quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A distância entre o discurso e a prática.

Quando assumiu a Seleção Brasileira após a Copa do Mundo de 2010, Mano Menezes disse exatamente o que as pessoas queriam ouvir. Além de falar em renovação, afirmou que o Brasil buscaria o protagonismo perdido. Na prática, isso significava romper com a filosofia de jogo mais pragmática implantada por Dunga e apostar num futebol mais ofensivo e fluído, baseando-se no talento.
O primeiro amistoso diante dos Estados Unidos foi dos mais auspiciosos. Vitória e futebol de encher os olhos com a presença de um trio ofensivo formado por Robinho, Neymar e Pato, munido pelo maestro Paulo Henrique Ganso. No dia seguinte, a conclusão era uma só: Para retomar o protagonismo, era assim que a Seleção deveria jogar.
Os meses passaram e não foi isso o que se viu. Contra a Argentina, um precavido Mano colocou em campo um time sem um homem de referência e com Robinho e Neymar flutuando no ataque apoiados por um anacrônico Ronaldinho, substituído depois por um inexplicável Douglas. A derrota por um a zero - com o gol saindo nos acréscimos após linda jogada de Messi - se não tirou a confiança, deixou uma pulguinha atrás da orelha de quem viu aquela opaca apresentação.
Agora foi a vez da sempre indigesta França fazer soar de vez o sinal de alerta. Tudo bem que a vitória dos Bleus, que atuavam em seus domínios, sobre um time que contava com apenas dez homens em campo (Hernanes foi expulso aos 38 minutos do 1º tempo) precisa ser relativizada. Mesmo assim, a excessiva preocupação defensiva do técnico brasileiro tanto na escalação inicial quanto nas alterações promovidas mostram que o discurso inicial talvez não seja o mais apropriado.
Embora Elias possa ser considerado um jogador mais ofensivo que Felipe Melo, o desenho tático deste Brasil lembra demais o criticado sistema utilizado por Dunga. Foi impossível não reconhecer no 4-2-3-1 de hoje as mesmas ideias do time que caiu nas quartas-de-final da África do Sul. Além de dois volantes, Renato Augusto emulava Elano na direita, Hernanes armava por dentro e Robinho se manteve na mesma função dos últimos anos abrindo mais pela esquerda. Na frente, um quase sempre solitário Alexandre Pato tentava repetir o antecessor Luís Fabiano.
Todavia, se o sistema é basicamente o mesmo, os resultados não são. No geral, o Brasil de Dunga parecia mais sólido em campo. Mesmo quando jogava mal (e isso não ocorreu poucas vezes) costumava sair com uma vitória magra ou um empate. O problema é que o tetracampeão já carregava consigo a aversão de torcedores e imprensa que viam nele a personificação do antifutebol, algo que, somado aos seus rompantes, provocavam antipatia quase geral.
Para sua sorte, Mano Menezes não sofre como essa aversão coletiva. Embora não tenha um currículo dos mais vastos, o ex-técnico do Corinthians sempre mostrou equilíbrio em suas palavras que sempre soam calculadas, quase frias. No entanto, sem resultados, não há proposta que se sustente. E, caso Mano não queira descobrir isso de uma maneira dolorosa, é bom passar a colocar suas próprias palavras em prática.  
Crédito da Imagem: AFP

4 comentários:

minicritico disse...

Apostas são válidas e gostos são subjetivos, mas eu acompanho a Bundesliga e tenho convicção que nomes como Carlos Eduardo (hoje na Rússia) e Renato Augusto não estão nem de longe à altura da Seleção, por mais que o Mano Menezes goste do futebol deles. O mesmo vale pro Ederson, que teve aquela infelicidade contra os EUA. Por outro lado, acho que as apostas em Jadson e Hulk são excelentes, e me agrada ver que o Mano reconhece a grande fase que atravessam Lucas, Thiago Silva e David Luiz.

Fora isso, sobre o jogo, acho que falta ambição à Seleção e a alguns de seus jogadores. Alexandre Pato, por exemplo, tecnicamente é quase completo, mas é frio como um centroavante não deve ser. Raramente busca o jogo, tem pouca movimentação e não busca o contato com os zagueiros, como seu antecessor Luis Fabiano cansava de fazer - e bem. E Hernanes, que era talvez quem mais merecesse a convocação e a chance de ser titular nesse momento, jogou tudo no lixo com um rompante inexplicável de irracionalidade. Achei também os laterais, especialmente Dani Alves (que até protagonizou lances de efeito no final) muito discretos durante toda a partida, em que pese a vocação defensiva de Sagna e Abidal.

Pelo lado da França, a dupla Menez e Benzema simplesmente acabou com o jogo. Atuação perfeita de ambos. E com destaque também para o par de zagueiros dos Bleus, formados pelos ótimos Rami e Mexès.

Michel Costa disse...

Não acompanho Renato Augusto tanto quanto gostaria no Leverkusen, Mini-Crítico. Sei que ele vem recebendo elogios, mas, para mim, aquela posição deveria ser de Hulk (ou Neymar) com a retomada do 4-3-3 inicial de Mano.
Quanto ao Pato, acho que ele ainda tem muito a evoluir na Seleção e marcar mais gols do que o Fabuloso, embora saiba que dificilmente encontraremos outros CF's como foram Romário e Ronaldo.
Sobre a França, concordo inteiramente com tua análise.

Grande abraço.

Eduardo Junior - Blog Europa Football disse...

Acho válido o Mano fazer esses testes, mas ele anda variando muito os esquemas (disso já não gosto). Tu, Michel (assim como o André Rocha) tiveram a impressão do Brasil ter jogado num 4-2-3-1, eu tive a impressão de um 4-1-3-2, mais tarde vi que o Eduardo Ceocconi achou o mesmo. Não deve ser boa coisa quando pessoas diferentes que vem o mesmo time jogar, enxergam esquemas diferentes.

O Renato Augusto esteve muito tímido, não lembrando as atuações dele no Leverkusen, onde ele aparece confiante em campo.

Assim como o Mini-Crítico, concordo que Ménez e Benzema deitaram e rolaram, e o atacante da Roma deitou e rolou na "Avenida André Santos". O Mano poderia testar mais jogadores por lá, Marcelo estava no banco. O problema é que tirando o Marcelo, poucos laterais-esquerdos vem a mente pra serem testados!

Michel Costa disse...

Infelizmente, perdi os vinte primeiros minutos do jogo, Eduardo. Mas, quando cheguei em casa, vi Hernanes atuando mais centralizado e Renato bem aberto na direita. Por sua vez, Robinho seguia flutuando a partir da esquerda.
De qualquer forma, considero que tive pouco tempo para ver o Brasil com onze em campo, já que o jogador da Lazio foi expulso logo a seguir.
No mais, o que eu mais cobro no post é a retomada de um trio ofensivo, algo que Mano deu a entender que faria, mas abriu mão logo que se viu diante de adversários mais qualificados.

Abraço.