sábado, 8 de março de 2014

A audácia de Fernando Diniz

Como jogador, Fernando Diniz teve uma trajetória relativamente discreta. Defendeu clubes importantes do futebol brasileiro, alternando muitas vezes a titularidade e o banco de reservas. Foi um meia de boa técnica, que agradava seus treinadores pela inteligência tática que demonstrava em campo. Fora dos gramados, fugia do estilo boleiro, chegando a ser objeto de matérias na imprensa esportiva que realçavam um perfil intelectual pouco comum no meio. À distância, Diniz se parecia mais com um estudante universitário do que com um jogador profissional.
Agora treinador, Fernando Diniz também se diferencia de seus novos pares. Comandando atualmente o Grêmio Osasco Audax, time que disputa a primeira divisão paulista, tem chamado a atenção do meio esportivo pelo estilo implantado em sua equipe. Com clara inspiração no Barcelona de Pep Guardiola, o Audax preserva o toque de bola acima de tudo e não apela para chutões nem em momentos de alta pressão dos adversários. Uma prática que não deve garantir a classificação para as oitavas de final do campeonato estadual e que talvez careça de mais qualidade dos atletas, mas que já deixou sua marca. Nem que seja pela distinção dos demais.
Ex-comandante de Fernando no Fluminense, Flamengo e Santos, Oswaldo de Oliveira tem uma opinião não muito esperançosa quando o assunto é a aplicação desse estilo nos grandes times do País: “Lá a chinelada não arde tanto quanto arde nos nossos jogadores. Mas realmente é uma forma inteligente e ousada de jogar”, diz o atual técnico do Santos, ciente da pressão por resultados imediatos tão típica de nosso futebol.
Logicamente, o técnico do Audax discorda. Para Fernando Diniz, os grandes times podem apostar nesse estilo desde tenham paciência e confiança no trabalho. No entanto, o jovem treinador tem consciência de que tudo está ligado à performance da equipe: "Não tem sustentação de jogo sem resultado, mas ele não caminha separado da produtividade, do jogar bem, jogar bonito. Se eu começo a ganhar com o time jogando muito mal, eu tenho muito mais preocupação do que empatar ou perder jogando bem. Não olho só resultado, mas acaba sendo essencial", afirma.
Não restam dúvidas de que a mentalidade expressa acima se difere do que pensa a maioria dos nossos treinadores. E isso só faz aumentar a expectativa de um dia vermos Diniz chefiando algum time tradicional do Brasil. Todavia, como o próprio técnico assegura, toda e qualquer estratégia do futebol tem compromisso com o resultado. Antes de tudo, um treinador monta sua equipe com o objetivo de vencer e isso não deve ficar em segundo plano. E não há maneira melhor de se obter as vitórias almejadas do que jogar bem.
Fonte: Terra
Foto: Eric Mantuan/GE   

2 comentários:

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Acho só que não devem partir para o exagero; no jogo de quarta, mesmo depois de já estarem perdendo de 2x0, os jogadores do Audax continuaram a querer sair jogando conforme a maneira de jogo do F.Diniz e entregaram mais 2 gols para o São Paulo. Sou favorável à uma inovação tática, desde que ela seja feita com algum critério, além de bom senso. Se ele mesmo sabe que depende dos resultados, em algum momento deve saber pesar que vale mais jogar de forma mais simples em algumas ocasiões.

Valorizar a posse de bola é algo que sinto falta em nossos times por aqui e, se o pensamento do Diniz passar por isso, tem meu apoio.

Michel Costa disse...

Pelo visto, a ordem é não fugir do estilo nem quando o placar está adverso.
Logo depois que postei, fui avisado no Twitter pelo Eduardo Madeira que o ex-volante Pingo (novo treinador do Avaí) também é adepto do estilo. É bom saber que novas ideias estão surgindo, mas, como você bem escreveu, é preciso haver bom senso em determinados momentos da partida.