Entre tantas declarações protocolares após a vitória por 4x0 do Barcelona sobre o Santos, a frase que dá título a este post foi a que mais me chamou a atenção. Ela bem que poderia ter sido dita pelo técnico Muricy Ramalho que mais errou do que acertou na preparação de seu time, mas preferiu não reconhecer seus erros em público e ainda conseguiu a proeza de cutucar a imprensa na coletiva após o massacre.
O autor da frase é Neymar, melhor jogador do alvinegro e um dos mais jovens do elenco. Mesmo que o camisa 11 não tenha absoluta consciência do que disse, acertou em cheio. Nos últimos anos, o Barcelona vem mostrando para o mundo todo como se joga futebol. Por motivos óbvios, a Espanha assimilou primeiro e se tornou campeã europeia e mundial.
Logicamente, essa não é a única forma de se jogar futebol. Nos últimos anos, vimos a defensiva Grécia de 2004, o pragmático José Mourinho no Porto, Chelsea e Internazionale e outros campeões que não baseavam seu estilo na técnica e na posse de bola. No entanto, não deixa de ser curioso (e lamentável) que logo o país que mais craques revelou ao longo da história, hoje deixe a iniciativa do jogo para os adversários. Por aqui, mais se fala em jogar no erro do adversário do que apostar nos próprios acertos.
Muricy, Celso Roth e outros pertencem a uma geração de técnicos brasileiros que acreditam que jogar bem é sinônimo de marcar mal. Que dizem sem cerimônia que quem quer ver espetáculo deveria ir ao teatro. Que creem que a famosa derrota brasileira para a Itália em 1982 se deu porque não é possível jogar de maneira ofensiva sem ser vulnerável. Eles são de uma escola que se esgotou no momento em que forte marcação deixou de ser característica e se tornou obrigação de qualquer equipe. O Barcelona campeão de tudo marca, arma com seus próprios acertos, ataca e dá espetáculo. De quebra, dá lições também. Espero que estejam aprendendo.
Imagem: Reuters
10 comentários:
Uma coisa que todo mundo esquece:
dizem que um clube vive de títulos.
pra mim isso é um erro. como todas as coisas no mundo capitalista, um clube vive de dinheiro.
Dinheiro vem muito com as vitórias - e tê-las muito não implica necessariamente no título -.
Mas o espetáculo chama público, que chama visibilidade. Visibilidade chama tv (mais transmissões de jogos) e patrocínio.
Sou botafoguense, todos sabem, mesmo nunca tendo a maior torcida do Rio, o Botafogo de Garrincha enchia o maracanã só pra vê-lo jogar.
Túlio, gênio no marketing pessoal e nem tanto na bola, acabava atraindo as transmissões de seus jogos.
Com verba maior, melhores jogadores e consequentemente os títulos virão.
o grande problema é que TODOS jogam feio pra tentar serem campeões, e acaba que só um dos feios será.
E ao resto restam as críticas...
E ora vejam só: eis que O MELHOR DAS AMÉRICAS, o LEGÍTIMO REPRESENTANTE DO FUTEBOL BRASILEIRO, o time dos CRAQUES GANSO E NEYMAR, eis que esse time, tido como UM DOS MELHORES DO MUNDO, foi GOLEADO, de forma HUMILHANTE, pelo Barcelona. 4x0, 2 bolas na trave, e mais de 70% de posse de bola para os catalães. Provas mais do que suficientes da supremacia dos "caneludos" europeus sobre os brasileiros. Ganso, como era de se esperar, nada fez. Neymar provou por A+B que não está em condições de passar pelos grandes zagueiros do futebol mundial - e olhe q não estamos falando de Vidic, etc. Tem que ir URGENTEMENTE para a Europa, aprender a se desvencilhar da marcação dos zagueiros de verdade - cá pra nós, driblar o Chicão é moleza, já o Piqué, o Puyol... E Muricy... bem, se Guardiola não é 10, o que dizer de Muricy?
E a melhor frase pós-jogo foi do Edu Dracena, que antes dizia que Neymar era superior ao Messi: "Precisamos aprender muitas coisas ainda".
Concordo, Thiago. Mas, para mim, mais importante do que o espetáculo é jogar bem. E com isso os técnicos brasileiros parecem se importar pouco. Essa derrota para o Barcelona deve servir como reflexão.
Abraço.
Thomas,
Na verdade, acho que o Barcelona está ensinando para a Europa também. Vide a final contra o United. Se existe um modelo a ser seguido ou, pelo menos, de onde se pode tirar referências, este é o Barça. Do futebol europeu como um todo, acho que a compactação é a melhor característica a ser assimilada.
Hoje, a final no Japão não encerrou a velha discussão brasileiros x europeus. Encerrou a discussão Barcelona x qualquer um.
Abraço.
No futebol, como em vários outros âmbitos, mesmo com evidências esfregadas na cara e mais que patentes, é de costume de muitos não aprender as devidas lições, já que sequer são capazes de entender os acontecimentos.
As declarações do feirante Muricy após o jogo deixam isso bem claro.
E a blindagem e confetes continuarão inabaláveis.
Fala michel!
Um assunto complementar ao seu post: pra mim nao ha só a maneira do barça d jogar bonito. Nao considero este time como uma evolucao dos times q querem jogar bem. Eles tem etilo proprio. O brasileiro é mais "firulento", mas gosta d enxergar mais o jogo, arrisca mais, as vezes o barça irrita pelo "pragmatismo" d esperar só o momento certo do lancamento...qnd nao encaixa o jogo (coisa rara ultimamente) parece q nao querem ganhar...nao sei se vc esta me entendendo. O futebol ingles entao, qnd bem jogado, é sensacional, mto mais objetivo, com lancamentos precisos, e chutes d longa distancia q "encurtam" a distancia do gol. É fantastico o barça, deve ser exaltado como no minimo um dos 5 maiores da historia, mas nao é a unica escola! Nem acho q devemos imita-los a risca! Um abraço! parabens pelo site
Pode ser, Roberto. No caso de Muricy, as declarações pós-jogo demonstram mais arrogância do que outra coisa. Porém, Mano Menezes já se manifestou sobre o assunto em seu blog, algo que só reforça o que o treinador da Seleção vinha falando há algum tempo.
Vamos acompanhar os desdobramentos dessa história.
Abraço.
Concordo, Rodrigo. Mas talvez não tenha deixado isso claro no post. Não creio que a escola brasileira tenha que copiar o Barcelona em tudo. Nossa maneira de jogar é historicamente mais vertical, mais criativa e mais baseada no drible. No entanto, como sempre diz Tostão, o Brasil está na contramão da tendência mundial que valoriza a técnica, compactação tática e a participação coletiva. La U não tinha grandes valores individuais, mas derrotou os times brasileiros que encontrou pelo caminho na Sul-Americana graças a uma proposta de jogo superior. Basicamente, é esse tipo de lição que precisamos aprender urgentemente. E a oferta de material humano pode ser uma solução e médio/longo prazo.
Abraço.
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