segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Medo, inveja e outras babaquices.

Antes e após o anúncio de despedida de Ronaldo, sobraram comparações entre o Fenômeno e outros atletas. Tostão, um dos raros ex-jogadores brasileiros que não vivem de passado, reconheceu, embora esteja ciente de que foi bom, que o atacante foi melhor do que ele. Ex-companheiro de clube e amigo de Ronaldo, Zidane apontou-o como o melhor de sua geração. E, há alguns meses, quando perguntado pela revista Placar se o centroavante foi superior a ele, Zico confirmou que sim, sem nenhum tipo de constrangimento.
Mesmo havendo alguma dose de modéstia nos comentários acima, esses exemplos devem ser guardados por serem raros nesse meio. Geralmente, o que mais acontece é cada um exaltando os próprios feitos e, se possível, diminuindo os feitos alheios. A eterna guerra entre Pelé e Maradona talvez seja a maior prova disso. Pura briga de egos que acabou resultando numa inimizade desnecessária.
Romário é outro que não costuma elogiar ninguém. Sempre que pode, afirma que foi superior a Ronaldo e complementa dizendo que a única característica em que perdia era a força física. Quando o assunto é Zico, o Baixinho confirma que o Galinho foi o melhor que ele viu jogar... em clubes. O bom entendedor sabe que se trata de uma cutucada no ex-desafeto pelas derrotas em Mundiais.
Na última semana, quando perguntado pelo jornal Lance! se o Barcelona atual era mais time do que aquele que defendeu, o mesmo Romário preferiu não dar o braço a torcer e respondeu que cada um foi o melhor de seu tempo. Para completar, disse que Messi está longe de ser o fenômeno que a imprensa diz ser, mas é o melhor entre os que estão por aí. E que ainda falta ao argentino ganhar uma Copa antes de ser tão reverenciado como vem sendo.
Logicamente, todos têm direito a sua própria opinião, mas é impossível ler esse tipo de declaração de Romário sem notar uma ponta de ciúme ou, quem sabe, desdém. Quem acompanha a trajetória de Messi percebe que o argentino é muito melhor do que o brasileiro dá a entender. Talvez melhor até do que o ex-atacante foi. Afinal, Messi é tão genial quanto e ainda é um milhão de vezes mais participativo. Falta uma Copa do Mundo no currículo, porém, o hermano ainda é jovem o suficiente para tentar o título mais algumas vezes. Além disso, quem disse que a Copa é tudo?
Gérson, o Canhotinha de Ouro, e Rivellino são outros que não perdem a chance de criticar o futebol contemporâneo. No auge de Ronaldo, Gérson declarou que o Fenômeno não engraxaria a chuteira de treino do também atacante Reinaldo, ídolo e goleador do Atlético Mineiro nos anos 70 e 80. Convenhamos, há muito exagero nessa observação.
Acredito que esse tipo de comportamento dos ex-jogadores acontece por três fatores: Medo, inveja e babaquice. Medo de ser esquecido ou de que o surgimento de jogadores melhores possa deixá-los no ostracismo. Assim, alimentar uma suposta superioridade do futebol do passado é uma forma de manter eternamente a idolatria que os cerca. Inveja, por saber que a maioria dos atletas de hoje são muito mais bem remunerados do que eles eram, mesmo quando não são tão bons. E, por fim, babaquice, por se recusar a reconhecer o mérito alheio mesmo quando este é evidente.
Salvo raras exceções, o ser humano evita dizer ou fazer qualquer coisa que supostamente enfraqueça sua própria imagem. Jogador de futebol então é um narcisista nato. Saber que as pessoas admiram outros mais do que lhe admiraram costuma ser um golpe duro no ego. E se o bolso desse novo ídolo estiver mais recheado que o seu, a reação é ainda pior. Como costuma dizer Tostão, “as pessoas não são especiais, suas obras é que são”. Não poderia estar mais de acordo.

6 comentários:

Anônimo disse...

Lembro que na Copa de 1994 alguns jogadores de 1970 foram acusados de torcer contra a conquista nos Estados Unidos, porque tinham medo de ser esquecidos, ofuscados. Como se as gerações seguintes não pudessem também fazer parte da história do futebol brasileiro. Rivellino e Gerson eram dois deles. Carlos Alberto Torres tambérm. Não duvido que isso tenha acontecido. Tem gente que não sabe envelhecer...
abs
Venditti

Michel Costa disse...

Me lembro que os dois ex-jogadores citados não gostavam daquele time de 94, Venditti. Só não tinha ideia que o motivo poderia ser esse. Afinal, o discurso padrão era a crítica ao suposto defensivismo de Parreira. Se o motivo real era assim tão mesquinho, só nos resta lamentar que atletas tão importantes de nosso futebol possam ser tão pequenos em caráter.

Abraços.

Yuri disse...

Não concordo com Tostão algumas vezes e acho que ele fala muitas vezes querendo agradar os dois lados... mas sua sensatez é admirável. O cara realmente não tem ranço que outros demonstram ter.

Quanto a Romário e Messi, só perguntar para a torcida do Barcelona... hehehe... daqui a 20 anos as pessoas vão se perguntar quem foi Romário, Messi o deixará comendo poeira.

Michel Costa disse...

Tenho a impressão de que Messi poderá ser o maior depois de Pelé, Yuri. O problema é que eu também tive essa impressão de Ronaldo e as lesões atrapalharam. Quero acompanhar a trajetória de Messi ano a ano e só depois, quando o argentino encerrar a carreira, pensar sobre o que ele significou para o futebol. Pelo andar da carruagem, não será pouca coisa.

Abraços.

vinteedois disse...

Messi é muito grande.. mas pra mim, particularmente, ainda é menor que Romário, Zidane e Zico.
E no final, achei muito boa a coluna do Birner, falando no blog dele sobre ambos (Ronaldo e Romário).. e concordo com ele: ROnaldo pode ter sido mais que Romário (e os números não mentem, tão aí pra isso mesmo, pra embasar quem defende o ex-fenônemo).. mas pra mim, Romário foi infinitamente mais gênio! Romário Foi Gênio. pra mim.. na minha opinião..
tanto que torcia pro Romário fazer gols, mesmo ele jogando no Vasco (e cá pra nós, pra um Flamenguista admitir isso, não é qualquer um..)
Pois é.. tá aí, vou falar sobre isso também no blog! heheh valeu!!

Michel Costa disse...

Messi ainda está constriundo sua história, Igor. Deste modo, é normal que ele ainda esteja disputando espaço entre os monstros que você citou. Mas, por ainda ser jovem e não dar pistas de que pode se deslumbrar, acredito que o argentino ainda chega lá.

Abraços.