sábado, 30 de abril de 2011

Pode, Arnaldo?

Um dia após a vitória do Barcelona sobre o Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu, um vídeo produzido pelo clube merengue (e indicado por Yuri Barros) mostrou aquilo que poucos conseguiram ver: No lance em que é expulso, Pepe simplesmente não toca na perna de Daniel Alves. Porém, como a ação é muito rápida e a encenação do lateral brasileiro perfeita, o árbitro Wolfgang Stark acabou mostrando cartão vermelho direto para o zagueiro/volante.   
Não culpo o juiz alemão. A impressão do momento era de “jogo busco grave” o que na regra significa expulsão. E, apesar de ser difícil afirmar, José Mourinho está entre os que viram o que verdadeiramente aconteceu. Portanto, está no seu direito de reclamar, embora a insinuação de favorecimento ao time catalão tenha ares de choro de perdedor.
No entanto, o que me causou estranheza nesse episódio é o número de pessoas que defendeu a expulsão mesmo depois de saber que não houve contato entre os jogadores no citado lance. “Se pega ou não, é irrelevante”, me escreveu o jornalista Leonardo Bertozzi. “Não precisa haver o toque para haver expulsão”, disse o também jornalista Júlio Gomes aos canais ESPN.
Diante de tais afirmações, absurdas para este blogueiro, a melhor alternativa foi consultar a regra 12 (faltas e conduta antidesportiva) para tentar encontrar justificativa para tal posicionamento dos profissionais da televisão. Leiam os trechos selecionados abaixo:
As faltas e condutas antidesportivas serão sancionadas da seguinte maneira:
Tiro livre direto. Será concedido um tiro livre direto a equipe adversária se um jogador comete uma das seguintes seis (6) faltas de uma maneira que o árbitro considere imprudente, temerária ou com o uso de uma força excessiva:
1. Dar ou tentar dar um pontapé em um adversário; ...
Faltas puníveis com uma expulsão. Um jogador será expulso e receberá o cartão vermelho se cometer uma das seguintes faltas:
1. For culpado de jogo brusco grave;
2. For culpado de conduta violenta; ...
Ou seja, ao contrário do que eu imaginava, é possível a marcação de uma falta apenas com a tentativa de se dar um pontapé no adversário. Porém, para expulsão, somente o “jogo brusco grave” e a “conduta violenta” poderiam ser interpretados como lance para cartão vermelho. Assim, se Pepe não atingiu Daniel, não há nada que justifique a exclusão do luso-brasileiro de campo, a não ser que Wolfgang Stark tenha se equivocado, o que também ocorreu com a maioria dos telespectadores.  
Além de toda essa polêmica em relação à falta cometida por Pepe, uma questão que poderia estar sendo debatida com mais atenção – inclusive pela UEFA – é a irritante conduta dos jogadores do Barcelona de simularem agressões com o intuito de induzir os árbitros a expulsar adversários. Na temporada passada, Thiago Motta foi expulso por um lance em que Busquets valorizou um contato razoavelmente leve. Desta vez, o prejudicado foi Pepe.
Como o Barcelona pratica um futebol incrível e o Real Madrid jogou como time pequeno, as pessoas tendem a dizer que as reclamações não procedem e que o melhor time venceu. Concordo que o Barça é a melhor equipe do mundo e é justamente por isso que penso que os blaugranas não precisam usar esse tipo de artifício para vencer.

17 comentários:

minicritico disse...

Pra usar uma metáfora bem simples e exagerada: se eu te dou um tiro e você consegue desviar da bala, eu não mereço ir preso? Ou seja: o estrago tem que estar feito pra eu receber uma punição condizente com a violência do meu ato?

Se o Daniel não tirasse a perna, o lance seria horrível, com grandes chances de termos uma contusão grave. O Pepe foi pra pegar, muito acima da linha da bola. Pra mim, expulsão justíssima.

E sobre o teatro dele: eu também sou absolutamente contra. Não defendo a tese do "faz parte do futebol". Mas sejamos sinceros: se ele não fizesse isso, o juiz no máximo daria jogo perigoso (que, a rigor, é o que foi o lance, já que não houve contato). Se ele simplesmente desviasse sua perna da entrada do Pepe e ficasse de pé, o juiz - que aliás teve péssima atuação - não daria sequer um cartão amarelo para o agressor. E sim, eu acho que se tratou de uma (tentativa de) agressão.

