Horas antes da partida em
que a Seleção Brasileira bateu a Venezuela por 2 a 1, Lédio Carmona, comentarista do canal SporTV, falou sobre a obrigação
de vitória diante do selecionado viñotinto como uma demonstração de respeito à
camisa “tão pisada nos últimos meses”. Naquele momento, de certo modo, o
jornalista estava condicionando o triunfo à vontade dos jogadores brasileiros. Respeitosamente
discordo dessa visão. O futebol já provou sobejamente que vontade é um
componente importante, mas está longe de ser o aspecto mais relevante do jogo.
Como se trata de um
esporte coletivo, arrisco dizer que o aspecto mais importante é a organização. Para
ser considerada eficiente, uma equipe precisa se defender bem, armar suas
jogadas com inteligência e ser contundente no ataque. Por consequência, intensidade
e compactação se tornaram palavras de ordem quando se pensa em modernidade no
futebol. E, embora a Seleção de Dunga seja compacta e intensa sem a bola, com ela
nos pés a história é outra. Obviamente, a melhoria na fase ofensiva depende do
entrosamento do novo time. Todavia, também cabe discutir as escolhas do
treinador.
Desde os tempos de
Felipão, a transição defesa/meio-campo tem sido um tormento para a Seleção. A
bola circula de uma lateral a outra sem que os volantes assumam sua função de
armar as jogadas. Por diversas vezes, o meia Willian precisou recuar para
receber dos pés dos zagueiros que iniciar as manobras de armação enquanto
Fernandinho permanecia preso à frente dos defensores e Elias se entregava à
marcação. Do banco, Casemiro, um dos melhores passadores do grupo convocado
para a Copa América, assistia a tudo sem receber uma oportunidade do técnico.
O grande ponto de inflexão
da partida se deu após o gol de Roberto Firmino. O confortável placar de 2 a 0 propiciou
a Dunga a possibilidade de colocar em campo o volante recém-incorporado ao Real
Madrid e tentar ficar mais com a bola. Porém, o caminho escolhido foi colocar
David Luiz no meio-campo pensando em vencer mais duelos aéreos e, quem sabe,
especular lançamentos. Instantes depois, a entrada de Marquinhos no lugar de
Robinho deu a certeza de que o treinador estava muito mais preocupado em
defender o placar do que construir uma vitória mais contundente. Não por acaso,
a Venezuela descontou após o rebote de uma cobrança de falta cometida pelo
mesmo Marquinhos e o Brasil tomou um esperado sufoco nos minutos finais.
E assim, o torcedor
brasileiro experimentou a sensação de ver sua seleção escalando quatro
zagueiros para se defender da Venezuela. Mesmo que Marquinhos tenha ido para a
lateral-direita e David Luiz para o meio, as alterações simbolizaram a maneira
como Dunga enxerga o futebol. Embora o técnico tenha dito que acompanhou de
perto a Copa do Mundo, restou a dúvida se observou a campeã Alemanha e seus
volantes construtores. Neste ponto, e apenas neste, poderíamos seguir a linha
de Lédio Carmona e dizer que se sobrou vontade durante os 90 minutos, faltou
outro elemento abstrato tão importante quanto: Coragem.
Imagem: Agência Getty
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