sábado, 18 de janeiro de 2014

Tempo perdido

Duas semanas. Parece absurdo, mas esse é o tempo que as principais equipes do futebol brasileiro tiveram de preparação para o início da temporada 2014. Não por acaso, muitas irão começar a disputa dos campeonatos estaduais com times alternativos atuando em campos bizarros – ao lado, o estado do gramado do Estádio de Moça Bonita – enquanto os grupos principais treinam da melhor forma possível dentro de nossa realidade esdrúxula. No mundo ideal, planeta distante e desconhecido da cartolagem local, os mesmos times deveriam treinar por pelo menos um mês, completar a pré-temporada com amistosos para só então iniciar a temporada de fato. Ligas importantes do mundo inteiro funcionam assim e vão muito bem, por sinal.
Em suas entrevistas coletivas, os quatro técnicos dos maiores clubes de São Paulo não fugiram do tema. Nenhum deles considera suficiente o tempo destinado à pré-temporada e disseram que isso compromete a qualidade do que veremos ao longo do ano. Estreando uma coluna na versão brasileira do site da BBC, o jornalista inglês Tim Vickery reafirmou sua opinião de que os Estaduais deveriam acabar, pois, no atual momento, servem apenas para manter acesa uma chama histórica que não se justifica mais. E ele tem razão.
Muitos temem que o fim dos Estaduais representaria também o fim dos pequenos clubes que tanto contribuem para a grandeza do futebol brasileiro. Entretanto, é justamente o contrário. Grande parte dos times menores não tem atividades após o encerramento de suas etapas regionais. Para muitos atletas, quase todos mal remunerados, o ano termina em sua metade. Não há nem ao menos a chance de atuar durante toda a temporada regular. Uma triste realidade que CBF e federações ignoram quando pensam no calendário.
Bem mais significativo do que a sempre proposta redução de datas dos Estaduais seria a retirada dos grandes clubes deles e transformação dos mesmos em campeonatos regionais extensos que preenchessem todo o calendário dos times menores. Uma iniciativa que iria ao encontro das reivindicações do movimento Bom Senso FC, como uma proposta de um futebol melhor para todos. Ou, pelo menos, melhor para quem realmente se preocupa com ele.
Imagem: CBN

4 comentários:

Fabiano Dias disse...

Quando comecei acompanhar futebol, lá pelos anos 80, particularmente, acompanhava todos os estaduais, seja o Catarinense, e até os Paulista e Carioca, talvez até o fim dos anos 90 ainda acompanhava, depois comecei a perder a vontade de acompanhar pois já se via que os mesmos estavam ultrapassados. Hoje em dia, só acompanho as partidas do meu time e olhe lá. Se ganhar o estadual, beleza, é mais um título, mas se não ganhar, tudo bem, tranquilo. O que vale hoje em dia é o Brasileirão, mesmo que meu time venha a disputar o campeonato para fugir do rebaixamento desde a primeira rodada. O Brasileirão deveria iniciar já pelas primeiras semanas de fevereiro, depois de 30 dias de pré-temporada. Os estaduais deveriam ser alguma série do Brasileirão, talvez a série D ou E, ou classificatório para alguma dessas, sendo o estadual disputado durante o ano inteiro.

Michel Costa disse...

Concordo, Fabiano. Os Estaduais funcionaram bem até meados dos anos 1990. Jogos como Corinthians x Palmeiras em 93 ou o Fla-Flu de 95 merecem toda a repercussão que têm até hoje. Mas isso mudou. Com o Brasileirão de pontos corridos e o interesse cada vez maior pela Libertadores, os Estaduais passaram a ser muito mais um estorvo do que qualquer coisa. Sem eles, seria possível organizar um calendário decente onde aberrações como as que temos visto neste mês se tornariam coisa do passado.

Abraço.

Anônimo disse...

Estaduias mais curtos, com no maximo 12 datas e com a presença dos grandes
Depois disso cada federação organiza seus campeonatos durante o restante do ano

Michel Costa disse...

Também pode funcionar. Mas, se os Estaduais podem ser reduzidos a tão poucas datas, não seria porque o que os mantêm vivos é apenas a tradição?