Em outras palavras, Daniel Alves foi pragmático. Pepe foi maldoso. Os dois justificaram suas famas, fizeram a festa de comentaristas que gostam de reduzir jogadores a certos estereótipos.

Michel Costa disse...

Então, meu amigo, eu vou te fazer a pergunta que fiz para algumas pessoas no twitter:
Você já viu algum jogador ser expulso em lance semelhante estando o árbitro ciente de que não houve toque?
Eu não me lembro.

Abraços.

minicritico disse...

Mas Michel, eu parto do princípio de que só não houve o toque graças ao Daniel Alves, que desviou sua perna. Se dependesse do Pepe, não só haveria o toque, como um estrondo violento.

E só pra registrar: eu sou contra o estilo conservador de arbitragem brasileira, que amarra todas as partidas e deixa o jogo muito lento a toa. Mas ao mesmo tempo, não chego ao nível MCP de analisar futebol e de ser leniente com lances que vão além do simples 'contato'. Atos de violência e indiscutível deslealdade como esse do Pepe (e, a bem da verdade, o pisão intencional do Marcelo no Pedro), eu não consigo tolerar. E acho que árbitro nenhum pode tolerar mesmo.

Pena que o foco das discussões seja desviado graças ao teatro "patético" e "pífio" de caras como Busquets, Di Maria e o próprio Daniel.

ps: respondendo sua pergunta... não, eu também nunca vi. Por isso, os jogadores fazem essa encenação toda. É o que eu falei sobre ser pragmático. No mundo ideal, não precisaria haver o toque (ou a impressão de que houve um toque) pra haver a expulsão. Apenas a intenção do jogador de chegar pra machucar já serviria pra convencer um juiz a puxar o vermelho. No mundo ideal...

Michel Costa disse...

Respeito sua opinião, mas não consigo ver hipótese de expulsão sem haver o toque. De qualquer modo, também não culpo o juiz por ter "visto" algo que todo mundo "viu" na hora. Paradoxalmente, se Mourinho viu que o toque não aconteceu e que Daniel simulou ter sido atingido, é mais do que justa sua reclamação. Desde que, claro, não misture UNICEF e outras bobagens.

Abraço.

marcus Buiatti disse...

Bom texto para reflexão, Michel.

Particularmente, se sou juiz, analisando o lance e o contexto, eu teria dado amarelo pro Pepe.

MAS, o que mais recrimino no Mourinho, e da mesma forma Felipão Scolari, é a conduta anti-depsortiva, a guerra criada fora de campo e dentro, a cultura do "ganhar de qualquer jeito e a todo custo" (não falo da estratégia de jogo ou tática, nada disso, isso, gostando ou não, faz parte do esporte).

São dois grandes técnicos, que eu admiro, mas que pisam na bola neste sentido. Acho que deveria, este comportamento anti-desportivo, ser combatido por todos, mas, infelizmente, boa parte da mídia, grande mídia, se acostumou, acha normal.

Vejamos que Santos x São Paulo, Vasco x Fla transcorreram normalmente. Porque: porque nenhum treinador criou clima de guerra antes dos confrontos.

Scolari e Mourinho costumeiramente fazem isso quando tem equipes inferiores ao adver´sario. Querem ganhar a qualquer custo.

Perde o esporte, perdemos todos, acho eu, se aceitamos isso. Vira uma guerra. o Barcelona acabou reagindo a essa guerra e também esqueceu de jogar futebol, ficou tentando influenciar o juiz. uma pena. Mas não esqueçamos quem começa, quem cria isso: Mourinho. E no caso de Palmeiras x Corinthians, Scolari.

abraços a todos!

Michel Costa disse...

Concordo contigo, Marcus. Embora acredite que a competência dos técnicos pouco ou nada tem a ver com o respeito que eles têm pelos adversários ou pelo próprio futebol. A maioria só vê o próprio umbigo, pouco se importando quando o prejudicado é o outro.
Inclusive, o Mourinho é um grande exemplo disso.

