sexta-feira, 13 de junho de 2014

O emocional como maior adversário


Como esperado, a estreia brasileira na Copa do Mundo foi uma partida complicada. O choro de alguns jogadores da Seleção e a perceptível emoção estampada nos rostos de todos indicavam que o time começaria com os nervos à flor da pele. E foi o que aconteceu. Oscar, o melhor em campo dentro dos noventa minutos, começou disperso e perdeu duas bolas que originaram contra-ataques perigosos da Croácia. Num deles surgiu o gol contra de Marcelo. Ainda no lance que abriu o placar, Daniel Alves tentou, inexplicavelmente, pressionar o goleiro Pletikosa e acabou deixando um imenso vazio na lateral direita que o atacante Olic soube aproveitar bem.

E foi exatamente após o gol croata que surgiu o pior adversário do jogo: Dominar o próprio emocional e buscar a reação. Marcelo mostrou logo que não se intimidaria e exibiu uma raça incomum até mesmo para ele. Oscar, que estava desaparecido, ressurgiu para uma das maiores exibições de sua carreira, atuando com destaque nos desarmes, na armação de jogadas e também nas conclusões. Por sua vez, Neymar assumiu a responsabilidade de ser o protagonista da Seleção Brasileira e materializou isso no chute imprevisível que igualou o marcador e na cobrança do pênalti incorretamente assinalado.

No geral, é possível dizer que o time respondeu bem a uma situação adversa. Há um pouco de ingenuidade em esperar que esta Seleção Brasileira coloque ordem na casa trocando passes como faria a Espanha, por exemplo. Não é o DNA deste time. E nem do futebol brasileiro atual. Durante anos, formamos jogadores que combinam habilidade com velocidade e isso não deve mudar por enquanto. Mesmo com 61% de posse, a resposta foi dada em forma de pressão, velocidade e verticalidade. E dificilmente seria diferente disso.

Coletivamente, o grande dilema do Brasil no Mundial será controlar a volúpia que o faz pressionar os rivais no campo de ataque com a responsabilidade de não expor sua defesa. Uma marcação que gerou apenas cinco faltas, o que é positivo, mas que também cedeu espaços preocupantes. Como a estreia ficou para trás e os três pontos foram somados, espera-se uma Seleção mais segura e inteligente no segundo duelo diante do México e que as adversidades sejam apenas as impostas pelos comandados do técnico Miguel Herrera.   
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: Marcos Ribolli/Globo Esporte

4 comentários:

P. L. F. V. disse...

Analisar o fator psicológico é sempre algo complicado, mas acredito que a Seleção estará mais "tranquila" nos próximos jogos -- não obstante o México sempre seja uma pedra em nossas chuteiras...

Achei interessante o que disse sobre o modo de jogar da equipe. De fato, não devemos esperar ver uma Espanha (de 2010) com camisas amarelas.

Michel, acha cabível dizer que esta Seleção Brasileira "está mais para Bayern que para Barcelona"?

Abs

Michel Costa disse...

Também penso assim, Vinícius. Dizem que alguns técnicos acham a estreia um evento psicologicamente mais difícil do que a final. Bem, não sei se chega a tanto, mas certamente é algo complicado.

Quando ao estilo, tanto desta quanto da anterior, é vertical mesmo. Portanto, as soluções virão a partir desse estilo, não adianta querer mudar agora. Sem falar que nossa torcida não suportaria toques laterais insistentes... hehe.

Abs.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Alguns papagaios de discurso pronto não puderam repetir a ladainha que muitos técnicos e jogadores usam sempre que a Seleção Brasileira ou algum time nacional não conseguem bons resultados contra times considerados mais fracos. A Croácia não jogou com “10 atrás da linha da bola” ou com “duas linhas de quatro”. Jogou com dois meias como “volantes” (Raktic e Modric), além do Kovacic ajudando, sendo que ele também é um cara de toque de bola. O engraçado é que fez falta algum “cão de guarda” na frente da defesa croata na hora do primeiro gol do Brasil; talvez Neymar não teria tanta facilidade de dominar na frente da área e chutar no gol com muita maestria. O que preocupa é a cobertura dos laterais. Daniel Alves e Marcelo foram muito inconstantes no ataque e deram muita chance na defesa. A Croácia explorou bem essa fraqueza brasileira e isso fica de alerta para as próximas partidas.

Sem dúvida que existiu uma pressão psicológica nessa estreia, que pode ser diminuída com o passar da Copa, se o Brasil for avançando. O que deve ser corrigido também é o fato do time criar mais alternativas de jogo e não depender tanto da saída em velocidade. Parar e reter a bola de vez em quando faz bem.

E o penalti no Fred para mim não aconteceu.

Michel Costa disse...

Verdade, Alexandre. A Croácia passou longe de armar uma retranca. No entanto, o que notei desta vez foi o mesmo que sempre noto quando a Seleção não joga bem: Muitos "analistas" parecem não entender que existe um adversário do outro lado. Às vezes, parece que a Seleção sofre por causa dos próprios defeitos e não porque há qualidade do outro lado.
No caso dos laterais sim, há um problema evidente a ser corrigido. Daniel Alves não pode bancar o Sorín como fez no lance que originou o gol croata. Se o lateral quer pressionar o goleiro rival, pelo menos que haja uma cobertura por ali. Não houve naquele dia e a Seleção precisou escalar uma montanha para virar o jogo. Não fosse a mãozinha do árbitro...

Abraço.