O programa Linha de Passe de segunda-feira
(08/12) marcou a última aparição ao vivo do comentarista Paulo Vinícius Coelho na
ESPN Brasil. Um dos principais nomes do jornalismo esportivo brasileiro, PVC,
como é chamado, sempre se destacou dos demais profissionais da casa por sua
memória prodigiosa, seu poder de argumentação baseado mais em fatos do que em
achismos, sua visão tática, sua rede de informantes que o permite estar quase sempre
à frente das notícias e, por que não dizer, por seu carisma. A partir de
janeiro de 2015, Paulo será mais um integrante do Fox Sports, um grande
reforço, vale ressaltar.
Não cabe neste espaço especular os motivos
que levaram à sua saída. Meus breves contatos com ele foram através de e-mails
e Twitter. Até mesmo suas bem traçadas linhas na contracapa do livro “É Tetra!”
foram por intermédio do amigo André Rocha. Sendo assim, a intenção deste post é
tentar dimensionar o que a saída de PVC significa para a ESPN nacional que há
poucas semanas também perdeu os direitos da UEFA Champions League para o Grupo
Turner/Esporte Interativo, assim como já havia perdido a Serie A italiana e a
Bundesliga para a Fox.
Os fãs do esporte mais atentos devem ter
percebido as mudanças ocorridas na ESPN Brasil após João Palomino assumir o
posto de diretor de jornalismo antes ocupado por José Trajano. Visando aumentar
a audiência, Palomino promoveu diversas alterações na programação deixando de
lado o ambiente quase artesanal que tão bem identificava o canal tornando-o
mais próximo do que o SporTV, seu maior concorrente, sempre fez. Paralelamente,
as edições do aclamado Bate-Bola se espalharam por toda a grade promovendo
horas e horas de debates que na maioria das vezes são apenas comentários em
sequência sem nenhum tipo de embate de ideias.
Talvez por isso tenha me chamado tanto
a atenção a troca de PVC da segunda para a terceira edição do Bate-Bola. Na
versão vespertina, Paulo Vinícius e Mauro Cezar Pereira frequentemente confrontavam
seus pontos de vistas em acalorados debates nos quais o assinante só tinha a
ganhar. Com a separação dos parceiros dos tempos de Placar, as atrações se
tornaram cada vez mais estéreis e, por que não dizer, descartáveis. Hoje, o melhor
programa diário dos canais esportivos é o Redação SporTV e seu formato ágil e
informativo. Justamente o que a ESPN perdeu.
Numa das últimas edições do Linha de
Passe, José Trajano, um dos fundadores do canal, disse em tom de lamentação que
o jornalismo que ele mais admira é o investigativo, com o repórter indo ao
encontro da notícia e não com comentaristas num estúdio. Pelo visto, esse
caminho não será mais seguido pela ESPN Brasil, talvez excetuando o notável trabalho
investigativo de Lúcio de Castro. Com a perda de tantos campeonatos
importantes, a solução mais provável é que os programas de debate ganhem ainda
mais destaque. Nem que seja para falar sobre as competições mostradas pela
concorrência.
Imagem: Reprodução ESPN