Abraço.

minicritico disse...

Assino embaixo, Marcus. Uma coisa são aqueles famosos 'mind games' do Ferguson. Outra é o clima quase bélico que Felipão e Mourinho criam às vésperas de decisões. Mas aqui com meus botões, eu fico a me perguntar se dar um fim nisso é realmente do interesse das emissoras e veículos que transmitem essas partidas...

PS: Michel, concordando ou discordando, é sempre muito bom debater contigo.

Michel Costa disse...

Digo o mesmo, meu camarada :-)

Marcus Buiatti disse...

Sempre ótimo! o Michel além de ótimo argumentador, tem fair play e cabeça fria.

eu, nem sempre, tenho cabeça fria, por exemplo. Virtude que me falta...

abs!

Marcus Buiatti disse...

obrigado, Minicritico. Essa foto do seu avatar me intriga...é o Ali Daei??

Michel Costa disse...

Já fui mais cabeça quente, Marcus. Mas, de alguns anos pra cá, percebi que não vale a pena discutir por causa de futebol. Não fosse isso, acho que nem valeria a pena manter este blog.
Alás, o melhor é que, mantendo o nível, todos os visitantes vão para o mesmo lado, argumentando em vez de brigar, algo que torna este espaço democrático e agradável.

Grande abraço.

Ps: Rááá! Eu sei quem é o sujeito da foto, mas não vou dizer. Só uma dica: É brasileiro.

Marcus Buiatti disse...

Eu sou cabeça quente no sentido de comentar impulsivamente, logo depois de um jogo, como faço no twitter, ás vezes sem refletir muito sobre o que estou postando.

Mas JAMAIS fui mal educado com alguém, SALVO se reagindo a ofensa ou provocação. Vc pode atestar isso, nunca te desrespeitei e discordamos de muita coisa, inclusive política. Odeio gente que não sabe repeitar gostos, idéias, opiniões de outras pessoas.

abs!


obs.: Já sei quem é...Luis Muller que jogou na lusinha em 85? é isso?

Achava que era o Ali Daei...hahahah

Marcus Buiatti disse...

Este espaço é muito bom Michel, relamente lendo outros blogs (parte de leitores) e grandes portais, é um esgoto. Twitter também, por isso eu estou fazendo um esforço enorme pra me afastar porque, reconheço, ás vezes, de cabeça quente, me contamino pelo tom de "briga", "confronto" nas discussões.


abs!

minicritico disse...

Hahahaha acertou, Marcus!

Luis Muller, uma espécie de Teddy Sheringham sem grife e residência fixa do futebol brasileiro.

Michel Costa disse...

Acho que o nível do debate tem tudo a ver com as pessoas envolvidas nele, Marcus. Concordo que em diversos espaços na internet é impossível "pisar". Daí a escolha de quem seguir no twitter, por exemplo. Com as escolhas certas, o microblog se torna uma das ferramentas mais interessantes da net.

Abraços

Ps: Ah, reconheceu a lenda Luis Muller, hein? Hahaha.

Marcus Buiatti disse...

hahaha...eu me lembro dele na final do paulista de 85 contra meu São Paulo. Deu trabalho!

Se não me engano, tenho a memória dele no Bragantinio...não sei se minha memória falha.

Mini-critico é torcedor da Lusa?

Aliás, bom conhecer o mini-critico. Pelo que leio aqui ele joga no time de analisar futebol com mais racionalidade e sem agressões ou ofensas.

Eu nem sempre sou racional, mas agressão e ofensa, sinceramente, não é minha praia.

abs!

minicritico disse...

Idem, Marcus. Aqui é meu espaço predileto pra debater futebol. Sei lá como, mas o Michel conseguiu reunir gente muito boa aqui no blog hehehe...

ps: sou são-paulino também. Mas procuro não contaminar minhas análises com isso hehehe

ps 2: sim, o Luis Muller (parente distante do Charles Miller?) jogou no Bragantino. Aliás, foi revelado no próprio São Paulo em 84. E depois rodou por vários times. Lembro de uma boa passagem dele pelo Sport em meados dos anos 90.