domingo, 21 de agosto de 2011

É possível torcer por um time estrangeiro?

A polêmica da última semana girou em torno dessa coluna de Adriano Pessini no caderno de esportes do Agora SP onde o jornalista afirma que para ele o único torcedor de verdade é aquele que “gira a catraca”, ou seja, que vai ao estádio ver seu time jogar, sofre, vibra e interage in loco. De quebra, desdenhou da torcida Arsenal Brasil, composta por brasileiros que de tão fanáticos pelos Gunners foram reconhecidos como torcida oficial.    
Em consequência ao texto, Márcio Donizete do blog Ortodoxo e Moderno escreveu este post defendendo a existência de verdadeiros torcedores de times estrangeiros no Brasil que, segundo o futuro jornalista, estão tomando o espaço dos clubes locais. Como resposta, um torcedor da Mancha Verde que se auto-intitula “Forza Palestra” manifestou em seu blog a concordância com Pessini e ainda classificou aqueles que torcem por clubes estrangeiros como componentes de uma “Geração Winning Eleven”. Não é preciso dizer que uma boa oportunidade para se debater o tema acabou se tornando apenas mais uma discussão na internet, culminado com esse post do também estudante de jornalismo – e torcedor do Lyon – Filipe Papini.
Antes de tudo, é preciso definir exatamente o que é torcer por um time. Para este blogueiro, significa amá-lo incondicionalmente, mesmo em fases ruins ou após a derrota mais terrível. Também representa um sentimento duradouro, para não dizer eterno, onde a troca por outra agremiação pode ser considerada uma verdadeira traição. Também significa acompanhá-lo esteja onde ele ou você estiver. No estádio, em casa ou até em outro país.
É inegável que de todos os tipos de torcedor,o único que pode interagir de maneira direta com o time é aquele presente ao estádio. Para o bem e para o mal. Só a torcida presente ao estádio pode empurrar a equipe para cima de um adversário e ser uma espécie de décimo segundo jogador. Por outro lado, essa massa também pode jogar contra, vaiando determinados jogadores, pedindo a cabeça do técnico ou mesmo ultrapassando seus limites e invadindo as dependências do clube. Aqui, falo especificamente das chamadas torcidas organizadas que muitas vezes se mostram entidades perigosas ao próprio esporte, quando se acham no direito de cobrar diretamente atletas e comissão técnica por maus resultados ou que graças a sua violência praticamente expulsa o “torcedor comum” dos jogos. Além, dos casos de brigas com outras facções, algo que transcende o futebol e se torna caso de polícia. 
O que o torcedor acima citado deveria entender é que seu time só se torna um dos grandes quando, além dos títulos, conquista a admiração de outras pessoas no país e até fora dele. E que é por causa desses “torcedores de sofá” que seu time pode arrecadar muito mais do que a relativamente baixa receita de bilheteria que, fosse essa uma fonte exclusiva de renda, transformaria os maiores clubes brasileiros em versões regionais do Santa Cruz citado por Pessini, sem a mínima condição de concorrer com qualquer mercado futebolístico.
Nesse raciocínio, os times europeus estão dezenas de passos à nossa frente, uma vez que entenderam o fenômeno da globalização e conquistaram fãs por todo o planeta. Uma torcida distante, é verdade, mas lucrativa quando pensamos em audiência e comércio de produtos ligados aos clubes. Sem falar no item mais importante quando o assunto é torcer: Amar um clube não importa a distância que ele esteja.

14 comentários:

Riccardo Joss disse...

Qualquer tipo de patrulha é irritante, ninguém nasce e vem na certidão de nascimento TEM QUE TORCER PRO TIME DE SUA CIDADE. Uns que criticam torcedores de times de outros estados e países não sabem a escalação de seu time local, muito menos a história do clube.

Michel Costa disse...

Tem razão, Riccardo. Patrulhar para quem alguém deve torcer ou definir o que é e o que não é um torcedor é, no mínimo, uma ignorância.
O processo de globalização dos times europeus tem caráter irreversível e é melhor que se acostumem com isso. O ideal seria vermos o Brasileirão entrando na briga para buscar o seu espaço, mas ainda estamos engatinhando em vários aspectos.

