Coluna destinada a comentar as opiniões emitidas pelo órgão responsável pela chegada de informações ao público aficionado por futebol: a imprensa esportiva. Afinal, bem ou mal, é através dela que tomamos conhecimento de (quase) tudo o que cerca o mundo da bola.
Nós, os nerds
É triste constatar, mas o futebol se tornou um mero entretenimento no Brasil. Pelo menos é o que pensa uma grande parcela da imprensa esportiva de nosso país. Para estes, a análise dos jogos, a preocupação com a tática e a informação estão em segundo plano. Nesse contexto, mais vale a pilhéria, a confusão, a polêmica e a especulação. Relevância? Para quê? Compromisso com a verdade? Bobagem. Vale tudo pela audiência e pelos cliques a mais.
Nesse contexto, quem se preocupa com a informação correta, com as análises mais profundas e quer distância do oba-oba instalado é tachado de nerd, mal-humorado e outros adjetivos pouco elogiosos. Como se fosse impossível levar o futebol a sério sem se tornar um idiota bitolado.
No último sábado, tive um nítido exemplo de como as coisas funcionam por aqui. Diante da má atuação do holandês Robin Van Persie na partida contra a Dinamarca pela 1ª rodada da Euro 2012, André Rizek, comentarista e apresentador do Sportv, desencavou a esfalfada comparação entre o atacante do Arsenal – artilheiro da última edição da Premier League com 30 gols – e o gremista André Lima, centroavante voluntarioso, mas limitado. Uma piada que, além de gasta, acaba deixando no ar que o comandado de Bert van Marwijk é um jogador superestimado por quem acompanha o campeonato inglês, algo que está longe de ser verdade para quem não é um espectador esporádico de futebol internacional. Tal episódio gerou um rápido diálogo no Twitter.
Ao contrário do que possa parecer, o pequeno debate não me irritou. Não tenho idade e nem paciência para discutir na internet. Esse momento só serviu para me dar mais uma amostra de como são vistas as pessoas que levam futebol a sério e não enxergam nesse esporte uma simples forma de entretenimento como um programa de auditório qualquer. A esses olhos, somos nerds que se importam demais com algo desimportante. Mas, se essa é a definição de um nerd do futebol, assumo esse rótulo com orgulho.
Ao contrário do que possa parecer, o pequeno debate não me irritou. Não tenho idade e nem paciência para discutir na internet. Esse momento só serviu para me dar mais uma amostra de como são vistas as pessoas que levam futebol a sério e não enxergam nesse esporte uma simples forma de entretenimento como um programa de auditório qualquer. A esses olhos, somos nerds que se importam demais com algo desimportante. Mas, se essa é a definição de um nerd do futebol, assumo esse rótulo com orgulho.
29 comentários:
No Brasil não se tem amor pelo conhecimento. Não só no futebol. Quem quer se aprofundar já é ridicularizado. Dizem que com bons técnicos o Brasil seria mais vezes campeão... não quero nem imaginar que treinadores virão com essa massificação da ignorância.
Ontem estava no trabalho e tinha uma TV ligada na Bandeirantes quando vi uma chamada do "novo" programa esportivo do canal, chamado Deu Olé; ele será apresentando pela belíssima Paloma Tocci e por duas figuras que mostram bem o momento atual do pensamento que você citou: Felipe Andreoli, membro de um dos programas mais supervalorizados (e mais sem graça) da TV brasileira e Denilson (esse já fazia palhaçada em campo, antes de ser "comentarista"); isso mostra que o que vale hoje em dia é "causar", aparecer na internet, ter repercussão, mesmo que seja em cima de bobagens e fazer gracinhas na TV.
Sobre o Rizek: Ele, além de ser um desastre no vídeo (é muito atabalhoado na TV, fala um monte de bobagens no comando do Redação Sportv) me passa a impressão de ser um pouco arrogante e mostra nesse episódio, ser corporativista e chapa-branca em relação aonde trabalha; essa crítica ao futebol do Van Persie me cheira a despeito em relação ao fato do Sportv não transmitir os melhores campeonatos europeus (não pode transmitir todos os jogos do Italiano), e com isso ficam nessa de tentar desmerecer o que acontece por lá, meio que para criticar indiretamente a postura mais abrangente, em termos de cobertura do fut.internacional, feita pelos canais ESPN. Além disso, ainda existe aquele ranço: "como pode um Holandês jogar mais que um centroavante que joga na Seleção Brasileira?"
