A segunda passagem de Luiz Felipe
Scolari como técnico da Seleção Brasileira foi anunciada no fim de novembro de
2012. Em pouco mais de dez meses, o gaúcho de Passo Fundo conseguiu transformar
uma equipe desacreditada em um dos favoritos ao título mundial que será
disputado em 2014. Para tanto, escolheu a fórmula mais simples: Convocou os
melhores e mais experientes e pediu-lhes que jogassem como fazem em seus
clubes. Simples, não? Bem, não para seu antecessor. Segundo Mano Menezes, o
futebol brasileiro estava defasado e isso se refletia na Seleção. O ex-técnico
observava que as linhas mais espaçadas dos nossos times impediam que houvesse a
intensidade necessária atualmente e não acreditava na eficiência de um primeiro
volante que protegesse a defesa. De quebra, chegou a retirar do onze inicial a
figura do centroavante clássico, centralizando o móvel Neymar na posição.
Em campo, é fato que o trabalho de
Mano não se refletia em resultados, mas sua demissão esteve mais ligada ao
orgulho do presidente da CBF, José Maria Marin, que não queria seguir com um
treinador escolhido por Ricardo Teixeira do que por preocupação com os rumos de
um projeto ineficiente. Alheio a essa questão, bastaram alguns amistosos para
que Felipão percebesse que o futebol brasileiro não seria revolucionado de cima
para baixo. Era mais simples aproveitar as características dos atletas brasileiros
já formados do que tentar adaptá-los a um estilo de jogo importado. Deste modo,
o bom e velho camisa 5 entrou no time para dar suporte a uma defesa que possui
dois típicos laterais apoiadores, o centroavante voltou para marcar gols
importantes e Neymar retornou ao conforto da ponta-esquerda. Na prática, era o
4-2-3-1 mundialmente difundido permeado com a marcação e intensidade
imprescindíveis hoje, mas com a pitada de futebol tupiniquim que nos torna
singulares. Tudo isso sob as asas paternais de um comandante que defende seu
grupo a todo custo.
O Brasil que venceu a Coreia do Sul por
2 a 0 em Seul é a continuidade de uma sequência positiva de boas apresentações
e resultados. Cada vez que entra no gramado, a Seleção Brasileira demonstra a organização
e confiança adquiridas em apenas dez meses desde a chegada de Felipão. Não é
uma esquadra perfeita e nem poderia ser, dado o pouco tempo disponível para treinamentos
e ajustes. A saída de bola ainda inspira cuidados, os laterais precisam ser mais
regulares e não há a certeza de que Fred estará em forma quando o momento
chegar. Mesmo assim, não se contesta a evolução da equipe desde a chegada de
Scolari. O que não significa, em absoluto, que o hexacampeonato está garantido.
Contudo, é inegável a constatação de que os tempos de instabilidade ficaram
para trás.
Imagem:
Mowa Press
3 comentários:
Uma coisa que pouca gente lembrou até hoje: pouco tempo antes da demissão do Mano, o João Havelange deu uma entrevista que foi reproduzida pelo UOL: http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2012/10/29/havelange-chama-mano-menezes-de-imbecil-e-diz-que-gostaria-de-ter-scolari-e-parreira-comandando-a-selecao.htm; talvez o Marin já não gostasse do Mano e lendo o que o veterano cartola disse, teve uma "luz" e um impulso para fazer o que já pretendia a algum tempo. Mas é indiscutível que o trabalho anterior não vinha bem e o Felipão, com maior firmeza de propósitos e no esquema com maior simplicidade. Penso também que ele aproveitou bem o clima da Copa das Confederações em casa para criar uma identidade que esse time não tinha, pois parecia jogar com uma certa indiferença. Ainda não vemos uma equipe extremamente mais qualificada, mas certamente é mais competitiva.
Só separando o link da entrevista do Havelange:
http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2012/10/29/havelange-chama-mano-menezes-de-imbecil-e-diz-que-gostaria-de-ter-scolari-e-parreira-comandando-a-selecao.htm
Pode ter influenciado sim, Alexandre. No entanto, acho que pesou mais o fato de Mano ter sido indicado por Teixeira. Seja como for, é de se lamentar que a escolha não tenha sido técnica. Particularmente, acredito que Mano deveria ter sido demitido no retorno ao Brasil logo após os Jogos de Londres. Ali estava claro que a Seleção não iria a lugar nenhum com ele.
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