Abraço.

MArcus Buiatti disse...

Sobre o bom artigo do Michel, pouca coisa a acreescentar. Esta estreiteza de pensamento - que, ainda assim, é direito de cada um - é o que eu chamo de "a vanguarda do atraso". Se estes caras, geralmente, tido como "nacionalistas", ou aqueles do "odio ao futebol moderno", dirigissem os clubes ou tivessem poder de voto em área administrativa, nossos clubes estariam ainda mais atrasados do que estão. Enquanto clubes europeus buscam o mercado asiático e expandir receita - como alertou o Michel no artigo - nosso clubes financiam organizadas.

Aliás, estes caras no início do século 19, estariam ao lado de Castro Alves e outros nacionalistas que eram contra o Footbal, e a favor da "valorizarmos os esportes brasileiros como a capoeira".

Infelizmente ainda são muitos, especialmente na política. São "contra a globalização", assim, "preto no branco", sem pensar que um fenomeno desta magnitude traz coisas boas e ruins.

Achei perfeito o comentário do Ricardo Joss.Concordo totalmente. não consigo entender quem patrulha um brasileiro que torce pra Argentina, França, Itália, sei lá... e acha normal um cearense torcver pro Flamengo, um mineiro torcer pro São Paulo, etc. Pela lógica obtusa deles, um mineiro deveria torcer para um clube mineiro, ou da propria cidade, um paulista por um clube paulista, etc.

Futebol é diversão. Os laços e vínculos de um torcedor para com um clube, campeonato ou atleta são motivados por diversas razões, afetivas, culturais, etc. Conheço italiano que adora a seleção de Camarões, japonês que adora a seleção brasileira, etc. Se os torcedores brasileiros mais jovens estão migrando para clubes europeus, como primeira opção - fenomeno que ainda acho restrito e pequeno - ao invés de patrulhar o gosto deles, deveriamos buscar as razões e tentar modificar o quadro. Aliás, os clubes devem se preocupar com isso.

Acho uma pena, apenas, que no Brasil as cidades interioranas e comunidades não tenham vínculo com os clubes locais como em outros países. Eu sou de Uberlandia, frequentava o estadio sempre, quando morei por lá (uns 18 anos) e a média de público era de 500 pessoas. Isso se repete ao longo do país, salvo exceções como o Sta Cruz.

Saudações, Michel!

André disse...

Michel,cresci no meio de são paulinos,frequento o morumbi desde os 5 anos de idade,e posso me considerar torcedor,segundo a logica do #forza palestra,mas me lenbro que quando o tricolor jogava fora do estado,ou antes de assistir pela tv,viamos a serie A na Band,com o Silvio Lancelotti,que foi onde obtive o primeiro contato com o futebol internacional,depois vieram a Liga espanhola,o campeonato Alemão e na virada dos anos 2000,a Premier League,e acho que influenciado pelos jogos de videogame,porque não,passei a ter uma certa afeição pelo Arsenal,claro que sempre gostei de ver o Milan,o Barcelona e sua luta para derrotar o gigante da capital,mas não sei o que me atraiu a torcer pelo Arsenal,não faço parte da ArsenalBrasil(ainda)mas me sinto torcedor do clube,e o sentimento é real,fico triste quando perde,feliz quando ganha,acompanho com apreensão a fase atual,com a saida do maior jogador do time,depois do Henry,a saida de outros como Nasri,e isso não faz com que a minha paixão pelo tricolor diminua,tanto que acabei de chegar do Morumbi(acho que o #forzapalestra deveria estar do outro lado da arquibancada...vai saber),claro que a maneira de torcer é diferente,mas a paixão e´a mesma...

Braitner Moreira disse...

O que me deixa assustado é ver que o cidadão é editor do Agora SP e tem esse tipo de pensamento fechado.

Não tenho muito a acrescentar à opinião do Michel ou à do Marcus, acho que é um jeito resumido de colocar as coisas. Tenho certa agonia de pessoas que tentam explicar coisas totalmente inexplicáveis, como paixão por um time de futebol, com alguma equação idiota. Então cada time só pode ter 50 mil, 60 mil torcedores, certo? A globalização só aumenta o nível de informação, o que é muito bom.

