As últimas 20 edições de La Liga tiveram Real Madrid ou Barcelona
como campeões e vice-campeões. Nessas duas décadas, o título só não ficou com
um dos dois gigantes em 1996, último título do Atlético de Madrid, 2000,
primeira e única conquista do Deportivo La Coruña, 2002 e 2004, quando a
primazia coube ao Valencia. Nesse período, a pior colocação da dupla foi o
sexto lugar do Barcelona em 2003. Indubitavelmente, seus torcedores não têm
grandes motivos para se queixarem da vida. No outro lado do oceano atlântico,
mais precisamente no Brasil, as coisas não funcionam assim.
Talvez por (ainda) não haver um abismo
financeiro como ocorre na Espanha, talvez pela atávica falta de planejamento dos
cartolas locais ou, simplesmente, pela distribuição geográfica de nossos centros
do futebol, o fato é que nenhum clube brasileiro consegue estabelecer uma
supremacia que dure muitos anos. Do fantástico São Paulo de Telê Santana do
início dos anos 1990 ao atual Corinthians de Tite, não houve uma equipe capaz
de dominar o País por mais de três, quatro anos. Isso é, ao mesmo tempo, nossa
maior virtude e maior fraqueza.
Virtude por apresentar um campeonato
com alta dose de imprevisibilidade e emoção. O campeão de hoje pode lutar pelo
rebaixamento amanhã, enquanto o rebaixado de ontem pode chegar ao topo pouco
tempo depois. E fraqueza pela quase que total ausência de projetos esportivos
consistentes que sejam capazes de se sustentar em longo prazo. No Brasil, quem
carrega seu próprio projeto esportivo na bagagem é o técnico. É ele quem traz a
filosofia de jogo que muitas vezes está “contaminada” pelo medo de perder seu
cargo após três derrotas seguidas. Não são raros os casos de clubes que demitem
um técnico de determinado estilo e contratam outro com ideias totalmente
diferentes na sequência.
Nesse cenário, é curioso observar
torcedores que outrora despejavam gozações sobre os rivais agora fazendo as
contas para ver se o seu time foge da degola. O futebol brasileiro é cíclico em
seu DNA. Exatamente por isso, os sacanas deste momento podem ser os zoados de
amanhã. A arrogância de um instante pode ser punida pouco tempo depois. Para
isso, basta que seus amigos tenham boa memória.
Foto:
Agência Estado
2 comentários:
Acho que, no caso específico do São Paulo que acompanho mais, a arrogância entrou de braço dado com a incompetência; a saída de vários profissionais da comissão técnica permanente, como o Carlinhos Neves (que é fundamental no crescimento do CAM) fez com que fossem colocados pessoas menos capazes no clube; dentro de campo, o Adalberto Batista se mostrou um bom negociador, mas um péssimo gestor de futebol. Junte-se a isso a ideia da soberania do SP, que na verdade não se concretizou em 2005-2009 pois faltou uma Libertadores sob o comando do Muricy ou mesmo um Campeonato Paulista, que muitos são paulinos desprezam (olha a soberba aí...), mas que não é meu caso, acho um torneio importante dentro de nossas tradições.
Se formos analisar, mesmo na Espanha não houve um domínio único de algum gigante por muito mais tempo do que 3 ou 4 anos. O Barça do Rijkaard durou 3 temporadas, depois houve um hiato de 2 anos para o surgimento do time do Pep. O Real do Zidane, na verdade mesmo, não chegou a ter essa hegemonia toda, venceu títulos mas de forma mais espaçada. Acho que a competitividade, seja de 2 ou mais clubes faz com que a coisa seja cíclica mesmo; além disso existe aquela teoria do Felipão; treinador tem ficar 3 anos no máximo em algum clube e depois pegar a malinha e vazar. Nem acho que seja o caso do Tite, mas você vê que a pressão fica quase que insurpotável.
No caso da Espanha, creio que a referência é o fato de que os dois gigantes, mesmo oscilando, o que normal, nunca passam apuros como flertar pelo menos com a hipótese do rebaixamento. Isto está totalmente fora da realidade deles. O mesmo não pode ser dito dos grandes clubes brasileiros, apesar do faturamento muito superior ao de Náutico & cia.
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