O futebol não é uma coisa para ser discutida sempre de forma científica, mas ele, por ser tão global, tão apaixonante, se expandiu mais do que muitos "pachecos" daqui gostariam, portanto, saber o que acontece mundo afora é algo valoroso para quem gosta de verdade do esporte; pena que para grande parte da mídia brasileira, o que vale são "polêmicas" como "Vagner Love no Timão", entre outras patacoadas.
André Rizek é um bosta, essa que é a verdade. Não entende nada de futebol, trata-se de apenas mais um pacheco. Alex Escobar era um ótimo comentarista, conhecia os jogadores, até ser picado pelo mosquito chamado Leifert. Futebol é só fazer piadinha, etc...
Estava assistindo o Seleção Sportv, foi muito difícil suportar Renato Maurício Prado e André Rizek na mesma mesa. Não sem qual é pior. Chamar o Robin van Persie de André Lima holandês é um absurdo. Mal informado, não conhece nada. Tanto é que ele chamou o Dzagoev de DZOGOEV e disse que era um jogador CANHOTO. Detalhe, Dzagoev é destro, pouco depois do programa fez dois gols de pé direito. ¬¬
Estamos vendo algo do tipo no momento, Yuri.
Enquanto o futebol mundial caminha numa direção - compactação, volantes que sabem jogar, etc. - nossos técnicos não só não adotam tais medidas como se mostram arrogantes sempre que podem. Cheguei a escrever sobre isso aqui no blog, quando citei a bobagem de nossos "professores" que defendem a tese de que são melhores porque supostamente o futebol brasileiro é mais competitivo ou porque a exigência da cartolagem é maior.
Sei bem como as coisas funcionam da Band, Alexandre. Como almoço todos os dias em restaurante, assisto ao Jogo Aberto na esperança de extrair alguma coisa positiva além da bela Renata Fan. Saudade dos velhos programas do canal que, se não eram perfeitos, eram mais honestos com o público.
O Renato Maurício Prado é outro que irrita, Philippe. Não entendi por que o canal o enviou para a Euro. Se ele tivesse ficado por aqui comentando o Brasileirão seria bem melhor. Por outro lado, o Raphael Rezende está muito bem nos comentários.
Abraços a todos.
Concordo com texto, pude ver nos perfis ainda no sábado, sobre o que o Rizek disse, o que o Bertozzi disse no seu twitter naquele momento exemplifica bem isso: "Comentaristas bisextos". Eu confesso que também não entendi quando o RMP foi mandado para a Euro, mais fácil ter mandado apenas o Noriega, o Raphael Rezende e o Lédio, que demonstram conhecer bastante do assunto. Estou gostando bastante também do trabalho do Luiz Carlos Junior, que tenta demonstrar acertar a pronuncia dos nomes dos jogadores, e agrega a sua qualidade na narração (é o melhor narrador do canal, junto com o Rembrandt Junior).
Preferi assistir a Sportv em toda a cobertura da Euro (os jogos), a Band desmotiva a assistir, mesmo os jogos do Brasileirão (prefiro rádio ou mesmo buscar pela net). Apresentadores fracos, bobos e sem conhecimento sobre o que estão apresentando, apresentadoras bonitas, é verdade, mas muito ruins...
Teorias babacas do "Craque" Neto, comentários infames e sem noção do Denilson, o Mauro precisava comentar mais lá, é o único que se salva, porém não tem tanto espaço.
Mas uma duvida Michel: o que sabes bem que acontece bem na Band? Há coisas pessoas não sabem??? (perdoe-me a minha curiosidade momentânea...rs)
Abraços!!!
E você ainda tem paciência para discutir com jornalista que se acha o dono da verdade? A cada dia que passa, me decepciono cada vez mais com essa classe "operária" que trabalha na imprensa. São de uma arrogância extrema. Só porque tem milhares de seguidores no twitter, só porque tem um microfone para expor suas asneiras, só porque tem visibilidade na tv, se acham os reis da cocada preta.
Acho que o jornalismo esportivo escancarou uma coisa que se bem observada, poderá ser aplicada para TUDO o que está na mídia, que é: tem espaço quem não merece.
Você vê a galera underground do futebol e estes sabem mesmo muito mais que os comentaristas midiáticos e quanto MAIS midiático, mais ignorante, é quase proporcional. Claro que o esporte não seria isolado nisso, imagine também que quem comenta Economia, Educação e etc nos seus jornais favoritos é tão ignorante quanto um Neto, um Luciano do Valle. É um exercício interessante. Ensina realmente que você não deve dar bola para o que é mostrado e opinado na TV.