Michel Costa disse...

Essa ligação forte com os clubes regionais é uma característica marcante do futebol inglês, Marcus. No Brasil, as torcidas dos grandes clubes estão cada vez maiores em detrimento de clubes tradicionais como os Américas do RJ e MG ou o Juventus. Exposição na mídia e conquista de títulos recentes explicam essa tendência.

Abração, meu chapa.

Michel Costa disse...

O Arsenal conquistou torcida no mundo inteiro graças àquela fantástica equipe liderada por Vieira, Bergkamp e Henry, André. É justamente por ela que surgiu a Arsenal Brasil. Infelizmente, os Gunners vêm perdendo espaço no cenário internacional por causa da atual política adotada por Wenger no clube. Mesmo assim, poucas equipes europeias praticam um futebol tão fascinante aos olhos do público sul-americano quanto o Arsenal.

Abraço.

Michel Costa disse...

Sempre que penso em brasileiros torcedores de times europeus me lembro de você e do Gian Oddi, Braitner. Impossível duvidar do sentimento de vocês pela Roma. O mesmo se aplica ao Filipe Papini/Lyon e outros. Basta lembrar disso para ter certeza do quão absurdo é duvidar dessa torcida.

Abraço.

Thiago Ribeiro disse...

Como deveria me sentir, ou me dizer, eu, botafoguense e paraibano? Será que sou menos alvinegro porque estou no estado errado? Será que qualquer pessoa no planeta Terra que me conheça negaria o meu botafoguismo?
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Sou menos torcedor se tiver o título de sócio torcedor do clube, que me garante entrada nos jogos, mesmo eu não podendo ir aos jogos? Sou menos torcedor do clube quando pago PPV e assim o auxilio em ganhar visibilidade e, consequentemente, melhores cotas de Tv e melhores patrocinadores?
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Deixa ver se eu lembro. Acho que foi em 1997. Começam as transmissões da Serie A. Conheço aquela grande Juventus com Del Piero, Deschamps e Zinedine Zidane. Olha só, a camisa dela é IDÊNTICA ao do Botafogo. O que foi uma identificação inicial, depois admiração por aqueles jogadores, não poderia se transformar em caso de amor?
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Logo depois chega a Premier League. E aquele timaço de Henry, Viera, Gilberto Silva e tantos outros. mesmo contra a POLÍTICA de Wenger de contratações, não posso admirar sua FILOSOFIA de jogo, de futebol bonito e (não atualmente) eficiente? Sou menos Gunner por isso?
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E no final das contas. Se o autor do artigo -- ou seu filho -- forem passar uma temporada, digamos, na Inglaterra. Eles serão obrigados a deixar de ser torcedores dos seus times, não, afinal não poderão passar pela catraca, ou estou errado? e se, em Londres, eles se apaixonam pelo Arsenal, e comecem a utilizar as catracas do Emirates: Quando eles voltarem para o Brasil, deixarão de ser Gunners? Se a alguma dessas perguntas ele respondeu SIM, para mim não são torcedores, pelo menos para mim.
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Acredito que torcedor não torce, AMA, e não são coisas como OCEANOS E CONTINENTES, que fará o amor minguar!

Michel Costa disse...

Seu comentário me fez lembrar de como me tornei interista, Thiago. Ainda antes de Ronaldo se transferir de Barcelona para Milão, eu já simpatizava com a camisa nerazzurra. Depois, com a chegada do Fênomeno, passei a acompanhar o time com mais atenção, conhecer os jogadores, a história, enfim me tornando torcedor. Quando Ronaldo se transferiu para o Real Madrid fui verdadeiramente testado: Afinal, eu era interista ou Ronaldista? Mas segui acompanhando a Inter e hoje posso dizer que acompanho os Nerazzurri até mais do que o Flamengo, paixão herdada do meu pai.

Abraço.

Leonardo Prado disse...

