segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Uma questão de estratégia.

Sou terminantemente contra a convocação de um jogador naturalizado por uma seleção que não a do seu país. A não ser em casos em que o atleta se mudou muito jovem, antes de se profissionalizar ou até mesmo pensar em chutar uma bola.
A naturalização de jogadores com o intuito de reforçar uma seleção descaracteriza exatamente o que essa palavra significa no futebol, ou seja, a reunião dos melhores futebolistas nascidos em determinado país. Enxertar estrangeiros é, para mim, uma desvirtuação e até mesmo uma maneira de se impor aos adversários por meio de atrativos financeiros.
Apesar do presidente da FIFA, Joseph Blatter, já ter manifestado sua contrariedade a essas naturalizações, a entidade ainda não tomou medidas realmente sérias para coibir ou mesmo proibir essa iniciativa. Com essa demora, mais e mais casos de convocações brotam aqui e ali.
Luiz Gustavo, brasileiro que acaba de trocar o Hoffenheim pelo Bayer de Munique é um bom exemplo. Destaque do clube do subúrbio de Sinsheim, Luiz vem sendo cobiçado pela seleção alemã interessada nas qualidades do versátil volante. O próprio jogador já se mostrou interessado em defender a cores da Nationalmannschaft.
Por sua vez, o também volante Thiago Motta está disposto a defender a Itália. Sem chances no Brasil nos últimos anos, Thiago só depende do aval da FIFA para atender a convocação do técnico Cesare Prandelli. Essa liberação, considerada improvável, se faz necessária uma vez que o interista já defendeu a Seleção Brasileira na Copa Ouro de 2003. E, mesmo que o selecionado brasileiro tenha sido formado por atletas sub-23, a citada Copa era uma competição oficial adulta, o que inviabilizaria as intenções dos italianos.
Outro Thiago, o Alcântara, é tratado como jóia das canteras do Barcelona e alvo da Espanha. Primogênito do tetracampeão Mazinho, Thiago já defendeu a camisa da Fúria nas categorias menores – o que não o impediria de defender o Brasil – mas sua convocação por Vicente Del Bosque é vista apenas como questão de tempo. Meia de raro talento é considerado um autêntico camisa 10, um jogador de um contra um.
Particularmente, acredito que enquanto a FIFA não se mexe, CBF e Mano Menezes deveriam tomar providências. Primeiro, porque há qualidade nos três jogadores citados. Luiz Gustavo e Thiago Motta atuam exatamente no espaço em que a concorrência já viveu melhores dias. O meio-campo defensivo da Seleção vem sendo motivo de alguma dor de cabeça para os técnicos desde que a dupla formada por Emerson e Zé Roberto deixou de ser chamada. Enquanto isso, o jovem Thiago Alcântara pode ser uma peça importante no futuro da Seleção. Vale lembrar que enquanto Deco brilhava com a camisa de Portugal, o Brasil sofria com ausência de um meia capaz de cadenciar o jogo.
E segundo porque, estrategicamente, seria um erro deixar que três seleções rivais como Alemanha, Itália e Espanha se reforcem com atletas que podem ser úteis ao Brasil. Estivesse no lugar de Mano Menezes, entraria em contato que o trio e abriria as portas da Seleção para eles. Para assegurar a honestidade da ação, não garantiria nada além de igualdade na observação de seus desempenhos nos clubes. O que não dá mais é para ver brasileiros defendendo outros selecionados sabendo que existem camisas amarelas em disputa.

[Atualização]: Segundo informação do técnico italiano Cesare Prandelli, a FIFA concedeu a liberação para que o volante Thiago Motta defenda a Azzurra. Apesar de se tratar de uma questão delicada, não dá para dizer que as regras não foram ignoradas em favor da seleção tetracampeã. Com essa decisão, Thiago pode enfrentar não só a Alemanha em amistoso nesta quarta-feira, como poderá participar normalmente das Eliminatórias para a Euro 2012.   
Crédito das imagens: Reuters e EFE

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