Para um fanático por
futebol, a Copa do Mundo é muito mais do que um evento esportivo. É um período
para se tirar férias do trabalho e só sair de casa para tratar de assuntos
estritamente necessários. São semanas mágicas, onde um jogador consegue deixar
o mundo mortal para fazer parte do panteão dos Deuses da Bola e, de quebra,
transformar um país inteiro numa grande festa. É uma época para se rir, chorar,
se emocionar. Um momento que será guardado para sempre em nossos corações...
Vai ter Copa, mas não
como gostaríamos
A última edição da coluna “Contagem Regressiva” abre
mão de analisar o apronto final das 32 seleções que disputarão o Mundial e
viaja ao passado. Quando o Brasil foi anunciado em 2007 como o país-sede da
Copa do Mundo de 2014 havia a promessa e a realidade. Promessas de um torneio
custeado por recursos privados que se somariam a recursos oriundos de parcerias
público-privadas e deixariam um imenso legado para as cidades-sede como melhorias
nos aeroportos, no transporte urbano, na rede hoteleira e nas estruturas anexas
aos novos estádios. Mesmo com um olhar desconfiado, era impossível que um
fanático por futebol não se empolgasse com a ideia de um evento tão grandioso
em seu território e ainda mais com os benefícios dos legados.
Infelizmente, a realidade não demorou a surgir no
horizonte. Assim como o malfadado Pan-Americano do Rio de Janeiro, foi se
tornando cada vez mais evidente que os verdadeiros legados seriam apenas as
novas arenas construídas ou reformadas para a Copa. No entanto, a oportunidade
inerente de se fomentar o futebol em estados como Amazonas, Mato Grosso e
Distrito Federal não passou de um sonho. Com isso, salvo por esporádicas visitas
de grandes equipes brasileiras, é muito provável que os estádios de Manaus,
Cuiabá e Brasília se tornem pesados elefantes brancos.
Há, contudo, a necessidade de se distinguir o que de
fato existe em relação aos gastos públicos envolvidos nesse processo e o que
não passa de desinformação. Ao contrário do que se diz, os recursos financeiros
investidos não vão “quebrar o País”. Há alguns dias, a Folha de São Paulo publicou uma matéria indicando que os investimentos naCopa (aproximadamente R$ 26 bilhões) equivalem a um mês de gastos com educação.
Além disso, dentro desse montante encontram-se os valores referentes aos
empréstimos do BNDES que deverão ressarcidos. Paralelamente, também haverá o
retorno desses investimentos com a movimentação de inúmeros setores de nossa
economia, onde estudos apontam cifras que giram entre 142 e 183 milhões de
reais. Obviamente, apesar o otimismo nas projeções, é evidente que haverá
retorno.
Mas a questão central não é essa. Ou melhor, não
deveria ser essa. O Brasil teve em suas mãos a maior oportunidade de sua
história para fazer algo extremamente relevante para sua infraestrutura e seu
futebol. Em termos estruturais, começam a surgir informações mais concretas do
que todos desconfiavam. Um relatóriopreliminar do Tribunal de Contas do Distrito Federal indicou um sobrepreço deR$ 431 milhões na reforma do Mané Garrincha, o estádio mais caro do
Mundial. Porém, também por pressão política, tais investigações não foram para
frente e ficaram apenas no âmbito do edital da obra.
No que tange o esporte, tivemos a chance de
organizar um calendário mais racional, de traçar projetos que estimulassem o
futebol nas regiões onde o esporte não é tão desenvolvido e ainda apresentar à
população estádios adaptados aos novos tempos e demandas. De tudo isso, somente
as arenas estão presentes. No entanto, sem a contrapartida de ações que
reaproximassem o público dos campos, sobretudo da população menos favorecida, o
objetivo final não foi alcançado. Numa declaração bastante infeliz, o coordenador
técnico da Seleção, Carlos AlbertoParreira, definiu a CBF como o “Brasil que dá certo”. Depende do ponto de
vista. No que diz respeito ao faturamento da entidade, sem dúvida é um sucesso.
Para o futebol brasileiro ela continua dando errado. E há muito tempo.
Imagem: Página do Partido
dos Trabalhadores