sábado, 28 de julho de 2012

Taticamente Falando.

Espaço destinado a comentar um assunto que é interessantíssimo para alguns, mas tido por muitos como aborrecedor ou difícil de ser assimilado. Todavia, sem o mínimo conhecimento desse aspecto, o futebol não pode ser compreendido em sua totalidade.
Compactação
Estão se tornando cada vez mais comuns os comentários sobre a defasagem tática do futebol brasileiro em comparação ao que vem sendo feito na Europa. Para exemplificar, técnicos como Mano Menezes costumam dizer que enquanto no Brasil os times ocupam 50, 60 metros, as equipes do Velho Continente atuam em apenas 30. Obviamente, tal discrepância resulta em maior quantidade de passes errados – quanto maior a distância entre os jogadores, maior a chance de errar o passe – menor intensidade de marcação, além de provocar alterações no que diz respeito à distribuição de funções em campo.
No sistema ilustrado ao lado, vemos a distribuição tática em 60 metros de uma equipe tipicamente brasileira, ora alinhada num 4-2-3-1 (figura 1) onde os volantes precisam cobrir as subidas constantes dos laterais e a armação fica a cargo de um único meia central assessorado por dois meias abertos pelos flancos. Como é possível notar, existe uma grande distância entre os setores, o que muitas vezes provoca tentativas de ligação direta entre defesa e ataque. Do mesmo modo, tal distância também pode resultar num demasiado espaçamento entre os setores, algo que, na prática, pode significar hiatos entre o setor defensivo (no Brasil, claramente composto pela linha de zagueiros e os volantes) e o ataque (meias ofensivos e centroavante); ou entre defesa, meio-campo e o único atacante que fica isolado do time.
Tento em vista as citadas questões, a compactação presente no futebol praticado fora do País é o caminho mais lógico a ser seguido. Fazendo uso do mesmo 4-2-3-1 (figura 2), agora em 30 metros e sob uma ótica mais europeia, temos um time atuando praticamente num só bloco, defendendo quando não tem a bola e atacando quando tem a posse. Nesse cenário, os zagueiros precisam saber sair jogando, os laterais atuam de maneira mais fixa na defesa dando funções de armação aos volantes que antes eram quase exclusivas dos meias. Não por acaso, jogadores como Schweinsteiger, Xabi Alonso, Khedira e Xavi, representam o modelo de volante ideal para essa forma de atuar, pois são capazes de marcar, armar e ainda chegar com qualidade ao ataque. Com isso, quem perde espaço são os volantes unidimensionais que só entravam em campo para retomar a bola e tocar de lado. Mas, afinal, quem precisa deles?

12 comentários:

Danilo disse...

Michel, poderia acrescentar no 1º parágrafo "mais jogadas individuais". Devido ao maior espaço há facilidade em driblar (além da deficiência no desarme dos marcadores e arbitragem que impede o contato). Isso atrapalha, por exemplo, a formação do Neymar ( considerado o craque da seleção!) quando enfrenta times compactos e bem distribuídos em campo. Além de fortes marcadores e arbitragem rigorosa.

Danilo disse...

Michel, mais inútil que o volante-volante, é o "zagueiro da sobra". Tenho fé que isso irá acabar, pelo menos, na elite do futebol brasileiro.

Michel Costa disse...

Concordo com a questão dos espaços para jogadas individuais, Danilo. Considere incluído no post.
Quanto aos zagueiros de sobra, é apenas mais um exemplo da herança dos anos 90 que teima em permanecer em nosso futebol. Felizmente, com o estabelecimento do 4-2-3-1, a tendência é que essa posição seja extinta naturalmente.

Abraço.

Thiago Ribeiro disse...

Genial, grande irmão Michel.

MAS o seu desnho da compactação tem um leve erro. Algo que TODO técnico brasileiro também esquece: o GOLEIRO.

Para o time jogar tão adiantado, o goleiro deve se posicionar na linha da grande área, como um goleiro-líbero, vide posicionamento de Valdés no Barça de Guardiola.

