Quando Luiz
Felipe Scolari apontou o Chile como o adversário mais difícil para o Brasil
numa eventual disputa de oitavas de final, muitos acharam graça. Quem sabe, uma
estratégia do experiente treinador. Este colunista entendia que o estilo do
rival sul-americano era o que melhor se encaixava com o tipo de futebol que a
Seleção Brasileira pratica. Talvez fosse a forte lembrança da equipe comandada
por Marcelo Bielsa que partia para o ataque e oferecia espaços para contragolpes.
Não foi o que se viu no Mineirão na tarde de hoje. Mais do que nunca, o time de
Jorge Sampaoli foi um duro oponente, somente batido nos pênaltis.
As
estatísticas dizem que a Seleção Brasileira teve um aproveitamento de apenas 68%
nos passes. O pior desempenho nesse fundamento desde o Mundial de 1966. Um
reflexo de que a entrada de Fernandinho no time não foi suficiente para
resolver o crônico problema da saída de bola, algo que, logicamente, não se
resolveria de uma hora para outra, já que existe uma forma estabelecida de
jogar e isso dificilmente mudará sem muitos treinos. Outra estatística, esta
quase ignorada, foram as de finalizações. O Brasil concluiu 23 vezes contra a
meta de Claudio Bravo, 13 no alvo. O Chile, mesmo com 51% de posse de bola, finalizou
em 13 ocasiões, apenas cinco contra Júlio César. Numa delas, Alexis Sanchez empatou
o jogo.
Números à
parte, não se deve perder de vista a força do Chile que dominou a partida por
um grande período e esteve a um travessão da vitória. Em outras oportunidades os
comandados de Jorge Sampaoli enfrentaram selecionados tradicionais e também
foram melhores. Como na derrota por 1 a 0 para a Alemanha num amistoso em Sttuttgart,
quando os visitantes colocaram os germânicos em sérias dificuldades e saíram de
campo aplaudidos. Ou, para ficar num exemplo mais recente, a categórica vitória
que eliminou a campeã Espanha. Um estilo tão agressivo que fez com que o treinador
holandês Louis van Gaal os classificasse como “fanáticos”.
Contudo, a
constatação do poderio chileno não pode esconder que, além das dificuldades
encontradas com a bola, a Seleção Brasileira também não se mostra
emocionalmente estável. Possivelmente, o peso de disputar um Mundial em nossos domínios
faz com que a pressão natural que um pentacampeão enfrenta a cada Copa seja
ampliada ainda mais. E, ao que tudo indica, esse fardo se tornou pesado demais
até para um grupo cuja maioria é composta por atletas acima dos 25 anos. Na
próxima sexta-feira, o Brasil terá mais um desafio complicado ao se defrontar
com a sensação Colômbia, dona do melhor desempenho defensivo e ofensivo do
torneio. Uma barreira que pode ser ultrapassada, desde que a Seleção não
esbarre nos próprios bloqueios.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: FIFA.com