domingo, 18 de novembro de 2012

Taticamente Falando

Espaço destinado a comentar um assunto que é interessantíssimo para alguns, mas tido por muitos como aborrecedor ou difícil de ser assimilado. Todavia, sem o mínimo conhecimento desse aspecto, o futebol não pode ser compreendido em sua totalidade.
Febre 3-5-2 invade a Itália
Quando Pep Guardiola adotou temporariamente uma linha de três na defesa do Barcelona a ideia era aumentar ainda mais o domínio do time catalão sobre seus adversários. Deste modo, o meio-campo blaugrana ganhou mais um jogador e o toque de bola tornou-se ainda mais irrefreável. Enquanto isso, na Itália, os sistemas com três zagueiros vêm se tornando cada vez mais utilizados. A motivação, contudo, não parece ser a mesma.
Antes de a campeã Juventus adotar o sistema, Napoli e Udinese já faziam uso do 3-5-2 (com variações para 3-4-2-1 e 3-4-3). Tanto Walter Mazzarri quanto Francesco Guidolin, os respectivos treinadores, precisavam reequilibrar suas defesas por contarem com laterais/alas que tinham no apoio uma capacidade maior do que na recomposição. Cristian Maggio do lado partenopeu e Pablo Armero do lado friulano são os melhores exemplos de jogadores que são fortes no apoio, mas deixam a desejar na defesa.
É muito provável que parte da iniciativa do técnico bianconero Antonio Conte em adotar o 3-5-2 tenha nascido dos bons resultados que os rivais tiveram. A outra parte se encontrava na fragilidade defensiva de seus próprios laterais Stephan Lichtsteiner e Paolo De Ceglie e da não readaptação de Giorgio Chiellini à lateral esquerda. Convicto de que a nova formação era a ideal, Conte moldou a equipe que conquistaria seu 28º scudetto de forma invicta. Com três zagueiros e um consistente meio-campo formado por Andrea Pirlo, Claudio Marchisio e Arturo Vidal, as alas tiveram diversos donos nos últimos meses e são ocupadas pelos ex-Udinese Mauricio Isla e Kwadwo Asamoah (figura 1).
Como no futebol quem vence dita a tendência, não demoraram a surgir cópias do sistema juventino por toda Itália. Segundo o site da Gazzetta dello Sport, metade das 20 equipes da Seria A (Bologna, Fiorentina, Internazionale, Juventus, Napoli, Palermo, Parma, Pescara, Siena e Udinese) alinham-se com três defensores. Até mesmo o Milan, que por anos atuou no módulo 4-3-1-2, chegou a ser escalado, sem sucesso, no 3-5-2 por Massimiliano Allegri.
O que realmente não parece lógico é a adoção de um sistema em desuso como o 3-5-2 no momento em que o mundo adota o 4-2-3-1 (figura 2) como default system. Com três zagueiros, como efetuar o encaixe na marcação diante de equipes que atuam com um único atacante fixo, mas que pode receber o auxílio dos wingers pelos lados do campo, tornando-se um 4-3-3? Com três atacantes, há a indefinição da marcação, pois se os zagueiros saírem da área um rombo será aberto e se os alas recuarem para marcar dos pontas, o meio-campo ficará em três contra três. Ou seja, se o 3-5-2 surgiu como uma resposta inteligente ao 4-4-2, o mesmo não pode ser dito sobre o seu retorno. A não ser que os italianos convençam o restante da Europa a adotar seu novo sistema. Porém, como foi dito acima, se quem vence dita a tendência, o atual momento das equipes da Bota em gramados internacionais não parece inspirar ninguém.

6 comentários:

João Caniço disse...

