domingo, 18 de dezembro de 2011

O Barcelona ensinou como se joga futebol.

Entre tantas declarações protocolares após a vitória por 4x0 do Barcelona sobre o Santos, a frase que dá título a este post foi a que mais me chamou a atenção. Ela bem que poderia ter sido dita pelo técnico Muricy Ramalho que mais errou do que acertou na preparação de seu time, mas preferiu não reconhecer seus erros em público e ainda conseguiu a proeza de cutucar a imprensa na coletiva após o massacre.
O autor da frase é Neymar, melhor jogador do alvinegro e um dos mais jovens do elenco. Mesmo que o camisa 11 não tenha absoluta consciência do que disse, acertou em cheio. Nos últimos anos, o Barcelona vem mostrando para o mundo todo como se joga futebol. Por motivos óbvios, a Espanha assimilou primeiro e se tornou campeã europeia e mundial.
Logicamente, essa não é a única forma de se jogar futebol. Nos últimos anos, vimos a defensiva Grécia de 2004, o pragmático José Mourinho no Porto, Chelsea e Internazionale e outros campeões que não baseavam seu estilo na técnica e na posse de bola. No entanto, não deixa de ser curioso (e lamentável) que logo o país que mais craques revelou ao longo da história, hoje deixe a iniciativa do jogo para os adversários. Por aqui, mais se fala em jogar no erro do adversário do que apostar nos próprios acertos.
Muricy, Celso Roth e outros pertencem a uma geração de técnicos brasileiros que acreditam que jogar bem é sinônimo de marcar mal. Que dizem sem cerimônia que quem quer ver espetáculo deveria ir ao teatro. Que creem que a famosa derrota brasileira para a Itália em 1982 se deu porque não é possível jogar de maneira ofensiva sem ser vulnerável. Eles são de uma escola que se esgotou no momento em que forte marcação deixou de ser característica e se tornou obrigação de qualquer equipe. O Barcelona campeão de tudo marca, arma com seus próprios acertos, ataca e dá espetáculo. De quebra, dá lições também. Espero que estejam aprendendo.  
Imagem: Reuters

10 comentários:

Thiago Ribeiro disse...

Uma coisa que todo mundo esquece:

dizem que um clube vive de títulos.

pra mim isso é um erro. como todas as coisas no mundo capitalista, um clube vive de dinheiro.

Dinheiro vem muito com as vitórias - e tê-las muito não implica necessariamente no título -.

Mas o espetáculo chama público, que chama visibilidade. Visibilidade chama tv (mais transmissões de jogos) e patrocínio.

Sou botafoguense, todos sabem, mesmo nunca tendo a maior torcida do Rio, o Botafogo de Garrincha enchia o maracanã só pra vê-lo jogar.

Túlio, gênio no marketing pessoal e nem tanto na bola, acabava atraindo as transmissões de seus jogos.

Com verba maior, melhores jogadores e consequentemente os títulos virão.

o grande problema é que TODOS jogam feio pra tentar serem campeões, e acaba que só um dos feios será.

E ao resto restam as críticas...

Thomas de Carvalho Silva disse...

E ora vejam só: eis que O MELHOR DAS AMÉRICAS, o LEGÍTIMO REPRESENTANTE DO FUTEBOL BRASILEIRO, o time dos CRAQUES GANSO E NEYMAR, eis que esse time, tido como UM DOS MELHORES DO MUNDO, foi GOLEADO, de forma HUMILHANTE, pelo Barcelona. 4x0, 2 bolas na trave, e mais de 70% de posse de bola para os catalães. Provas mais do que suficientes da supremacia dos "caneludos" europeus sobre os brasileiros. Ganso, como era de se esperar, nada fez. Neymar provou por A+B que não está em condições de passar pelos grandes zagueiros do futebol mundial - e olhe q não estamos falando de Vidic, etc. Tem que ir URGENTEMENTE para a Europa, aprender a se desvencilhar da marcação dos zagueiros de verdade - cá pra nós, driblar o Chicão é moleza, já o Piqué, o Puyol... E Muricy... bem, se Guardiola não é 10, o que dizer de Muricy?

Thomas de Carvalho Silva disse...

E a melhor frase pós-jogo foi do Edu Dracena, que antes dizia que Neymar era superior ao Messi: "Precisamos aprender muitas coisas ainda".

Michel Costa disse...

Concordo, Thiago. Mas, para mim, mais importante do que o espetáculo é jogar bem. E com isso os técnicos brasileiros parecem se importar pouco. Essa derrota para o Barcelona deve servir como reflexão.

Abraço.

Michel Costa disse...

Thomas,

Na verdade, acho que o Barcelona está ensinando para a Europa também. Vide a final contra o United. Se existe um modelo a ser seguido ou, pelo menos, de onde se pode tirar referências, este é o Barça. Do futebol europeu como um todo, acho que a compactação é a melhor característica a ser assimilada.
Hoje, a final no Japão não encerrou a velha discussão brasileiros x europeus. Encerrou a discussão Barcelona x qualquer um.

Abraço.

Roberto Piantino disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Roberto Piantino disse...

No futebol, como em vários outros âmbitos, mesmo com evidências esfregadas na cara e mais que patentes, é de costume de muitos não aprender as devidas lições, já que sequer são capazes de entender os acontecimentos.
As declarações do feirante Muricy após o jogo deixam isso bem claro.
E a blindagem e confetes continuarão inabaláveis.

Rodrigo Alves disse...

Fala michel!

Um assunto complementar ao seu post: pra mim nao ha só a maneira do barça d jogar bonito. Nao considero este time como uma evolucao dos times q querem jogar bem. Eles tem etilo proprio. O brasileiro é mais "firulento", mas gosta d enxergar mais o jogo, arrisca mais, as vezes o barça irrita pelo "pragmatismo" d esperar só o momento certo do lancamento...qnd nao encaixa o jogo (coisa rara ultimamente) parece q nao querem ganhar...nao sei se vc esta me entendendo. O futebol ingles entao, qnd bem jogado, é sensacional, mto mais objetivo, com lancamentos precisos, e chutes d longa distancia q "encurtam" a distancia do gol. É fantastico o barça, deve ser exaltado como no minimo um dos 5 maiores da historia, mas nao é a unica escola! Nem acho q devemos imita-los a risca! Um abraço! parabens pelo site

Michel Costa disse...

Pode ser, Roberto. No caso de Muricy, as declarações pós-jogo demonstram mais arrogância do que outra coisa. Porém, Mano Menezes já se manifestou sobre o assunto em seu blog, algo que só reforça o que o treinador da Seleção vinha falando há algum tempo.
Vamos acompanhar os desdobramentos dessa história.

Abraço.

Michel Costa disse...

Concordo, Rodrigo. Mas talvez não tenha deixado isso claro no post. Não creio que a escola brasileira tenha que copiar o Barcelona em tudo. Nossa maneira de jogar é historicamente mais vertical, mais criativa e mais baseada no drible. No entanto, como sempre diz Tostão, o Brasil está na contramão da tendência mundial que valoriza a técnica, compactação tática e a participação coletiva. La U não tinha grandes valores individuais, mas derrotou os times brasileiros que encontrou pelo caminho na Sul-Americana graças a uma proposta de jogo superior. Basicamente, é esse tipo de lição que precisamos aprender urgentemente. E a oferta de material humano pode ser uma solução e médio/longo prazo.

Abraço.