Eu não condeno as opiniões, afinal vivemos em um mundo livre (pelo menos nós aqui no Brasil) mas eu não gosto do caminho tomado pelo futebol mundial nos últimos 30 anos, pois na minha opinião, paixão não se vende e não se compra. Hj os grandes europeus tem dono, e o berlusconi ser dono do teu "amor", ou um conglomerado de investidores comandarem a razão de viver de milhares de apaixonados mundo afora, como acontece com Man. United, Liverpool e muitos outros, a maioria dos time tem dono, então meu sentimento é confuso quanto ao tema "torcer para o time da tua cidade, ou torcer para um time que provavelmente vc nunca verá no estadio?". sou natural de uma cidade do interior do RS e torci a vida toda pelo Grêmio, mas comecei a frequentar semanalmente o estadio quando me mudei pra porto alegre, e se continua-se morando em Vacaria estaria como estava frequentando o estadio altos da glória e vendo os jogos do Glória no estadio e o Grêmio pela tv. deve ser a mesma coisa que torcer para o Arsenal e morar campinas, por exemplo. mas acho que cada pessoa tem o direito de torcer para o time que achar do seu gosto, do seu agrado. Eu não vivo sem frequentar arquibancada, sou um viciado em arquibancadas, abro mão de muita coisa na vida apenas para ver um jogo no estadio, mesmo não torcendo para nenhum dos times que estão em campo, mas ser apaixonado, louco, doente, por um time que vc nunca vai ver jogando no estadio, e que ainda tem dono para completar, é um sentimento que nunca tive, mas não desrespeito quem opta por isso, e tb não acho que é menos torcedor do quem vai a campo.

Michel Costa disse...

Essa é realmente uma questão complicada, Leonardo. Já fui a jogos do Flamengo e tenho planos para ver a Inter no Meazza pelo menos uma vez, mas sei o quanto é complicado criar esse hábito de ver sempre. No entanto, quando pensamos no universo de torcedores brasileiros e lembramos da média de público do campeonato chegamos à conclusão que mais de 90% desse público é composto por pessoas que não frequentam estádios, mas mesmo assim possuem um time de coração.
Quanto ao fato de clubes terem donos, vejo mais como uma questão cultural. E não é uma coisa nova pelas bandas de lá. Além disso, para mim, dá mais ou menos na mesma haver um dono ou uma diretoria que muitas vezes se serve do clube buscando benefícios particulares.

Abraço, meu chapa.

MArcus Buiatti disse...

concordo com Michel. Não vejo diferença entre o clube ter um dono "privado" ou ter donos associativos, modelo brasileiro e de alguns clubes europeus, como o Barcelona.

Alguém tem dúvida, POR EXEMOLO, que o Flamengo é há anos e anos clube de um grupo político que, segundo dizem, usa o clube para obter benefícios pessoais sob o manto de ser uma "associação sem fins lucrativos"? diria eu, pessimisticamente, que a maioria dos clubes brasileiros segue este mesmo rumo.

Prefiro, sinceramente, saber quem é o "dono" do meu clube, na verdade, quem vai administrá-lo e investir nele, visando lucro, claro, mas para alcançar lucro deve obter resultados esportivos. Eu prefiro um Moratti que as gestões "amadoras" e "apaixonadas" pelo clube como ocorre no Brasil.

De resto uma correção: eu citei Castro Alves, mas na verdade quem se notabilizou por combater o "football" foi o escritor Lima Barreto, com os mesmos argumentos da turma nacionalista que hoje combate quem torce para clube europeu, quem gosta de campeonatos estrangeiros, etc. Se dependesse da visão estreita deste pessoal, se eles vivessem no início do século 20, sequer existiria futebol brasileiro.

Abraços!

Michel Costa disse...

É isso, Marcus.
Acho que a ideia de ver clubes brasileiros tendo um dono incomoda mais por ser algo fora de nossa realidade. Mesmo assim, se pudesse escolher o modelo de gestão adotado no Brasil, deixaria os clubes como eles estão, mas com uma única e salutar mudança: Todos eles deveriam ser profissionalizados com os dirigentes respondendo administrativamente por seus atos.

Abraço.