Óptima análise, Michel. No entanto, tenho que destacar que a Juventus jogou um pouco mais de metade da temporada passada em 4-3-3 com Pepe e Vucinic como extremos e preferencialmente Matri como ponta-de-lança. Se a memória não me falha Pepe passou por alguns problemas físicos por volta de Janeiro-Fevereiro e o rendimento de Vucinic não parecia satisfazer Conte, já que se encontrava «preso» ao flanco esquerdo o que, somando aos factores por ti descritos no «post» levaram o técnico «bianconero» à mudança de sistema táctico por essa mesma altura, abrindo algum espaço para Quagliarella e Del Piero (actualmente Giovinco) entrarem com maior regularidade na equipa. Curiosamente o rendimento de Matri baixou bastante no 3-5-2, ao contrário de Vucinic, já que dispõe de maior espaço e liberdade de acções. Pessoalmente gostei da mudança. A equipa continuou bastante sólida defensivamente com três centrais que se complementam muito bem entre si (Bonucci ganhou bastante maturidade no último ano, é raro cair nos disparates infantis que cometia com frequência no passado, Barzagli deve estar na melhor forma da carreira e Chiellini continua o rochedo de sempre), Pirlo ganhou mais linhas de passe com o avanço dos alas e com a capacidade de Marchisio e Vidal aparecerem com frequência nas zonas de finalização. Como é óbvio todo e qualquer sistema táctico tem as suas debilidades - não conheço nenhum perfeito - e, apesar de não ser recorrente, por vezes o sector defensivo é apanhado em contra-pé, desamparado perante rápidas contra-ofensivas de forma possivelmente enquadrada na explicação vigente no teu último parágrafo. Quanto à tendência espero vivamente que ela seja invertida e já na próxima terça-feira diante do emblema do mafioso russo.
Abraços.

Michel Costa disse...

Bem observado, JP. Aliás, ninguém melhor do que você para explicar o quanto a Juventus ganhou com a mudança de sistema. No entanto, o que é solução para um time não é necessariamente para os outros. A adoção do 3-5-2 no Calcio parece muito mais a cópia do que vem fazendo o campeão do que propriamente uma conclusão coletiva do que é melhor. E é justamente isso o que me incomoda.

Abraço.

João Caniço disse...

Sem dúvida, Michel. Sou da opinião que um treinador deve implementar um sistema táctico em função dos jogadores que dispõe e não o inverso, muito menos de uma mera cópia como parece ser o caso do momento no «Calcio». Referindo novamente Conte recordo que toda a imprensa italiana acreditava que ele iria impor na Juventus o seu até então típico sistema de 4-4-2. No entanto, rapidamente percebeu que seria contraproducente abdicar de Marchisio ou Vidal, ou desviar um deles para uma faixa. Ponto para ele. Neste caso o próprio 3-5-2 pode-se considerar como uma evolução do 4-3-3, já que o trio de centrocampistas se manteve inalterado, Chiellini e Vucinic mantiveram-se no «onze», mudaram apenas de posição. Somente Pepe perdeu o lugar a favor de um ala esquerdo, actualmente Asamoah.
Abraço.

Michel Costa disse...

Totalmente de acordo, JP. Aliás, penso que até mesmo a postura em campo depende das características dos jogadores. O melhor exemplo recente talvez seja o Chelsea da última temporada. Só engrenou depois que Di Matteo rearrumou a equipe defensivamente e apostou nos contragolpes. Duvido muito que os Blues conseguiriam o mesmo êxito se atuassem de outra maneira.

Abraço.

Douglas Muniz disse...

E ai Michel, beleza? Quanto á analise, achei interessante tocar nesse ponto. A Juventus consegue minimizar o impacto do 3-5-2 contra esquemas que "não há encaixe" por conta da intensidade de seu jogo. Michel, na seção "Imagens da Semana", acho que faltou ter colocado o fato do San Lorenzo poder voltar a mítica cancha do Boedo, o estádio Gasômetro. Não sei se sabes, porém foi aprovado na câmara de vereadores de Buenos Aires a lei de restituição histórica, que prevê que o clube pode voltar a sua antiga sede...

Abraço!

Michel Costa disse...

Sem dúvida, Douglas. A Juventus consegue lidar bem contra sistemas que não se encaixam em seu 3-5-2. No entanto, o tema central do post gira em torno da "febre 3-5-2" que invadiu a Itália, onde equipes que não necessariamente precisam adotar esse módulo, mas acabam mudando apenas por ser o sistema em voga.

Abraço.