Em quatro
partidas, quatro vitórias, oito gols marcados e nenhum sofrido. No caminho,
rivais como Colômbia e Argentina foram abatidos. Esse é o saldo da nova Seleção
Brasileira novamente sob o comando de Dunga. Mas, por que isso não parece ser
suficiente para convencer público e crítica? Quem ouve os principais
comentaristas ou lê os maiores colunistas tem a impressão de que os resultados
têm pouca ou nenhuma importância dentro do cenário pós-Copa. E não é difícil
entender os motivos.
Há anos o
Brasil vive o mesmo dilema: Queremos mudança nos rumos do futebol, mas não
temos dirigentes e técnicos capacitados para a missão. Para piorar, muitos
desses cartolas e profissionais simplesmente não identificaram a existência do
problema e seguem como se ainda detivéssemos o principal campeonato do planeta.
E, de certo modo, a Seleção representa o consolidado de tudo o que tanto se
critica no futebol brasileiro e que precisa ser mudado. E talvez esteja aí o
nosso erro.
Desde a
era Guardiola no Barcelona, passando pela ascensão da Espanha até o
ressurgimento da Alemanha, um modelo de jogo se tornou uma espécie de ideal
imaginário para o Brasil. Ou melhor, parece ter se tornado a fórmula única para
a retomada do estilo há muito perdido. Era como se a adaptação de jogadores de
estilo rápido e vertical que produzimos nas últimas décadas para um estilo
voltado para o toque de bola fosse uma simples questão de opção do treinador da
vez. Infelizmente, a vida real não funciona dessa forma.
A Seleção
é o topo da pirâmide. Uma equipe formada por atletas que militam em diversas
partes do mundo, mas com uma característica em comum. São jogadores que, em sua
maioria, possuem um estilo de jogo vertical, de condução de bola e afeito ao
contra-ataque. Assim são Neymar, Diego Tardelli, Oscar, Philippe Coutinho,
Willian, Hulk, Robinho, Kaká e Lucas Moura. Paulo Henrique Ganso é um dos
poucos a exibir um repertório diferente. E talvez justamente por isso não faça
parte dos planos imediatos de Dunga.
Neste
cenário, nada mais lógico do que vermos o técnico estruturando seu time para
marcar forte e aproveitar os espaços. Com os jogadores que temos, esse é o
caminho mais natural a seguir. Além disso, equipes como Chelsea, Real Madrid,
Atlético de Madrid e Borussia Dortmund mostraram, recentemente, que é possível
vencer de outras formas, desde que não se perca de vista conceitos básicos do
futebol atual como organização, compactação, intensidade e jogo coletivo. Isso
não quer dizer que nunca mais haverá uma filosofia propositiva no Brasil, mas
essa revolução só será possível a partir da base. De baixo para cima.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: Sportv