Houve um tempo em que a Copa do Mundo
era o oráculo do futebol. Ditava tendências táticas, elegia os mitos da bola,
encerrava ciclos vitoriosos. Atualmente, num mundo globalizado, onde as grandes
ligas nacionais e a UEFA Champions League reúnem os maiores craques do planeta,
o mais correto talvez seja dizer que a Copa consolida o que esse esporte tem de
mais interessante. Dos efeitos devastadores que o fim de uma temporada pode
causar nos jogadores até a capacidade de superação das maiores estrelas. Paralelamente,
ainda nos brinda com uma inigualável comunhão entre os povos. E algo assim não
tem preço.
Dentro de campo, o Mundial de 2014 vem
tratando de desmistificar o establishment
tático ao trazer de volta sistemas outrora considerados superados pelos
especialistas. Carlos Alberto Parreira, coordenador técnico da Seleção
Brasileira, costuma dizer que não há mais nada a ser inventado no futebol, mas
talvez possamos falar em reciclagem de velhos esquemas. É exatamente o que a
Holanda vem fazendo em nossos gramados. Organizada em num 5-3-2 – que pode
variar para 3-5-2 ou 3-4-3 – a Orange
tem desafiado a lógica desses sistemas ao não apenas conceder poucas
oportunidades como também marcar muitos gols. Foram dez apenas na primeira
fase, dois a mais do que a Espanha anotou em toda sua campanha vitoriosa em
2010. Tal estilo foi nomeado pelo técnico Louis van Gaal de reaction football, ou seja, a reação de
uma equipe ao que a outra se propõe a fazer com a bola. Não é preciso ser um
gênio para saber o que os holandeses, ofensivistas por natureza, estão pensando
da novidade.
O fato é que esta Holanda, mesmo sem
contar com uma brilhante geração, se classificou na primeira colocação do grupo
B deixando a Espanha pelo caminho tendo, inclusive, aplicado um sonoro 5 a 1 na
Roja. Um resultado chocante que se
tornou o prenúncio da eliminação da atual campeã quando esta também caiu diante
do Chile, sempre vendo seus rivais imprimirem um ritmo que nem de longe poderia
equiparar. Um declínio que pode ser visto como o ocaso de uma geração que
conquistou duas Eurocopas e um Mundial apresentando um futebol técnico e,
sobretudo, coletivo, uma marca da competição realizada na África do Sul.
Curiosamente, o que parecia ser uma
tendência nos jogos de seleções não vem se confirmando agora. Se há quatro anos
o Mundial ficou marcado pela força do coletivo suplantando ou anulando as
individualidades, agora estamos vendo selecionados sendo orientados de forma a
dar liberdade para que os craques decidam os confrontos. O Brasil de Neymar, a
Argentina de Messi e a Holanda que trabalha para liberar Robben por mais faixas
do gramado são bons exemplos. O que não significa que o coletivo tenha perdido
o seu valor, algo que Chile, Estados Unidos e Costa Rica tratam de desmentir
categoricamente, confirmando apenas que não existe verdade absoluta no futebol.
Ainda bem.
Fotos:
Sky Sports e Getty Images
2 comentários:
Minha seleção da primeira fase: Ochoa, Johnson (EUA), Varane, Kompany e Blind; Luiz Gustavo, Aranguíz e James Rodríguez; Messi, Robben e Thomas Muller.
Poderiam entrar (ou seleção B): Keylor Navas, Darmián, Godín, Rafa Marquez e Layún; Pirlo, Cabaye e Bryan Ruíz; Cuadrado, Neymar e Benzema (ou Van Persie).
Concordo plenamente com você, os times mostraram uma boa diversidade tática nessa Copa até agora, mas principalmente vimos equipes pensando em buscar o gol e ter a posse de bola de forma inteligente.
Verdade. Na primeira fase as equipes mostraram um ímpeto ofensivo que não se viu em Copas passadas. Mas, a partir das oitavas, a tendência é que a média de gols caia. Afinal, um erro pode significar o retorno para casa.
Abraço.
Postar um comentário