Ora, com o time tão compacto e adiantado, um passe longo de um volante de qualidade para um ponta ou um centro ligeiros é gol na certa, a não ser que o goleiro esteja pronto para disparar em direção à bola e mandá-lá pra longe, na lateral oposta.

É por isso que no Brasil os times jogam tão atrás, pois ninguém treina o goleiro como um membro da movimentação de grupo, da qual faz
Parte.

É claro que o time fica sujeito que um maluco adversário chute a gol do meio-campo ( não existe estratégia sem falha estratégica), cabe, então, aos volantes impedirem esses chutões, e só estando bem compacto para impedir isso.

É isso e desculpe o longuíssimo comment

Michel Costa disse...

Tem razão, Thiago. Não coloquei o goleiro mais adiantado, mas com certeza isso é necessário em alguns casos. Mesmo assim, nem todas as equipes que atuam compactadas tem um goleiro-líbero. Até recuam a bola para ele, mas na maioria dos casos, suas obrigações são mesmo as tradicionais.

Abraço e valeu pelo comentário.

Douglas Muniz disse...

E ai Michel, tudo bem?! Então, eu estava pensando em como o futebol brasileiro não consegue demonstrar esse entendimento tático, um time que mostra isso, ou algo muito próximo dessa concepção de jogo é o Corinthians, mas é uma estrutura montada pouco a pouco, que passou por turbulências de resultado e tal. Eu sou palmeirense, não insanamente apaixonado, sei analisar muito bem quando o meu time perde, muitas vezes sou analítico, chato até, analisando o meu time taticamente, digo o que está errado a muitos quilômetros de distância, numa posição privilegiada. Um dos dias mais legais que tive como um fã de futebol foi quando pude assistir Palmeiras e Ajax, em Janeiro desse ano. O time holandês é o que mais gosto do futebol europeu, tenho camisas, gosto demais também da maneira de como eles concebem o jogo, de como trabalham isso de maneira muito uniforme e sincronizada desde o infantil até o profissional, não importando o resultado. Fiquei num lugar do estádio onde pude ver privilegiadamente a disposição tática das duas equipes, uma das coisas que eu observava era a compactação quando o time holandês defendia, eles não davam chutão. O Ajax tem um zagueiro belga chamado Vertoghen que é excelente, já venho acompanhando-o há alguns anos, ele sempre saía do setor de defesa com a pelota dominada, e o avante palmeirense saía para caçar o zagueiro que não ficava com a bola, assim, o belga saía sozinho, sem marcação, nem do meia. quase um armador, não errou nenhum passe, inversão de bola, ou lançamento. Taticamente bem claro, no 4-3-3 de sempre, com o time muito próximo, trabalhando com o passe frontal e triangulações, sem sofrer na marcação. O Palmeiras venceu no final do jogo, mas a posse de bola, e a variação na criação das jogadas vinha na maior parte pelos "meias-pontas" que buscavam a linha de fundo, visando cruzamentos na área, era claro que faltava um volante para ocupar um espaço mais á frente, contando com a noção do lateral de guardar a posição. Foi incrível, uma lição tática. Acho que todo o técnico brasileiro e, principalmente, jogador deveria estudar como eles jogam, se quiserem aprender um pouco. Um time que jogava no 4-2-3-1 com uma característica interessante que você citou no post era o Inter do Roth, campeão da Libertadores de 2010, mas ainda sim tinha algo parecido com o que se aplica hoje: um volante que joga mais á frente, esse jogador era o Tinga que jogava mais por dentro, com D'alessandro e Taison pelas beiradas. Com dois laterais de apoio como são Nei e Kleber, os volantes Sandro e Guiñazu tinham que se virar nas coberturas, o que para não prejudicar tanto a transição de bola, era necessário mais um volante que ocupasse melhor esse espaço, uma das boas sacadas do Roth naquele time.

