Pouco mais de 15 mil pessoas pagaram
ingresso para ver o primeiro Fla-Flu de 2014. Um pequeno público para assistir
à vitória por 3 a 0 do Tricolor sobre seu histórico rival. Além do placar
elástico e da estreia do atacante Walter pelo Fluminense, chamou a atenção a enorme
faixa levada por torcedores do Flamengo contra os abusivos preços dos
ingressos. Para o clássico, 100 reais foram cobrados pela entrada mais barata,
um preço que poderia chegar a 300. O resultado disso foi um Maracanã vazio, bem
longe de sua capacidade máxima. Como justificativa, a diretoria rubro-negra
alega que o uso de carteirinhas de estudante – muitas vezes falsas – que
conferem o direito da meia-entrada inviabiliza valores mais compatíveis com a
realidade brasileira.
No entanto, não é preciso ser
especialista no ramo para enxergar o óbvio: Se o Maracanã comporta 73531
torcedores, então alguma coisa está errada. Apesar dos campeonatos estaduais
estarem longe do prestígio de outrora, o público presente ao estádio Mário
Filho esteve muito aquém do que deveria. Uma das razões ficou estampada nas
arquibancadas por mais de 90 minutos. Chegar às outras também não é difícil. A obsolescência
à qual os campeonatos regionais ficaram expostos nas últimas décadas é outra
delas. De torneio mais importante para os clubes, hoje não passam de um estorvo
num inchado calendário, amparado apenas por sua importância política e pelo
saudosismo de quem acompanhou seus melhores dias.
A violência dentro e fora dos estádios
é a terceira razão, embora talvez seja a mais importante. As imagens dos 200
torcedores corintianos invadindo o CT “Dr. Joaquim Grava” há uma semana são
mais uma prova de que as torcidas organizadas ultrapassaram todos os limites
possíveis. Como se não bastasse o prejuízo causado por essas gangues que nada
contribuem com o futebol e vivem do dinheiro das agremiações, elas ainda se
acham no direito de agredir física e verbalmente os atletas em seu ambiente de
trabalho. Uma vergonha muitas vezes acobertada pelos próprios clubes, como
ocorreu no alvinegro paulista. A desculpa de que “só as organizadas sabem
torcer” é uma estupidez histórica que não merece maiores comentários.
Outros fatores como horários das
partidas, o fácil acesso aos jogos pela TV e a baixa qualidade do espetáculo
oferecido podem ser incluídos nessa equação que resultou no colapso da cultura
de se frequentar estádios no Brasil. Assistir a uma partida em in loco se tornou uma aventura arriscada
e dispendiosa. Minimizar tais fatores para dizer que brasileiro não gosta de
futebol ou que tem preguiça de ir a um estádio é, sem sombras de dúvidas, um
desserviço ao que deveria ser um movimento conjunto para se reverter essa
situação. E um dos passos para que os times brasileiros sigam sem ver suas torcidas
lotando as arquibancadas.
Foto:
Rosana Fraga / Lance!Press
6 comentários:
O torcedor no Brasil, tirando algumas exceções, só vai no estádio em condições muito favoráveis, ou seja, ele já boicota de certa forma alguns jogos, mas não apenas dos estaduais. A média de público do Brasileiro é baixa, perto do que poderia ser, o PVC sempre fala sobre isso. Não digo que o brasileiro não gosta de futebol, mas talvez tenhamos de relativizar um pouco a frase "país do futebol". Existem outros com mais fanáticos certamente.
Mas de fato os fatores que você citou como os empecilhos para que os nossos campos estejam cheios são esses mesmo. Não há promoção dos jogos, tanto no incentivo das pessoas frequentarem os estádios, quanto no preço abusivo. O SP estava mal ano passado, baixou os ingressos e lotou o Morumbi; agora com o ano novo, voltou tudo ao normal nos preços das entradas e o campo fica vazio.
Grande Michel,
E quem se importa? Nessa brincadeira aí, devem ter arrecadado pelo menos R$1,5 mi
Esse campeonato está matando os times pequenos,
Por mais paradoxal que pareça, já que mantê-los vivo é a desculpa de manter essas fórmulas vivas.
Alexandre,
Não creio que seja apenas fanatismo o que move torcedores a lotarem estádios. Existem diversos fatores que contribuem para que a média aumente ou diminua. A frequência nos estádios, para mim, está longe de ser o melhor parâmetro para indicar isso.
Alguns exemplos: Atualmente, a MLS tem uma média de público superior à do Brasil. Alguém, em sã consciência, crê que os americanos gostam mais de futebol do que os brasileiros?
Até a reorganização do futebol inglês a partir do Relatório Taylor, a média inglesa era consideravelmente mais baixa do que hoje. Será que os britânicos gostam mais do futebol agora do que gostavam há 20 anos?
A média da Bundesliga vem aumentando nos últimos anos, quais seriam as razões desse aumento? A paixão clubística?
Esses são os meus pontos no texto. Se começarmos a achar que a média no Brasil é baixa porque brasileiro não gosta de futebol e só vai na boa, nunca será feito um trabalho que leve os torcedores ao estádio. Assistir a uma partida deveria ser um grande programa e não uma aventura que coloque até mesmo a vida em risco.
Para tanto, aspectos como a relação preço/competição/nível do time, segurança, conforto, organização precisam jogar a favor e não contra.
Abraço!
O clássico arrecadou pouco mais de R$ 1 milhão, Thiago. Mas poderia ser muito mais, caso os dirigentes se conscientizassem da necessidade de se criar uma cultura de frequentar estádios, além de compreender a importância da receita com bilheteria nos grandes clubes da Europa. Sem falar que os preços girando de 100 a 300 reais estão mais do que abusivos e incompatíveis com o produto que oferecem em campo.
Abraço.
Não duvido Michel que o conforto, as boas condições de transporte, segurança e até mesmo de higiene, promoções, ou seja, tudo que incentive que os BONS torcedores voltem aos estádios com mais frequência cause o aumento da média de público no estádio. Mas vejo pelo próprio comportamento de muitos aqui no Brasil, que alguns preferem mais o SEU time do que o futebol em si.
O próprio comportamento da TV aberta que, por exemplo, nesta quarta, não deve exibir jogo para SP pois não tem ninguém do estado na Libertadores. Se colocasse algum jogo de fora, talvez não obtivesse a audiência necessária, pois muitos não ligam para algo de fora do seu umbigo. Para nós que gostamos de futebol de modo geral, é algo meio inconcebível, mas é o pensamento médio geral, infelizmente.
Claro que o brasileiro gosta de futebol, e acho que deve se valorizar isso, toda iniciativa deve ser válida para trazer gente de bem aos estádios, mas temos de lembrar que nossa paixão (generalizando um pouco) é peculiar, pelo menos no meu ponto de vista. Acho que a melhoria dos transportes, por exemplo, seria um primeiro passo para se levar as pessoas aos jogos, mas infelizmente essa oportunidade, que poderia começar na Copa já foi jogada fora.
UM ABRAÇO!
Verdade. Perdeu-se uma chance imensa para se melhorar as condições dos torcedores brasileiros durante a organização da Copa. E em todos os sentidos. Só acho que os comentaristas esportivos em geral deveriam evitar entrar no discurso de que "brasileiro não gosta de futebol" e começar a questionar os motivos que afastam as torcidas dos estádios. Motivos que estão bem evidentes, ao meu ver.
Abraço.
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