Raphael Rezende é uma grata surpresa para mim, o conheci a pouco tempo. Ele conhece bem os jogadores.
Caí na bobeira de ver Polônia e Rússia na Band, um show de desconhecimento. Ri muito com neto e Teo José errando os nomes toda hora. Kerzhakov virou Kerkov. hahaha
Também estou gostando da cobertura do Sportv, Douglas. É inegável a intenção de fazer um grande trabalho. Boa estrutura, muitos profissionais (alguns que destoam, é verdade) e bom espaço na grade.
Quanto à Band, não sei de nada além do que a maioria sabe. Discordo da forma que fazem jornalismo esportivo no canal, mas imagino que eles acreditam que é a fórmula que dá mais audiência.
Eu não discuti com Rizek, Fabiano. Apenas ironizei essa história de nerd. Como escrevi no texto, não tenho mais idade para brigar na internet... hehe.
Quanto ao citado jornalista, acho que ele quer é aparecer. O problema é que escolhe a forma mais tola possível.
Também tenho essa impressão, Yuri. Aliás, acho que esse é um tema ideal para o Maurício Stycer. Existe uma cultura do grotesco e do irrelevante. Isso vale para o futebol, novelas, noticiários e outros tipos de programas. Parece que chegaram à conclusão de que o povão só gosta de coisas assim. E, quando vejo a audiência do Pânico, percebo que elas não estão assim tão longe da realidade.
Neto é mesmo uma aberração como comentarista, Philippe. Outro dia, disse que a Inglaterra estava muito bem (?!) e que tinha um time forte. Obviamente, o ex-jogador não acompanhou nada do que se passou com o English Team nos últimos meses.
Abraços a todos.
Onde eu falei Rembrandt Júnior, entenda como Eduardo Moreno... (equívoco..rsrs)
Abraços!!!
Acho que meu comentário anterior não entrou, mas vou resumir a pergunta: o que vocês acham das midías esportivas da região de onde vocês são? Aqui no RS eu acho que é do nível Band para baixo...
Para vocês terem uma idéia, o Kléber "Gladiador" é tratado por aqui como "O CRAQUE".
Chega ser um acinte o tal de Neto ter espaço na mídia, por tudo que falam dele de envolvimento financeiro com negócios de jogadores (ainda que sem uma comprovação total), mas mais ainda por ele ser, como você disse Michel, uma aberração como comentarista, em todos os sentidos. O que o Yuri disse é perfeito: Vivemos uma era em que a mediocridade impera, decidiram que o povo, ou a chamada "nova classe C" gosta de lixo, então tome lixo (programas "engraçadinhos", palhaçadas, "polêmicas", isso em termos de esporte) para ela deglutir. Não é popularizar, pois se levassem a expressão ao pé da letra, ela não quer dizer que é transformar tudo em algo de baixa qualidade. E concordo também que o Rafael Rezende é um comentarista de bom nível, junto do Lédio Carmona são os melhores do Sportv qdo o assunto é futebol internacional, ainda que, a transmissão do Noriega que assisti (Espanha x Itália) foi até razoável, muito pela boa narração do Milton Leite.
E sobre os velhos programas da Bandeirantes, realmente não havia essa obsessão de criar polêmicas vazias, fazer graça e ofender times diferentes do preferido da maioria ali; havia uma imagem, que pode até ser um pouco idealizada do passado em que vivíamos sem TV por assinatura, mas era uma equipe, aquela do canal do esporte, que deixou uma boa marca. Além de que o nível dos participantes que eram ex-jogadores era outro (Gérson, Rivellino, Tostão...) Mesmo o Mário Sérgio sendo extremamente chato, ao menos na teoria, entendia de futebol (só qdo se meteu a ser técnico, foi muito mal...). Tinham algumas pessoas que se revelaram piores depois daquilo (Juarez Soares e Datena principalmente), mas na época fizeram bom trabalho.
Eu estou nessa, Michel. Sou nerd do futebol. André Ri que disse que faz piada para dar uma agitada. No twitter, fiz a seguinte pergunta: "Isso é jornalismo ou show da Ivete Sangalo ?"
Acompanho pouco a imprensa mineira, Repolho. Mas o pouco que vejo também não é muito animador. Com um agravante: Quando é assunto é política, a imprensa mineira é quase que totalmente pró-governo. Uma vergonha.