E mais uma pergunta:
Achas que o Flamengo não cairá nesse certame? (Não estou fazendo bullying com você, mas o Flamengo tá com a chamada "Cara de queda", expressão que aprendi quando criança, quando assiste a um time que deve cair para a Série B, algo que já vi do meu time em 2002...)

Um abraço

Michel Costa disse...

Salve, Douglas.

Realmente a diferença tática entre times brasileiros e estrangeiros costuma ser gritante. E, quando escrevo estrangeiro, falo de sul-americanos também. Times como Boca e U.Chile são muito mais equilibrados taticamente do que a maior parte dos times brasileiros. Para mim, esse atraso se deve muito mais aos nossos técnicos do que aos jogadores. Tanto é, que quando estes se transferem para outras ligas, aprendem a nova postura tática sem grandes problemas.
Quanto ao Vertoghen, também me chamou a atenção. Não por acaso, o zagueiro acaba de se transferir para o Tottenham.

Sobre o Flamengo, mesmo sendo torcedor, também sou frio para analisar. para mim, é time para perambular no meio da tabela, mas olhando mais para baixo do que para cima. Acho isso não pela qualidade do time, mas pela quantidade de equipes piores abaixo dele.

Abraço.

Douglas Muniz disse...

Michel, acho que falta aos nossos treinadores, na base a formação dos volantes tidos como "Box-to-Box", hoje cada jogador tem a sua função específica e não sai dela jamais, nisso ele aplica as características necessárias para a função e tolhe outras que poderiam agregar ao seu jogo. Um exemplo que eu tenho é o Paulinho, do Corinthians. Quando ele jogava no Bragantino, ele era meia, mas o técnico Marcelo Veiga, que adora times ultra-defensivos, utilizava-o como volante de contenção, típico camisa 5 "tranca-área". No Corinthians, com o Adilson Batista, ele segurou a barra quando Elias e Jucilei jogavam pela seleção, e por vezes ia jogar na lateral direita. Quando Tite chegou, com as turbulências da perda do Brasileirão 2010, a queda na Pré Libertadores e a saída dos dois selecionáveis, Tite utilizou ele em seu 4-2-3-1 utilizando da sua força física, in-ten-si-da-de e chegada ofensiva. Ele se estabilizou, potencializou tanto, que virou referência desse time, um retrato, quando ele joga bem, bater o Corinthians é praticamente impossível (Um exemplo foi Palmeiras X Corinthians no Paulistão desse ano, ele fez um segundo tempo brilhante e o Corinthians venceu...), quando ele joga mal, o time tem sérios problemas. Ele virou unanimidade e tem esse estilo um tanto "inglês", um volante que joga na seleção e que eu imaginava que seria um jogador desse estilo, que evoluiria ainda mais era o Sandro, quando ele começou no Inter e mesmo nas seleções de base. Mas a reserva no Tottenham e as incumbências defensivas da seleção parece o impedir...

Abraços!!!

Michel Costa disse...

O Paulinho é um ótimo exemplo de meia capaz de marcar, armar e chegar à frente. Até acho que pela natureza de nossos laterais, é importante ter um volante capaz de cobrir suas subidas, mas um jogador como Paulinho como segundo volante seria o ideal. Felizmente, Mano enxergou isso e o convocou para o próximo amistoso do Brasil.

Osório Lopes disse...

Gostei muito do post e acompanho muito o blog, mas queria muito saber como vc faz as imagens já que não tenhoo como usar um programa como tactical pad

Michel Costa disse...

É simples: basta se cadastrar gratuitamente no site This11.com e montar seus times.

Violas disse...

É o grande dilema doa brasileiros. Por que temos tanto espaço entre as linhas? Primeiro, porque não acreditamos na tática de colocar o ataque adversário em impedimento. Reparem que no nosso sistema, quando somos atacados, recuamos a última linha para não dar chance de uma bola enfiada, depois notamos que quando o adversário recua a bola, nós não adiantamos nossas linhas em bloco. Enquanto não resolvermos esses problemas, não teremos supremacia tática.