Ao contrário do que ocorreu com Mano Menezes em
seu início de trabalho na Seleção Brasileira em 2010, quando partiu quase do
zero, os convocados por Luiz Felipe Scolari para o Mundial de 2014 devem formar
a base da equipe que tentará recuperar o prestígio perdido no ciclo que se
encerra na Copa do Mundo de 2018. À sua disposição, o técnico Dunga terá ao
final de quatro anos um grupo que estará num estágio mais amadurecido do que
foi visto recentemente em território brasileiro. Obviamente, se o ex-capitão
chegar até lá.
Nos últimos dias ficou ainda mais evidente que
Dunga não conta com a aprovação da imprensa esportiva. Não pelos fatos expostos
de sua vida, que têm moderada relevância, mas pela maneira como estão lidando
com eles, a ponto de haver sugestão paraque o treinador renuncie antes mesmo de estrear. Nesse cenário, está claro
que apenas uma sequência de bons resultados e, sobretudo, bom futebol vai
proteger o técnico das críticas que vão acompanhá-lo até o fim de seu contrato.
Por tanto, é possível que tenhamos força máxima desde o início e não uma
estrutura de transição.
Da equipe titular comandada por Felipão, nomes
como Thiago Silva, David Luiz, Marcelo, Luiz Gustavo, Paulinho, Oscar, Hulk e
Neymar provavelmente seguirão formando a espinha dorsal do novo time. Além
deles, os goleiros Victor e Jefferson e os meia-atacantes Willian e Bernard têm
condições de fazer parte do projeto. No entanto, veteranos como Júlio César,
Daniel Alves, Maicon, Maxwell e Fred deverão ter suas vagas cedidas aos jovens
que estão surgindo. Por sua vez, Dante, Fernandinho, Ramires e Hernanes, pela
faixa etária, precisarão continuar correspondendo em seus clubes, enquanto
Henrique e Jô, que só foram chamados por contarem com a confiança do ex-técnico
brasileiro, dificilmente serão lembrados novamente.
Entre retornos e novidades, os arqueiros Cássio, Diego
Alves e Marcelo Grohe saem na frente por oportunidades. Os jovens Rafael
Cabral, Neto e Gabriel são outros que podem aparecer em breve nas listas de
convocações. Para o centro da defesa, Miranda e Dedé surgem com evidência, mas
Marquinhos e Rodrigo Caio, ambos com 20 anos, e o botafoguense Dória, 19, têm a
idade e o sonho olímpico a favor.
Na lateral direita, talvez resida a posição com
maior margem para experimentações. Com as possíveis aposentadorias de Daniel
Alves e Maicon da camisa amarela. Marcos Rocha, Danilo e Mário Fernandes, este
também na mira da Seleção Russa, despontam como favoritos. Rafael da Silva, outro
lateral frequentemente lembrado, tem contra si a irregularidade que marca sua
trajetória no Manchester United. No lado oposto, Filipe Luís, Alex Sandro e
Alex Telles são opções interessantes para a disputa com Marcelo.
Muito contestado durante a Copa do Mundo, o
meio-campo da Seleção requer cuidados. Dunga não foi um volante brilhante, mas
sabe que o coração do jogo reside ali. O técnico dificilmente abrirá mão de um
volante marcador, o que implica que Luiz Gustavo possivelmente seguirá no time.
Todavia, isso não significa que deixará o setor esvaziado de talento. Durante
sua primeira passagem, fazia uso de um 4-3-1-2 que se convertia num 4-2-3-1 com
Elano abrindo pela direita e Robinho pela esquerda. Nas duas formações,
preocupação com o preenchimento do meio campo. Deste modo, volantes mais técnicos
como Rômulo, Souza (São Paulo) e Lucas Silva adquirem boas perspectivas. Mais à
frente, Ganso volta à pauta, assim como Lucas Moura, Philippe Coutinho e Roberto
Firmino, quase desconhecido no País, mas de grande destaque no Hoffenheim e
cobiçado por gigantes europeus.
No ataque, a carência de centroavantes pode fazer
com que Neymar atue como o jogador mais adiantado da equipe, função já testada por
Mano Menezes. Não como “falso 9”, mas como um atacante móvel. Por sua entrega e
participação sem bola, Hulk deve continuar, porém, precisa mostrar o poder de
decisão que o destacou no Porto. Outros avançados que podem surgir futuramente são
Luiz Adriano do Shakhtar Donetsk e a joia santista Gabriel. Como se nota,
talento não falta. A maior parte desses atletas atua em altíssimo nível na
Europa e o grande desafio é transformá-los numa equipe competitiva. Dentro de
seu estilo, Dunga é capaz de cumprir essa missão. Resta saber se terá tempo
para isso.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: AP