalistas esportivos...
O Rodrigueano
O involuntariamente hilário trecho da Wikipédia que descreve a maneira como o lendário Nelson Rodrigues enxergava futebol merece ser transcrito: “Nelson Rodrigues era um cronista tão perfeito que nem precisava ver o jogo. O resultado da partida, as escaramuças dos jogadores, os esquemas táticos, todas essas bobagens não passavam de detalhes secundários aos olhos do gênio. O relato dessas banalidades cabe aos ‘idiotas da objetividade’”.
Acredito que não é preciso muito esforço para perceber quem era o idiota nessa história. Nélson Rodrigues foi um dramaturgo sem igual, mas sua miopia na hora de descrever o futebol era ainda maior do que sua vista verdadeiramente cansada. Todavia, tratar dessa forma o futebol dos anos 1960 era aceitável. Até combinava com aquela época romântica. Mas insistir com esse tipo de “análise” nos dias de hoje chega a ser patético. O problema é que ainda existe quem pense assim.
Na quinta-feira, após o empate do Corinthians com o Boca Juniors, Tite procurou explicar a maneira como buscou encaixar a marcação e os movimentos de sua equipe na Bombonera. Logicamente, explicações táticas não valem para o Rodrigueano. Importante aqui não confundi-lo com outro tipo, a múmia, que é necessariamente um velho saudosista, o que não significa que todo jornalista veterano seja uma múmia. O Rodrigueano não é um saudosista, mas alguém que coloca toda a base científica do esporte abaixo da casualidade e do imponderável. Para ele, acima de tudo isso está a intuição, o acaso. “Tite colocou o moleque porque sentiu que ele estava com a aura boa”, disse um empolgado Lúcio de Castro na bancada do Bate-Bola 1ª edição sobre a entrada de Romarinho na partida. Por uns instantes, cheguei a pensar que estava vendo um programa de astrologia.
Logicamente, a percepção do treinador também é um elemento importante durante um jogo. Muitas vezes é preciso apostar em alguma coisa sem ter a certeza de que aquilo surtirá o efeito desejado. Porém, tentar resumir as ações de uma partida a isso, não passa de preguiça de quem deseja entender os mecanismos desse esporte, mas se recusa a gastar tempo com o que considera irrelevante. Mais de 30 anos após a morte de Nelson, os Rodrigueanos estão todos por aí com o ar blasé de quem acha que sabe tudo. Para sustentar suas teses, tome clichês, achismos e coisas do tipo. Só não vale estudar um pouco mais. Afinal, dá trabalho.       
Imagem: Uol

8 comentários:

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Enxergo nesse tipo do Lucio, além do fato de tentar esconder a sua falta de acompanhamento mais de perto do futebol atual, uma crítica velada ao estilo por vezes estatístico do PVC comentar; os 2 já andaram se estranhando no BB1; lembro de um jogo Grê x Fla em que o Lucio insistia em tirar o Renato Abreu do time e o PVC ficou nervoso como poucas vezes vi na vida. Não digo que os 2 não se dão bem, mas os estilos realmente diferem. A ESPN de modo geral vive um pouco essa "esquizofrenia" de estilos: tem o estilo mais tradicional do canal (PVC, Calçade, Bertozzi, etc), estilo superado (Calazans), tentaram até o de jornalistas que vivem de "bombas" nos clubes (Fábio Azevedo falando um ano do Vagner Love no Fla e ele só veio qdo ele saiu do canal...); por um lado isso é bom, mostra diversidade de pensamento, mas às vezes é algo que pode gerar tensão.

Voltando ao rodrigueano: Me passa a impressão que o Lucio, que inegavelmente tem qualidades como jornalista e historiador, tenta seguir esse estilo do Nelson Rodrigues de pegar um fato isolado do jogo e transformar aquilo na análise total de uma partida; claro que existem lances e mesmo jogos que você pode usar esse artifício, mas fazer isso sempre denota falta de vontade de ver outros jogos que não sejam de times do RJ (ou do Flamengo, no caso dele).

Danilo disse...

Michel, qual a definição para jornalista que adora inventar interesse de um clube por tal jogador, em que só esse jornalista tem essa "informação" ?

Michel Costa disse...

Também assisti a esse Bate-Bola, Alexandre. Lembro que durante toda a passagem de Luxemburgo pelo Flamengo o Lúcio de Castro batia sem dó em tudo e todos, pedindo a escalação de um time quase inviável no papel. Agora, mesmo com a saída de Luxa, o jornalista teve a coragem de dizer que o Flamengo tem um elenco de Série C(!!!). E o pior, não disse brincando.
Recentemente, o canal incorporou outro tipo de comentarista: O ex-jogador. Paulo Sérgio não é dos piores, mas não tem muito o que acrescentar aos programas da casa. E ainda tem o Sorin na Segundona Argentina, mas este eu ainda não ouvi.

Michel Costa disse...

Acredito que seja o "intelectualmente desonesto", Danilo - http://alem4linhas.blogspot.com.br/2011/05/tipos-de-jornalista-esportivo_22.html.
pois esse se utiliza de inverdades para sustentar o que pretende.
Mas, talvez esse tipo mereça um perfil próprio. Quem sabe?

Alexandre Rodrigues Alves disse...

O que é o Paulo Sérgio como “comentarista” do canal? Para quem não se lembra, era aquele cara que foi para a Copa de 94 e até hoje ninguém sabe o porque. Se ele, depois de ser um jogador apenas razoável, fosse um comentarista acima da média, até justificaria sua presença, mas ele é de um nível bem fraco (ou seja, na média dos ex-jogadores). Só pode estar lá pelo fato do canal passar mais jogos do Alemão na próxima temporada e ele dividir espaço com o Wenzel, mas até para isso, existem outras pessoas mais capacitadas na emissora.

Michel Costa disse...

Até que eu achava o Paulo Sérgio um bom jogador, Alexandre. Nada brilhante, é verdade, mas bastante útil por onde passou.
Porém, como comentarista, realmente não faz sentido. Ainda mais quando lembramos do perfil do canal. O Belletti, por exemplo, pode contribuir bem mais, só que o ex-lateral dá a entender que prefere seguir a carreira de técnico.

Riccardo Joss disse...

1. Lúcio de Castro pode tentar ser Nelson Rodrigues. Mesmo que o dramaturgo não visse o jogo com os olhos, escrevia deliciosamente. Lúcio de Castro só tem talento pra estragar meu almoço. 2. Vi alguns jogos do Sorín comentando e achei bom. 3. Ex-jogador brasileiro comenta futebol como se estivesse num churrasco.

Michel Costa disse...

Tem razão, Riccardo. Não dá nem para comparar a capacidade criativa dos dois. Me refiro apenas a esse olhar "rodrigueano" do futebol, que considera coisas imaginárias acima do que realmente existe. Esse é o maior pecado do "rodrigueano".
...
Pelo que já ouvi de Sorín, ele parece ter uma inteligência bem acima da média em relação aos outros jogadores. Se isso significar alguma coisa, creio que ele realmente pode ser um bom comentarista.

Abraço.