Pois é, Alexandre. O problema nem é a presença de ex-jogadores nos comentários, mas quem escolhem. O Zé Elias, ex-volante, é muito melhor do que essa galera da Band. Outro que poderia ser um bom comentarista é Belleti. Júnior e Caio também não são ruins. Sem falar no Tostão que dá aulas de futebol a cada coluna. A questão é que a emissora escolheu o tipo palhaço (Edmundo nem tanto) para comentar pela casa.
Pergunta bem pertinente, Danilo. Muitos ainda não entenderam a diferença entre esporte e entretenimento.
Concordo plenamente Michel sobre a postura da mídia mineira em relação à política; venderam a idéia de que "Minas tem de voltar a comandar o Brasil" e estão firme nesse projeto, sempre apoiando as medidas do atual grupo que está no poder, inclusive censurando opositores. A mídia, de modo geral, em termos políticos, é sócia do poder, mas em MG a coisa está descarada.
A coisa realmente está feia por estes lados, Alexandre. Talvez por ser um centro de menor exposição em relação a Rio e SP, o mainstream da imprensa mineira depende muito dos valores que o governo gasta com propaganda. Assim, dentro dessa relação, não há a investigação e muito menos a denúnica. Basta ver o que Anastasia tem feito com o servidor público enquanto a imprensa faz vista grossa.
Sou catarinense, faz um ano que vim morar em BH e sempre me disseram que "Minas tem os melhores políticos" (entre aspas é pra ironizar) para comandar o país, isso vem a calhar com o que disse o Alexandre, e mesmo morando a pouco tempo aqui, constatei exatamente isso. E a imprensa age de forma quieta, sem fazer alarde, sem denúncias etc.
Enfim, como vivemos num país-continente, temos algumas diferenças bairristas. No Rio Grande do Sul, mesmo que não declaradamente, a imprensa também vende a idéia do "Sul é o meu país". Aliás, com todo o respeito, mas o gaúcho em geral é o mais bairrista de todos, chegando ao nível de serem arrogantes em algumas situações.
Fabiano, como gaúcho concordo plenamente contigo e acho esta postura muito retrograda por parte da midia e também da maioria dos habitantes daqui.
É por esse bairrismo idiota que o Estado esta metido em disputas vazias e o povo não consegue ver a quantidade absurda de problemas que existem no estado, tudo em prol do "o RS é o melhor".
Politicamente falando a midia gaúcha esta quase sempre com a direita, a favor do liberalismo e coisas do genêro. Só por aqui o mair jornal do estado consegue fazer uma matéria que só faltou chamar o pessoal daquele atropelamento coletivo de ciclistas de bardeneiros e desordeiros. Tudo é sempre a favor do "status quo".
Pois é Repolho, em cada estado temos algumas características bairristas. Só citei MG e RS, porque atualmente moro em MG, e como morei 9 anos em Floripa, lá tem muitos gauchos. Dae fica fácil de constatar isso né. E a imprensa de cada um vende como quer o seu estado, as vezes, de forma errada. Floripa é linda, tem uma paisagem vislumbrante, mas o seu povo, ah o seu povo. Melhor deixar quieto hehehee.
Voltando ao tópico, sobre a nerdice. Declaro que também sou nerd, pois fico atento a mínimos detalhes, como calendário, organização das competições, enfim tudo mesmo o que esta relacionado ao futebol, e claro em esquemas táticos, formas de jogar, etc. Vejo o futebol assim, como um esporte mesmo, e não como um entretenimento. Sinto saudades do Canal do Esporte, com aquela equipe comandada por Luciano do Valle. Eles sim faziam o futebol e o esporte em geral parecer um pouco de entretenimento, mas da melhor forma possível, com respeito ao público, sem essas palhaçadinhas de hoje em dia.
Fabiano e Repolho,
Tenho um amigo gaúcho que sempre comenta essa característica do sulista de dizer que tudo no RS é melhor. Certa vez, usei aqui no blog a expressão que fala sobre a grama do vizinho sempre mais verde (o assunto era a Seleção Brasileira, acho) e logo veio o exemplo de que no Sul as coisas não funcionam assim.
Quanto à Band, também gostava dessa época. Antes da TV por assinatura, a emissora paulista tinha a melhor transmissão esportiva do País. As coberturas que eles faziam das grandes decisões eram quase primorosas. Hoje temos apenas uma caricatura daquilo.
Abraços.
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